Através das oliveiras

coded by ctellier | tags: | Posted On sábado, 30 de outubro de 2010 at 20:55

meteorologia: chuva... e que chuva...
pecado da gula: pão na chapa com manteiga
teor alcoolico: 2 stella artois, 1 dose de the famous grouse
audio: nerdcast #233

Através das Oliveiras (Zire darakhatan zeyton), direção Abbas Kiarostami

Assisti a esse filme há uns 10, talvez 12 anos. Gostaria de revê-lo, mas não o encontrei na lista do NetMovies, nem em lojas virtuais. Mas graças ao tio Torrent, consegui assisti-lo novamente. Apesar de pouco ter visto do cinema iraniano, o que vi sempre foi de meu agrado. E com o filme de Kiarostami não foi diferente.

Lembrava, da primeira vez que assisti, do inusitado da estória e da simplicidade e singeleza como foi contada. É pura metalinguagem. Como se fosse um documentário, é um filme contando a estória da “feitura” de um filme, desde a escolha do elenco até a direção dos atores, escolhidos entre os habitantes da cidade selecionada como locação. Durante a filmagem, é mostrado o passo-a-passo da gravação de uma única cena, repetida à exaustão, gesto por gesto, fala por fala, tomada por tomada.

O inusitado fica por conta do casal protagonista. Se, no filme dentro do filme, eles representam um casal recém-casado logo após o terremoto que atingiu a cidade, na “vida real” não são um casal apesar de o rapaz (Hossein) tentar convencer a moça (Tahere) do seu amor, implorando para que se case com ele. Percebe-se que ele erra as falas propositalmente, a fim de ter mais tempo ao lado dela, tentando retardar a separação - inevitável ao final da filmagem. É interessante como a realidade é interrompida pela ficção tão amiúde, sem qualquer cerimônia. As tentativas de aproximação de Hossein são entrecortadas pelas gravações das cenas. É poético e, ao mesmo tempo, chega a ser engraçado, acidamente engraçado.

O fio narrativo é amarrado de forma bastante imaginativa. A ausência de movimentos de câmera mais ousados ou de qualquer efeito especial demonstra que a simplicidade é tudo, reafirmando o tom documental do filme. Para se contar uma boa estória nada mais é necessário além de “uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”. É essa despretensão que faz o filme ser tão agradável de assistir. E fica a questão, afinal é tudo ficção ou um retrato da realidade pós-terremoto daquela pequena cidade iraniana?



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Sapatilha de estimação

coded by ctellier | tags: | Posted On terça-feira, 26 de outubro de 2010 at 22:29

meteorologia: tempo estranho, frio e calor
pecado da gula: pão de queijo
teor alcoolico: 1 caipirinha
audio: nina simone

Não, o post não é sobre balé. Mesmo porque eu sou descoordenada demais pra dançar qualquer estilo, quanto mais balé. Admiro quem consegue, mas não é pra mim.

O assunto do post são as sapatilhas de ciclismo. Consideradas item supérfluo por alguns e imprescindível por outros. Certamente os que as consideram como dispensáveis o fazem por basicamente dois motivos, ou nunca usaram ou não pedalam com frequência e/ou intensidade suficiente que justifique o uso. Concordo que, pra quem só vai ao parque no domingo dar um passeio de 20 ou 30min. a uma velocidade média de 15km/h, a sapatilha é realmente desnecessária. Os que pedalam com certa frequência - mais do que um passeio dominical - mas nunca experimentaram usar sapatilha, também têm a tendência a afirmar que um tênis comum é mais que suficiente. Para os primeiros seu uso simplesmente não se justifica, uma vez que o passeio pode ser feito até calçando um chinelo ou mesmo descalço. Para os outros, basta utilizar uma ou duas vezes para que ocorra uma mudança de opinião.

Eu não tinha o hábito de pedalar, não na rua. Fazia aula de spinning na academia quase todos os dias. Justamente por esse motivo, um dos professores recomentou o uso da sapatilha. Não colocava fé numa mudança significativa. Mas fui surpreendida. E tornou-se um hábito usá-la sempre para pedalar.

Com a inauguração da Ciclovia do Rio Pinheiros, cuja entrada fica a poucos minutos da minha casa, adquiri uma bike e me acostumei a pedalar lá sempre que possível, em geral, 3 a 4 vezes por semana. Primeiro, porque pedalar é sempre divertido. Segundo, para incrementar minha performance na corrida, estimulando outros grupos musculares que não os utilizados nos meus treinos habituais. E a primeira coisa que fiz com a magrela, antes de sair pra pedalar, foi trocar os pedais por um par daqueles com presilhas para os taquinhos da sapatilha.

Faço parte da parcela de ciclistas que considera a sapatilha indispensável. Melhora a postura na pedalada já que os pés ficam corretamente posicionados no pedal. Elimina a preocupação com a possibilidade do pé escapar do pedal, durante um sprint ou subindo uma ladeira. E já tinham me falado que aumenta a potência da pedalada, minimizando o esforço. Anteontem confirmei empiricamente essa afirmação. Ciclistas amadores, como eu, têm o hábito de apenas empurrar o pedal para baixo ao pedalar. Parece um pouco óbvio, já que pedalando sem sapatilha, é o único movimento possível. O que a sapatilha nos proporciona é a possibilidade de “puxar” o pedal para cima na segunda fase da pedalada, uma vez que ela está presa a ele. Domingo, na ciclovia, ao voltar da Vila Olímpia, o vento estava soprando contra. Mas não era uma brisa, era um vento forte. E manter a velocidade da bike estava bem difícil. No meio do caminho, já estava com as pernas cansadas de tanto fazer força no pedal. Quase desistindo e já pensando em descer da magrela e voltar andando, achei que talvez puxar o pedal ajudaria um pouco. E não ajudou um pouco, ajudou muito. Aliás, diminuiu o esforço quase pela metade. Como qualquer equipamento, saber usar, ou melhor, saber fazer uso completo dele faz toda a diferença.

O modelo que eu uso é esse aí da foto. É o que chamam de sapatilha tipo tênis. O taquinho fica "embutido" no solado, permitindo andar a pé normalmente. Diferente das demais, em que o taquinho é saliente e se é obrigado a andar quase como um palhaço a fim de evitar escorregar e/ou tropeçar.

Eu, que já gostava de pedalar usando sapatilhas, não vejo outra forma possível além dessa. Lógico que, como tudo, tem seus inconvenientes. Atire o primeiro taquinho o ciclista que nunca levou um tombo por não conseguir soltar a sapatilha a tempo. Eu já tomei dois. Pior que o incômodo da queda é o mico de tombar feito uma árvore morta, totalmente sem ação enquanto o chão se aproxima. Mas faz parte. O benefício compensa. E não é um raladinho no joelho que vai me fazer mudar de idéia.

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District 9

coded by ctellier | tags: | Posted On segunda-feira, 25 de outubro de 2010 at 20:52

meteorologia: tempo indeciso.. fez frio, fez calor, fez frio de novo
pecado da gula: x-tudo
teor alcoolico: 2 stella artois
audio: nerdrops #66
video: lost season 06

District 9, direção Neill Blomkamp

Havia lido algumas críticas bastante favoráveis ao filme e a premissa me pareceu bem promissora: uma raça alienígena que chega à Terra como refugiada que, apesar de absorvida pela sociedade, é vítima de manifestações intensas de xenofobia e segregação social. E, pasmem, a nave extraterrestre não está sobre New York, Washington ou qualquer outra capital americana. Ela paira sobre a maior cidade da África do sul, Johanesburg. Óbvia referência à política de apartheid que vigorou no país durante anos, o filme nitidamente coloca os aliens como representantes das minorias subjugadas às classes dominantes. Há também referências aos campos de concentração nazistas, à limpeza étnica, aos guetos, às condições subumanas a que se sujeita grande parte da população de países do Terceiro Mundo - ver adultos e crianças aliens catando comida no lixo é chocante. Só pela capacidade do roteiro suscitar tais referências já é um grande mérito do filme.

Apesar de toda a temática social do pano de fundo, o filme não é um drama denso. É ficção científica de qualidade, com direito a cenas de ação e tiroteios. E consegue ser bastante verossímil no estilo narrativo escolhido. A exemplo de outras produções - The Blair Witch Project e Cloverfield, por exemplo - o filme convence bem no formato de pseudo-documentário (descobri que se chama mockumentary). Conseguiria se passar facilmente por um desses documentários da Discovery ou da National Gegraphic. A fotografia com paleta desbotada e "seca" dá o tom de realismo necessário. Apesar de em alguns momentos ser utilizada uma montagem convencional, o que não chega a enfraquecer muito a narrativa.

O elenco desconhecido dá conta do recado, apesar de alguns deslizes perdoáveis. Destaque para o protagonista, Sharlton Copley como Van De Merwe, que consegue dar ao personagem todas as nuances de caráter, que vão se modificando no decorrer da estória.

Despretencioso em sua concepção, revela-se uma grata surpresa. Realmente muito bom.
Vale a pena assistir.

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