Marcas da violência

coded by ctellier | tags: | Posted On sábado, 20 de fevereiro de 2010 at 20:18

meteorologia: calor que não termina
pecado da gula: pastel de feira
teor alcoolico: algumas itaipavas
audio: dudecast #41
video: poker after dark

Marcas da violência, direção David Cronenberg

Esperava bem mais desse filme. Não que o filme seja ruim, não é. É apenas convencional demais, peca pela falta de originalidade, se comparado aos demais. Com bons títulos em sua filmografia como o ótimo Scanners, o ambíguo M.Butterfly, o bizarro Dead Ringers, o violentíssimo Crash e mesmo o insosso The Fly, Cronenberg deixou a desejar.
A primeira cena é exatamente o que se espera de um filme dirigido por ele, densa, violenta, crua e sem eufemismos. Leva-nos imediatamente a nos questionarmos sobre a natureza de homens que encaram a morte, ou melhor, o ato de matar, com tanta naturalidade, como parte do seu cotidiano. E como nós, meros expectadores, encaramos essas cenas de violência cada vez mais com uma indiferença exasperadora. É tão corriqueiro assistirmos, que já não nos choca. E, infelizmente, ao presenciarmos imagens semelhantes em telejornais, possivelmente pela semelhança da mídia, tal violência não gera mais tanta comoção. Como nos colocar no lugar da vítima, se já estamos tão habituados a assistir tais cenas como sendo parte de uma ficção?
Apesar do início promissor, o restante da película parece carecer de uma estória, apresentando apenas uma sucessão de acontecimentos. A falta de um clímax e a rapidez com que termina (apenas 1:30 de filme) deixam aquela impressão de "ué! já terminou? assim, sem mais nem menos?". Mesmo a crise de consciência do personagem vivido por Viggo Mortensen, Tom Stall, é tratada tão superficialmente que parece pouco importar no decorrer dos eventos. Nem mesmo a dualidade entre a aparência pacata de Stall e a violência e eficácia com que age contra os "bad guys" é explorada o suficiente, pois em momento algum o roteiro conduz o expectador a confrontar as ações de Stall com a cena inicial. Em certo ponto, pareceu-me que a única questão importante era se Stall era um matador ou não.
Não me arrependi de ter assistido. Mas fiquei decepcionada. Definitivamente, não parece um filme de Cronenberg.

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Mardi gras - aujourd'hui on fait des crêpes

coded by ctellier | | Posted On terça-feira, 16 de fevereiro de 2010 at 19:12

meteorologia: verão eterno
pecado da gula: crêpes, crêpes, crêpes
teor alcoolico: caipirinhas... com muuuuito gelo
audio: losties e01
video: marcas da violência

Conforme a tradição francesa, hoje é dia de reunir a família, os amigos e fazer panquecas.
Ainda não visitei "a terrinha", mas minha mãe trouxe o hábito na bagagem, quando veio para cá há 60 anos. Nas minhas memórias mais remotas, não me lembro de uma terça-feira de carnaval sem panquecas.
Na verdade, os crepes não têm ligação direta com a comemoração do carnaval. A conexão é com a Chandeleur (fête des chandelles), uma festa francesa que ocorre na véspera do início da quaresma. Aparentemente, havia um mito antigo de que quem não comesse crepes nesse dia, arruinaria sua colheita de trigo no ano.
Independente da origem do costume, há algumas simpatias associadas à "feitura" dos crepes. Uma delas, que já presenciei, apenas de não ser o usual aqui em casa, é juntar os convidados na cozinha e cada um fazer uma panqueca. Deve-se fazer um desejo antes de jogar o crepe para cima. Se cair do lado certo e aberto, o desejo se realizará. Caso contrário, só no próximo ano, hehehe.

Esta é a receita que eu uso hoje. Mais simples e mais rápida de fazer que as mais tradicionais.

Ingredientes
4 ovos
1 pitada de sal
meia xícara (chá) de açúcar
1 lata de creme de leite
1 xícara (chá) de farinha de trigo
manteiga para fritar

Modo de preparo
Bata no liquidificador os ovos com o sal, o açúcar, o creme de leite, a farinha de trigo e deixe descansar por cerca de 30 minutos.




 A minha massa já descansou. Vou lá fazer os crepes.


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Caché

coded by ctellier | tags: | Posted On domingo, 14 de fevereiro de 2010 at 20:34

meteorologia: calorrrrrrrrrrrrrrr
pecado da gula: brigadeiro
teor alcoolico: várias itaipavas
audio: nerdcast 197
video: EPT San Remo

Caché, direção Michael Haneke

Veio-me à lembrança, ao ler uma matéria sobre o novo filme desse diretor. Assisti-o já há algum tempo. Na ocasião, não sabia nada sobre o filme ou o diretor, aluguei simplesmente pela presença no elenco de meus dois atores franceses prediletos atualmente: Juliette Binoche e Daniel Auteil. E não foi perda de tempo assisti-lo. Aliás, vale revê-lo sempre que possível.
O filme é todo minimalista. A estória é simples. O elenco é pequeno. Há poucas locações externas. Não há trilha sonora. Os planos são longos, sem os cortes frenéticos da maioria dos filmes atuais. Não há diálogos em excesso, fala-se apenas o essencial. Efeitos digitais foram deixados totalmente de lado. Sem movimentos de câmera mirabolantes. Não há reviravoltas no roteiro a fim de surpreender o expectador. Ascetismo total. Não há desperdício.
A atuação do elenco está primorosa, não só dos protagonistas, mas também dos coadjuvantes.
Apesar de simples, a estória não é simplista. Há muito mais a descobrir nas entrelinhas do que dá a entender inicialmente. A princípio, parece apenas mais um filme policial, com uma família burguesa descobrindo-se observada e vigiada por um desconhecido. À medida que a estória avança, percebe-se que não é só isso. Esses eventos desencadeiam um estado constante de suspeita e paranóia, minando o cotidiano da família. Há a crise de confiança do casal, quando a esposa descobre que o marido sabe mais do que deixa transparecer. Há a crise familiar, quando o filho passa a noite fora ao se dar conta da instabilidade do relacionamento dos pais. E finalmente, ao descobrirmos (ou não), junto com o personagem, a origem daquelas fitas de vigilância, o roteiro nos leva ao entendimento de algo que vai além de uma travessura ou mal feito infantil. Há o preconceito, a intolerância, a fobia de outras culturas, o receio de uma nação de ser invadida por outras etnias. Está tudo ali.
Palavras do diretor: “Nenhum cineasta mostra a realidade, apenas a sua imagem manipulada; também me arrisco a manipular o espectador, mas o faço com o objetivo de estimulá-lo à reflexão, de levá-lo a pensar no que está vendo.”



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Anjos e demônios

coded by ctellier | tags: | Posted On at 10:29

meteorologia: e o calor continua
pecado da gula: pão francês na chapa
teor alcoolico: ainda nada
audio: aimée mann
video: lost s06e03

Anjos e demônios, direção Ron Howard 





Não li o livro que deu origem ao filme, nem pretendo. Uma dose de Dan Brown é mais que suficiente. Li Código Da Vinci (versão literária do assim chamado "cinema-pipoca") e foi o bastante. Apesar de o livro ser estruturado como uma novela da Globo, com um gancho ao final de cada capítulo, a versão cinematográfica ficou chatérrima, um porre.
Já o segundo filme, supostamente uma continuação, é bem melhor (apesar de não precisar de muito para atingir esse objetivo). Digo supostamente, pois o livro é anterior ao Código Da Vinci. Mas os roteiristas optaram por situar a estória em período posterior aos eventos do primeiro filme, possivelmente para (tentar) explorar a indisposição da igreja em relação a Langdon.
Como thriller, o filme cumpre bem o papel a que se propõe. O ritmo acelerado imposto pela corrida contra o tempo a fim de salvar o dia gera tensão suficiente para prender o expectador à estória. O mesmo ritmo impede que os personagens se desenvolvam dramáticamente, todos sendo rasos como um pires. Tom Hanks (Langdon) "atua" com o piloto automático ligado e o talento de Stellan Skarsgård (Richter) e Armin Mueller-Stahl (cardeal Strauss) é totalmente subaproveitado e desperdiçado. Ayelet Zurer (Vittoria Vetra) está totalmente insipiente. Ao menos Audrey Tatou tinha presença em cena. Mas é Ewan McGregor (camerlengo McKenna) que detém as melhores falas do roteiro e cujo personagem tem algumas camadas a mais a ser desvendadas.
No mais, o filme é previsível, repleto de clichês e reviravoltas que qualquer cinéfilo percebe minutos antes de ocorrerem. Mas vale mesmo é pelos cenários e pelas ótimas locações. As belas paisagens de Roma e a reprodução de marcos arquitetônicos impedem que a trama seja apenas mais um "Indiana Jones" de segunda categoria.
É divertido. Mais nada.

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