Fernando Pessoa

coded by ctellier | tags: | Posted On quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010 at 22:14

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos

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Fernando Pessoa

coded by ctellier | tags: | Posted On at 06:42

"(...)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente


Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime."


Álvaro de Campos, in Tabacaria

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Fernando Pessoa

coded by ctellier | | Posted On quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010 at 07:07


"(...)

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)"

Álvaro de Campos, in Tabacaria

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Avatar...

coded by ctellier | tags: | Posted On at 07:01

meteorologia: calor... difícil até pra dormir
pecado da gula: pão francês na chapa
teor alcoolico: nada ainda
audio: coldplay
video: lost s06e05

Na contramão da mídia, ainda não assisti ao filme. Mas segue mais um ótimo comentário (dica do Martino):
Pocahontas = Avatar

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Fernando Pessoa

coded by ctellier | tags: | Posted On segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010 at 22:16

"(...)
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido."

(Álvaro de Campos, in Tabacaria)

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Clarice na cabeceira

coded by ctellier | tags: | Posted On at 22:11

meteorologia: chuva no final da tarde
pecado da gula: pudim de leite
teor alcoolico: 2 smirnoff ice black
audio: foo fighters
video: burn after reading

Clarice na cabeceira, organização Teresa Montero

Fãs de Clarice, uni-vos!
Incrível como é grande a comunidade de leitores fãs dessa autora fabulosa. Não há como definir Clarice Lispector. Não há adjetivos suficientes para descrevê-la. É ler qualquer texto seu e identificar-se imediatamente com cada parágrafo, cada frase, cada pausa, cada suspiro nas entrelinhas. Impossível não se deixar transformar pela força, pela intensidade, pela inconformidade de suas palavras. O momento epifânico que ocorre na quase totalidade de seus contos atinge o leitor em cheio, sem rodeios, sem rotas de fuga. Não há desvio possível. A vertigem de descobrir-se parte e ao mesmo tempo alvo daquelas palavras em tresloucada explosão de vida é algo quase impossível de descrever. Há que ler e apaixonar-se.
O livro é uma coletânea de contos de Clarice, apresentados por algumas personalidades da mídia nacional, indo de Fernanda Takai a Luis Fernando Veríssimo. Para os iniciados, ótima releitura. Para os newbies, ótima oportunidade de iniciar-se no universo de Clarice. Alguns deles, eu ainda não havia lido. Gratas surpresas. Descobertas facetas de mim que eu mal poderia imaginar. Cada nova leitura, um susto, uma revelação. É Clarice. Não esperaria outra coisa ao lê-la.
Como escreve Fernanda Torres ao apresentar seu conto escolhido -"A quinta história": "Não há o que acrescentar. Tenho até vergonha de escrever. Qualquer comentário me parece obsoleto. Clarice me deixa muda."


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Fernando Pessoa

coded by ctellier | tags: | Posted On domingo, 21 de fevereiro de 2010 at 18:27

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."


(Álvaro de Campos, in Tabacaria)

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Johnnie Walker

coded by ctellier | | Posted On at 12:02

A história de Johnnie Walker. Direto do Jerimum Beta, do @QuartoSinistro.


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