Retrospectiva 2012

coded by ctellier | tags: , , , , , , | Posted On domingo, 30 de dezembro de 2012 at 22:04

meteorologia: chuva sem fim
pecado da gula: rabanadas
teor alcoolico: 2 desperados
audio: queen
video: once upon a time

Última lista do ano: os 10 posts mais visitados (por ordem de publicação)

♦ 05/02/12 Movimento #DubladoSemOpçãoNão! 123 visualizações
♦ 13/03/12 Review » Saucony Hattori 294 visualizações
♦ 30/03/12 "Go on. Shoot!" 110 visualizações
♦ 09/04/12 O chamado de Cthulhu 110 visualizações
♦ 21/04/12 O desafio dos 100 livros - 2a.dezena 132 visualizações
♦ 24/06/12 Prometheus 119 visualizações
♦ 01/07/12 Pinterest... dinovu?! 126 visualizações
♦ 01/07/12 "I smile, and I smile, and I smile." 171 visualizações
♦ 24/07/12 Pipocando 102 visualizações
♦ 23/09/12 Review » MOTOACTV 111 visualizações



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Ao natural

coded by ctellier | tags: , | Posted On domingo, 23 de dezembro de 2012 at 19:34

meteorologia: chuva esparsa
pecado da gula: esfihas
teor alcoolico: 1 stella artois
audio: 89fm
video: numb3rs

Para quem acompanha o blog há algum tempo, não é novidade o meu interesse por tênis minimalistas e corrida natural. A aquisição mais recente referente a isso foi um New Balance Minimus Trail (review aqui), que eu estou curtindo demais. Não faço parte dos corredores que se interessaram pelo assunto após a leitura de Born to run (Nascido para correr), de Christopher McDougall. Aliás, shame on me, eu ainda não o li. Mas li vários artigos escritos a respeito em jornais, revistas, sites e blogs voltados para corredores. (o Natal está aí... ainda dá tempo se alguém estiver a fim de fazer um “mimo” me presenteando com o livro :-) )

Na verdade, não houve um fator ou uma leitura específica que tenha despertado meu interesse em deixar de lado os tênis mais estruturados (conto aqui meus primeiros dias). Acho que mais provavelmente a curiosidade para entender se a tal polêmica ao redor do assunto fazia sentido. Enfim, comecei a praticar e, embora a maioria das revistas especializadas dê boas dicas a respeito, fica sempre uma sensação de algo poderia ser melhorado. E nada melhor do que aprender e pegar algumas dicas com alguém que já pratica há bem mais tempo que eu. E foi o que fiz. Fiquei bastante empolgada ao saber que o Sério Rocha, jornalista da Contra Relógio, iria ministrar uma Clínica de Corrida Natural dia 8 de dezembro, na Velocità Moema. Mais detalhes sobre o evento no site Corrida Natural, também concebido pelo Sérgio.

Posso afirmar sem dúvida que valeu a pena. Uma coisa é ler sobre o assunto, outra bem diferente é ver a demonstração ao vivo e a cores. Como eu imaginava, a parte teórica da aula trouxe muitos conceitos que eu já conhecia das minhas leituras e tentava, na medida do possível, aplicar durante corrida. Mas o melhor mesmo foi a parte prática. Tirar os calçados e, pés no chão, com a ajuda do professor, “experimentar” a teoria: flexão dos joelhos, relaxamento e cadência. Esta última, eu já havia testado depois de ler um artigo do Sérgio no site. Pode não parecer, mas faz diferença. Por aumentar a frequência da passada, temos a impressão equivocada de que cansará mais. Mas é justamente o inverso, a sensação de cansaço é menor. Bem, e depois dos educativos, desafio lançado: dar uma volta no quarteirão... descalços. Desafio aceito. Já estávamos ali mesmo e, apesar do receio inicial de todos, foi a parte mais divertida da Clínica.

(abaixo, a filmagem feita durante a Clínica)


Se restava ainda alguma dúvida para mim de que a técnica funcionava, todas foram sumariamente eliminadas no dia seguinte, domingo, numa prova de 10km no centro de São Paulo. Com os conceitos ainda frescos na memória, coloquei tudo em prática durante a prova. E para minha satisfação, fiz meu melhor tempo em 10km do último ano: 00:51:30. Ainda longe da minha meta de sub50, mas ainda assim muito melhor que os 54 ou 55 min. das provas anteriores. Manter a cadência e a flexão dos joelhos ainda demanda atenção. Porém, tenho certeza que isso passa, assim como quando começamos a dirigir e temos de pensar cada gesto, com o tempo passamos a fazer tudo “no automático”. É um período de adaptação necessário, mas que compensa.

Enfim, a experiência superou muito a expectativa. Recomendo.





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Drops » The Hobbit

coded by ctellier | tags: , , | Posted On quarta-feira, 19 de dezembro de 2012 at 10:45

meteorologia: nublado
pecado da gula: leite moça de chocolate
teor alcoolico: nada ainda
audio: radio rock
video: harry potter

The Hobbit: An Unexpected Journey (2012)
- O Hobbit: Uma jornada inesperada
roteiro: Philippa Boyens, Peter Jackson, Fran Walsh, Guillermo del Toro
direção: Peter Jackson

A aventura de Bilbo Baggins é um prequel dos acontecimentos de O senhor dos aneis. Mas o diretor, intencionalmente ou não, fez parecer uma sequência, dando continuidade ao clima grandioso e épico dos eventos envolvendo a irmandade do anel. Na minha opinião, totalmente desnecessário e, pior, não condizente com a obra original.

O hobbit é genuinamente um livro infantil e parte dessa essência é perdida nesta transposição para o cinema. Algo que deveria ser abordado e vivenciado com uma legítima aventura - nos moldes de A ilha do tesouro, de Stevenson (na literatura) ou Os Goonies (no cinema) - pretenciosamente foi alçada ao patamar de uma quase epopeia.

Além disso, uma estória de pouco mais de 300 páginas, que certamente caberia com folga num filme de duas horas, foi esticada e preenchida com elementos supérfluos tão somente para suprir o desejo do diretor de dirigir mais uma trilogia.

O roteiro, ao contrário do universo do filme, chega a ser infantil pela sua repetição: o grupo viaja um pouco, Bilbo e os anões se metem em alguma encrenca, Gandalf aparece para salvar a pátria sempre no último instante - "e por que raios ele esperou tanto?". Isso somado ao excesso de flashbacks, deixa o filme longo demais, arrastado demais, cansativo demais.

Se valeu a pena assistir? Valeu sim, e muito. Valeu por causa dos 48fps. A experiência cinematográfica é totalmente revolucionada. O hiper-realismo deixa o espectador com a impressão de estar assistindo aos eventos in loco, principalmente em cenas externas. A quantidade de detalhes visto na tela é inimaginável. Mas também evidencia os defeitos. Alguns efeitos digitais ficam muito mais perceptíveis. Uma grande vantagem é que o 3D fica muito melhor. Várias vezes durante o filme eu simplesmente esqueci que estava usando o óculos.

Não terminei de assistir ao filme tão ansiosa pelo próximo quanto ao assistir a A sociedade do anel, mas mesmo assim ansiosa para ver a evolução do uso dessa nova tecnologia.


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Incinerando películas » Alex Cross

coded by ctellier | tags: , | Posted On sexta-feira, 14 de dezembro de 2012 at 22:00

meteorologia: "chove chuva, chove sem parar"
pecado da gula: batatas fritas
teor alcoolico: 2 stella artois
audio: papricast #20
video: twilight zone

Alex Cross (A sombra do inimigo) - 2012
roteiro: Marc Moss, Kerry Williamson
direção: Rob Cohen

Fui assistir ao filme apenas para passar o tempo até chegar o horário do pokerzinho semanal. No shopping onde estava, escolhi-o dentre os filmes em cartaz, parecendo ser a opção "menos ruim". Porém, infelizmente, acabou mesmo apenas preenchendo o tempo. Fiquei tão entediada, que comecei a conferir meu relógio antes mesmo da metade do filme.

Ao escolhê-lo, não sabia muito sobre ele. Sabia apenas que o vilão era interpretado por Matthew Fox - o Jack, de Lost. Apenas quando o título original apareceu na tela é que me dei conta de que era um filme sobre o detetive Alex Cross. Cross é um personagem criado pelo escritor James Patterson, que apareceu pela primeira vez no livro Along came a spider (Na teia da aranha). O filme é uma adaptação do livro I, Alex Cross (Eu, Alex Cross), em que Patterson revela ao leitor parte do passado de Cross.

O filme me agradou tão pouco que, mesmo depois de assisti-lo, eu ainda não tinha feito a conexão com dois filmes protagonizados por Morgan Freeman, no papel de Cross: Along came a spider e Kiss the girls. Mesmo com Freeman atuando quase "no automático", ainda tem muito mais carisma e presença em cena que Tyler Perry, bem pouco convincente no papel.

Patterson claramente baseou-se em Sherlock Holmes ao criar Alex Cross. Tem observação aguçada e poder dedutivo acima da média. Porém, no filme, o personagem é tão mal desenvolvido que suas deduções mais parecem adivinhações ou "chutes" bem dados. Quase no final do filme, um pouco antes do clímax - quem nem deveria ser chamado assim - Cross chega a uma conclusão baseado aparentemente em nada. E, logicamente, por não ter base alguma, ele sequer se dá ao trabalho de esclarecer como chegou a ela. E há inúmeras outras situações assim.

Junte-se a isso o excesso de personagens secundários - tão rasos quanto um pires - e um roteiro fraco que se arrasta por intermináveis 100min.
Enfim, dispensável assistir no cinema. Dá para aguardar que passe na tv a cabo.

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Sórdido, nefasto, pulcro, patético e fulminante

coded by ctellier | tags: | Posted On domingo, 9 de dezembro de 2012 at 16:48

meteorologia: nublado
pecado da gula: sorvete de doce de leite
teor alcoolico: 1 malheur (250ml)
audio: café brasil #327
video: 4400

Festa no covil
Juan Pablo Villalobos

Mesmo tendo visto o livro exposto em alguns dos meus passeios na Livraria Cultura, não tinha tido a curiosidade de folheá-lo, apesar da capa bastante chamativa - gosto desses desenhos de “caveirinhas”, um dos símbolos do Dia de los muertos mexicano. Contudo, minha curiosidade foi atiçada ao assistir a um vídeo-resenha no canal LidoLendo, da Isa. Ao ficar sabendo da temática do livro e da forma como é narrado, logo me interessei. E, numa outra incursão à livraria, não resisti e comprei.

Todo leitor contumaz já deve ter passado por isso. Apesar de estar lendo alguma obra bem interessante, há alguns dias em que não estamos a fim de continuar a leitura e queremos ler algo diferente. E foi o que houve. Estou lendo A realidade oculta, de Brian Greene. Gosto demais de física, mas anteontem não estava a fim de ler sobre o assunto. E peguei Festa no covil. E, não fosse o sono ter me vencido, teria terminado a leitura numa noite, não apenas por que o livro é pequeno (88 páginas), mas também por que a narrativa é bastante envolvente.

Sinopse
Tochtli é um pequeno príncipe herdeiro do narcotráfico mexicano. Fechado numa fortaleza no meio do nada, engana a solidão colecionando chapéus e palavras exóticas. Yolcault é o rei. Ele pode tudo e lhe dá tudo. Só não deixa que o garoto o chame de pai nem entre em certos quartos proibidos. Mas Tochtli tem uma inteligência fulminante e três chapéus de detetive, e com eles investiga noite e dia os enigmas desse reino. Ele também tem uma ideia fixa: completar seu minizoológico com hipopótamos anões da Libéria. E é bem capaz de conseguir que o rei atenda seu desejo.
(fonte: contracapa do livro)

Antes de ler o livro e pesquisar sobre ele, eu não tinha conhecimento da existência de uma vertente literária chamada narcoliteratura. Conforme explica Adam Thirwel no posfácio: “A narcoliteratura trata de chefões, do tráfico, armas e mulheres. De uma cultura política corrupta e asquerosa.”. Mais informações aqui. E, à primeira vista, Festa no covil encaixa-se nesse gênero. Contudo, terminada a leitura, conclui-se que o narcotráfico é apenas o pano de fundo - bem ao fundo - enquanto que o foco é o dia a dia de um garoto criado isolado do mundo e, por conta disso, construindo seu próprio mundo, com suas próprias regras e sua própria moral.

Devido à narrativa em primeira pessoa, é fácil lembrar-se de O menino do pijama listrado. E, apesar da ambientação das estórias ser bastante diferente, os protagonistas são garotos que, em sua ingenuidade, ignoram o verdadeiro papel de seus pais na sociedade em que vivem. Ter um protagonista-narrador talvez fosse um ponto fraco no livro (vide Hunger games), principalmente sendo uma criança. Mas Villalobos sai-se muito bem. Tem-se vividamente a sensação de que é mesmo um garoto narrando. Não tanto pelo modo de falar ou pelo vocabulário usado, mas pela forma como seu vocabulário é empregado, como as frases são construídas e pela ingenuidade intrínseca com que ele descreve os fatos. O trunfo do autor é o personagem em si, suas características. Se o leitor “comprar a ideia” de que é um moleque inteligente, precoce, que não sai de casa e que por isso passa quase o tempo todo estudando, pesquisando e investigando é evidente que ele narre os acontecimentos do modo como o faz.

"Algumas pessoas dizem que eu sou precoce. Dizem isso principalmente porque pensam que sou pequeno pra saber palavras difíceis. Algumas palavras difíceis que eu sei são: sórdido, nefasto, pulcro, patético e fulminante." (p.9)

Esse é o parágrafo inicial do livro. Interessante notar o poder de síntese do autor ao, em poucas frases, nos apresentar Tochtli de forma tão concisa. E vale reparar que, tal qual uma criança, Tochtli usa e abusa das palavras aprendidas, utilizando-as a toda hora, por vezes até fora de contexto. Suas frases são curtas, diretas, objetivas, sem rodeios, como as de qualquer criança. E esse contraste entre seu vocabulário quase adulto e seu modo naturalmente infantil de elaborar as orações tornam a leitura envolvente, cativante.

“Hoje conheci a pessoa catorze ou quinze que conheço e era um político chamado El Gober.” (p.20)

O que chama atenção, além da forma, é o teor da narrativa. Logo nas primeiras páginas, o leitor percebe a visão distorcida que o garoto tem do mundo - dentro e fora do palácio. A naturalidade com que ele descreve certos fatos não apenas choca, mas entristece. Entristece pois a solidão que transparece e a morbidez do que é relatado não deveriam fazer parte da infância, mesmo que a criança não tenha total entendimento do que está acontecendo. Mesmo que a bizarrice do que a cerca lhe seja familiar e corriqueira.

“Eu sei dessas coisas por causa de um jogo que eu e o Yolcaut costumamos jogar. O jogo é de perguntas e respostas. Um fala uma quantidade de tiros e uma parte do corpo, e o outro responde: vivo, cadáver ou diagnóstico reservado.
- Um tiro no coração.
- Cadáver.
- Trinta tiros na unha do dedo mindinho do pé esquerdo.
- Vivo.
- Três tiros no pâncreas.
- Diagnóstico reservado.” (p.14)

“Na verdade existem muitos jeitos de fazer cadáveres, mas os mais usados são com os orifícios. Os orifícios são buracos que você faz nas pessoas para o sangue vazar. As balas de revólver fazem orifícios e as facas também podem fazer orifícios.” (p.16)

Creio que a melhor dica sobre o que o leitor irá encontrar durante a leitura é a própria capa do livro: tudo em alto contraste. Todo o livro é calcado em contrastes, em contrários, em antagonismos. Simples versus complexo. Realidade versus fantasia. Horror versus humor. Violência versus inocência. O leitor fica o tempo todo oscilando entre o pasmo sobre os fatos relatados e a forma incompatível, por vezes até engraçada, com que isso é feito. Talvez por essa razão, seja tão difícil colocar em palavras a impressão que o livro deixa quando viramos a última página.

“[...] aí Yolcault gritou pra ele que era do rancho da puta que pariu. O rancho da puta que pariu fica perto de San Juan, na beira da estrada. Em cima do portão tem um cartaz que diz: PUTA QUE PARIU.”
(p.25)

Destaque para o posfácio de Adam Thirwel, que ajuda bastante a entender tanto o contexto da estória quando do próprio livro. Aliás, o livro todo é irrepreensível. Desde a capa, que é até texturizada; até o papel pólen, cuja textura é ótima; passando pela revisão sem quaisquer ressalvas. A tradução foi revista pelo autor, então não há o que falar.

Enfim, a experiência de leitura é ótima. E não há preguiça de ler que resista, afinal são apenas 82 páginas - as demais são do posfácio. Leitura mais que recomendada.


Sobre o autor
Nasceu em 1973, em Guadalajara, México, e atualmente mora no Brasil. É autor de contos, crônicas de viagem e crítica literária e de cinema. Festa no covil é seu primeiro romance. Editado originalmente na Espanha, já foi traduzido na Alemanha, Reino Unido, Holanda e França, e tem lançamento previsto em mais sete países, incluindo Itália, EUA, Israel e Turquia. A edição britânica foi selecionada pelo jornal The Guardian entre os cinco finalistas do First Book Award.
(fonte: Companhia das Letras)

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Drops » Fracture

coded by ctellier | tags: , | Posted On domingo, 2 de dezembro de 2012 at 23:40

meteorologia: chuva de verão
pecado da gula: pão doce
teor alcoolico: 2 stella artois
audio: podcast mdm #193
video: numb3rs

Fracture (2007) - Um crime de mestre
roteiro: Daniel Pyne, Glenn Gers
direção: Gregory Hoblit

Sinopse:
Willy Beachum (Ryan Gosling) é um jovem e ambicioso promotor público, que está no melhor momento de sua vida profissional. Ele tem 97% de vitória nos casos em que atuou e está prestes a assumir um cargo na famosa agência Wooton Sims. Porém, antes de deixar o cargo de promotor ele tem um último desafio pela frente: Ted Crawford (Anthony Hopkins). Após descobrir que sua esposa o estava traindo, Ted a matou com um tiro na cabeça. Parecia um caso simples, já que era um crime premeditado e com uma confissão clara, mas Ted cria um labirinto complexo em torno do caso de forma a tentar sua absolvição.
(fonte: AdoroCinema)

Apesar de não ser um nome facilmente reconhecível como o de um diretor de cinema, difícil que alguém já não tenha assistido a um filme dirigido por Hoblit: Primal fear (As duas faces de um crime) - meu predileto, Fallen (Possuídos), Frequency (Alta frequência) e Hart's War (A guerra de Hart) - o mais fraco deles.

Neste, Hoblit volta ao início e dirige um thriller de tribunal bastante engenhoso. O roteiro prende o espectador sem utilizar o tradicional "whodunit" (quem?) mas optando por despertar a curiosidade sobre o "como". Assim, personagens e público se perguntam de que maneira Crawford conseguiu driblar os investigadores, invalidando tanto as evidências físicas contra ele quanto o registro de sua confissão.

As cenas em que Crawford e Beachum conversam são, sem sombra de dúvida, as melhores do filme. O jogo de gato e rato que se estabelece entre eles, com os papéis por vezes se invertendo, garante a tensão necessária para prender o espectador até o final.

Apesar de a presença do núcleo da Wooton Sims parecer estar ali apenas para preencher o tempo, assim como a existência da personagem de Rosamund Pike ser totalmente dispensável, o roteiro é bastante eficiente, assim como a direção de Hoblit.

Boa pedida para quem curtiu Primal fear.


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Drops » Cosmopolis

coded by ctellier | tags: , | Posted On sexta-feira, 30 de novembro de 2012 at 19:52

meteorologia: sol e calor
pecado da gula: torta de côco
teor alcoolico: nada ainda
audio: nerdcast #339
video: friends

Cosmopolis (2012)
Roteiro e direção: David Cronenberg

Sinopse:
Eric Packer (Robert Pattinson) é um milionário egocêntrico que acordou com uma obsessão: cortar o cabelo no seu barbeiro localizado do outro lado da cidade. Para isso, o gênio de ouro das finanças terá que atravessar, em sua limousine, uma caótica Nova York que irá revelar uma ameaça a seu império a cada quilometro percorrido. Com o ritmo alucinante do diretor David Cronenberg, e participações de Juliette Binoche, Paul Giamatti, Samantha Morton e Mathieu Amalric, ele está prestes a viver as 24 horas mais decisivas de sua vida.
(fonte: Interfilmes.com)

Passado quase 80% do tempo dentro da limusine de Packer, o roteiro foi baseado no livro homônimo de Don DeLillo. Pode ser visto apenas como a estória de um ricaço que cisma em ir cortar o cabelo e, tal qual uma criança mimada, bate o pé e fala "eu quero, eu quero, eu quero", a despeito das recomendações do encarregado de sua segurança. Porém, como em todos os filmes de Cronenberg, nem tudo é o que parece. E, por trás de diálogos aparentemente non-sense, há algumas ideias interessantes que merecem reflexão.

A limusine de Packer é o seu "mundinho". Nele, Packer trata de seus negócios, come, bebe, faz sexo, consulta-se com um médico. Faz tudo ali, apesar de ter um apartamento com dois elevadores. E, principalmente, na limusine, Packer isola-se do mundo. Enquanto nas ruas ocorre uma manifestação, ele está discutindo o mercado e a situação da bolsa de valores.

É interessante notar a forma que o personagem vai sendo desconstruído no decorrer da narrativa. Packer entra na limusine, no início do filme, vestido impecavelmente, com óculos escuros que ocultam seus olhos inclusive da esposa. À medida que a estória avança, seu "visual" vai se desmontando, acompanhando o declínio do personagem. Remove os óculos, tira a gravata, o paletó, até chegar ao final do filme com a camisa de grife semi-aberta e para fora da calça.

Enfim, não é tão bom quanto outros filmes de Cronenberg - como os recentes Eastern promises e A history of violence - mas vale a pena assistir.


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Uma tragicomédia em família

coded by ctellier | tags: , , | Posted On quarta-feira, 14 de novembro de 2012 at 18:15

meteorologia: nublado ainda
pecado da gula: muito macarrão
teor alcoolico: nada ainda
audio: tom jobim
video: breakfast at tiffany's

Fun home
Alison Bechdel

Quando criança, sempre fui leitora assídua de quadrinhos. Tio Patinhas e Turma da Mônica, principalmente. Sou mais uma das milhares de crianças que adquiriram o hábito da leitura acompanhando as aventuras dos personagens de Maurício de Souza. Mas, depois de “virar gente grande”, parei de ler HQs. Não me desfiz das minhas, apenas parei de comprá-las - ou melhor, de pedir para que comprassem para mim. Com a nem tão recente assim onda de adaptações de HQs para o cinema, meu interesse retornou e comecei a consumir HQs adultas, as chamadas graphic novels. Por esse motivo, resolvi incluir uma categoria “Graphic Novel” no Desafio literário.

Não consegui lembrar onde havia lido sobre este livro. Mas me deixou suficientemente interessada para incluí-lo no desafio - que eu não finalizei, mea culpa. O desafio “embolou” antes mesmo de eu chegar à metade da lista. Empaquei no segundo volume de Os irmãos Karamazov. Vários outros livros foram cortando a fila e o desafio foi “pras cucuias”. Mas estou num período em que leituras mais breves, mas nem sempre muito leves, têm me interessado mais. E foi nesse contexto que Fun home se encaixou, apenas um mês depois do programado (apesar de eu ter “pulado” todos os outros livros desde maio). Antes de continuar, segue a sinopse.

Fun Home é um dos maiores fenômenos literários desta década. Eleito o "livro do ano" em 2006 pela revistaTime, figurou na lista de livros mais vendidos do The New York Times e faturou diversos prêmios (entre eles, o Eisner Awards de Melhor Não-Ficção). O álbum é um livro de memórias, onde a quadrinista Alison Bechdel revisita a sua infância e adolescência - especialmente a descoberta de sua homossexualidade e a difícil relação com seu pai Bruce Bechdel. Homossexual não-assumido, Bruce passava mais tempo cuidando e reformando o casarão vitoriano que moravam do que dando atenção à família.
(fonte: site Loja Conrad)

Ao iniciar a leitura, logo percebi que não era uma HQ como as outras, com quadros desenhados e balões de diálogos e pensamentos. Lógico, há isso também, mas não apenas isso. De uma maneira bastante criativa, a autora faz uso de inúmeros outros recursos visuais para contar sua estória. Desde caixas de texto com setas para apontar certos detalhes até reproduções de páginas de livros - dicionários, principalmente -, passando por recortes de jornais ou revistas e trechos manuscritos de cartas ou diários. E o resultado final é que o leitor fica imerso na estória enquanto tenta encontrar todos os detalhes de cada quadro. Na grande maioria das vezes, o que está escrito é complementar, mas não explicativo, do que está desenhando. E, por vezes, o texto até contradiz o desenho numa ironia ácida que permeia toda a trama.

Além do diferencial no estilo narrativo, para os leitores “hard-core” há um atrativo a mais. Há inúmeras referências, inferências, citações e correlações a várias obras literárias e autores. Em vários momentos, a autora relaciona eventos a trechos de livros, fazendo correspondência entre personagens reais e fictícias. Há Marcel Proust, James Joyce, Virginia Woolf, Albert Camus, Oscar Wilde, além do mito de Dédalo e Ícaro, que a autora compara a seu pai e ela. E é importante ressaltar que nenhuma das citações é gratuita. Todas se encaixam perfeitamente no contexto, principalmente por não serem apenas um recurso de suporte à narrativa, mas por terem efetivamente feito parte da formação intelectual da autora.

Num primeiro momento, pode parecer que uma biografia em quadrinhos é, justamente pelo formato, obrigatoriamente superficial. Mas Fun home está muito longe disso. A autora consegue conferir complexidade e um nível de detalhes que garantem uma experiência de leitura que pode ser tudo, menos superficial. Como já afirmei neste post sobre a biografia de Clarice Lispector, biografias não fazem parte da minha lista de categorias literárias prediletas, muito ao contrário. Mas o formato diferenciado ou, mais especificamente, inusitado desta autobiografia chamou minha atenção e despertou minha curiosidade. E devo afirmar que não me arrependi de lê-la. Aliás, recomendo-a fortemente.


 
 
Sobre a autora
Alison Bechdel nasceu em 1960 em Lock Haven, no estado da Pensilvânia. Desde 1983, desenha a tira Dykes to Watch Out For, publicada em diversos jornais alternativos, traduzida para várias línguas e compiladas em uma bem-sucedida série de livros.

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Drops » Intouchables

coded by ctellier | tags: , | Posted On terça-feira, 13 de novembro de 2012 at 09:15

meteorologia: chuva chata
pecado da gula: um cone de nutty bavarian
teor alcoolico: uma stella artois
audio: spinoff podcast s06e07
video: numb3rs

Intouchables (2012)
roteiro e direção: Olivier Nakache, Eric Toledano

Sinopse:
Philippe (François Cluzet) é um aristocrata rico que, após sofrer um grave acidente, fica tetraplégico. Precisando de um assistente, ele decide contratar Driss (Omar Sy), um jovem problemático. De início, eles enfrentam vários problemas, já que ambos têm temperamento forte, mas aos poucos passam a aprender um com o outro.
(fonte: site Playarte Cinema)

Pela temática, pode parecer que se trata de um drama, daqueles que arrancam lágrimas do espectador a cada dez minutos. Mas não é o caso. É lógico que há um pouco de drama, tanto pela condição física de Philippe quanto pela condição social de Driss. Contudo, o que mais se sobressai no filme é o humor leve que permeia toda a estória. A interação entre os personagens garante boas risadas, daquelas que nos deixam com a sensação de que não importa o tamanho do problema, sempre há uma brecha para o humor.

O elenco é responsável por boa parte da empatia. Cluzet - cada vez mais parecido com Dustin Hoffman - constrói um personagem bastante emblemático, mesmo tendo como "instrumentos" apenas sua face e sua voz. Com um pouco mais de recursos, fez-me lembrar bastante de Mathieu Amalric em O escafandro e a borboleta (post aqui). E Omar Sy faz o contraponto perfeito, sendo expansivo e debochado.

Enfim, vale assistir.

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Motivação, cadê você?

coded by ctellier | tags: , , | Posted On sexta-feira, 2 de novembro de 2012 at 10:42

meteorologia: nublado
pecado da gula: bolo formigueiro
teor alcoolico: nada ainda
audio: papo de gordo #100
video: breakout kings

Tem dias que tudo o que a gente quer é que o mundo acabe em barranco para morrermos encostados. Acordamos, e o primeiro pensamento é "Precisa mesmo?" - precisa mesmo levantar? precisa mesmo treinar? precisa mesmo trabalhar?

Já comentei sobre a falta de motivação em um outro post. Complementando as sugestões dadas, segue uma lista de vídeos que dão "aquela" forcinha na hora que a motivação insiste em se esconder.

Há aqueles que dão o empurrãozinho necessário para calçar o tênis e ir pra rua.

Há os que comprovam que o resultado compensa o eventual esforço.

Aqueles que dão um puxão de orelha na nossa preguiça, mostrando que pessoas com mais problemas ou dificuldades que nós estão aí fazendo o que estamos dando desculpas mil para não fazer.

Há outros para lembrar e se motivar durante o treino - seja de corrida, bike, ou qualquer outro esporte -, dando uma injeção de ânimo, fazendo-nos lembrar que sempre tem uma reservinha de energia para a aquele sprint final.

Há os que se aplicam para tudo, não só para o esporte.

Os que mostram que começar, dar o primeiro passo é o mais importante. Feito isso, continuar é (quase) sempre mais fácil.

Há os que nos lembram que força de vontade é essencial, e que, parafraseando o Locke de Lost, não se deve permitir que alguém diga o que não podemos fazer.

E há aqueles que mostram que, por maior que seja o desafio, o que importa é acreditar que seja possível. Já dizia o mestre Yoda: "Do, or do not. There is no 'try'."

É isso aí, bons treinos!























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Não vi, mas preciso...

coded by ctellier | tags: , , | Posted On domingo, 28 de outubro de 2012 at 19:55

meteorologia: chuvas de verão (na primavera)
pecado da gula: esfihas
teor alcoolico: 2 stella artois
audio: nerdcast #334
video: fringe

Inspirada pelo episódio 303 do Rapaduracast, NUNCA vi, mas TENHO que ver, em que Jurandir Filho (@jurandirfilho), Thiago Siqueira (@thiagosiqueiraf), Fábio Barreto (@soshollywood) e Raphael Draccon (@raphaeldraccon) assumem publicamente alguns dos filmes que todo mundo viu (ou quase todo mundo) mas eles ainda não, segue a minha lista de "débitos" cinematográficos:

(já assisti a trechos de alguns deles, mas nunca o filme todo)


  • Taxi driver - 1976
    roteiro: Paul Schrader
    direção: Martin Scorsese
  • Raging Bull (Touro indomável) - 1980
    roteiro: Paul Schrader, Mardik Martin
    direção: Martin Scorcese
  • Det sjunde inseglet (O sétimo selo) - 1957
    roteiro e direção: Ingmar Bergman
  • True grit (Bravura indômita) - 1969
    roteiro: Marguerite Roberts
    direção: Henry Hathaway
  • Apocalipse now - 1979
    roteiro: John Milius,
    direção: Francis Ford Coppola
  • The Tree of Life (A árvore da vida) - 2011
    roteiro e direção: Terrence Malick
  • Das Leben der Anderen (A vida dos outros) - 2006
    roteiro e direção: Florian Henckel von Donnersmarck
  • Midnight in Paris (Meia-noite em Paris) - 2011
    roteiro e direção: Woody Allen
  • Oldeuboi (Oldboy)- 2003
    roteiro: Jo-yun Hwang, Chun-hyeong Lim, Chan-wook Park
    direção: Chan-wook Park
  • Les invasions barbares (As invasões barbaras) - 2003
    roteiro e direção: Denys Arcand


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Muito além das resenhas

coded by ctellier | tags: , | Posted On quarta-feira, 24 de outubro de 2012 at 10:28

meteorologia: sol tímido
pecado da gula: pudim de chocolate
teor alcoolico: nada ainda
audio: rapaduracast #303
video: numb3rs

Com meu recém-adquirido hábito de acompanhar canais literários no YouTube (post aqui), pude perceber que há temáticas comuns a quase todos. Boa parte dos vlogueiros, além de resenhar os livros lidos, incluem vídeos de:
  • Inbox ou Caixa de Correio: para mostrar os livros comprados;
  • Livros do mês: livros lidos ou a ser lidos naquele mês;
  • Bookshelf Tour: mostrando o conteúdo de sua estante e/ou prateleira de livros;
  • e Tags (que é o foco deste post): algum vlogueiro cria algo similar a uma pesquisa, incluindo uma série de perguntas ou solicitando uma lista sobre determinado tema. Por exemplo, "As 10 capas de livros preferidas". O vlogueiro "criador" repassa o convite aos demais, solicitando que respondam a Tag.

A que está rolando atualmente entre os canais nacionais é sobre livros para ler antes do fim do mundo. Veio originalmente de um canal gringo, I Eat Words Channel (assista aqui). O primeiro canal nacional a que assisti respondendo a Tag foi aViviu, e ela informa que quem "trouxe" a Tag para os canais brasileiros foi a Giu Fernandes.

A Tag pede 5 livros para ler antes do fim do mundo, nas seguintes condições:
  • deve ser um livro que o leitor possua;
  • não pode ser uma releitura.

Deu vontade de responder a Tag. Contudo, não mantenho um canal literário - e nem pretendo -, então respondo aqui no blog mesmo. E assim como a Vitória, vou trapacear um tiquinho e fazer duas listas: uma com livros que comprei e não li ainda e outra com livros que não tenho e gostaria de ler.

Tenho e não li:
  • Contato, Carl Sagan
  • Sherlock Holmes - Coleção completa, Arthur Conan Doyle
  • Ulisses, James Joyce
  • O lobo da estepe, Herman Hesse
  • Nas montanhas da loucura, H.P.Lovecraft

Não tenho e gostaria de ler:
  • Os diários secretos de Agatha Christie, John Curran
  • Neuromancer, William Gibson
  • O som e a fúria, William Faulkner
  • O jogo da amarelinha, Julio Cortázar
  • Os detetives selvagens, Roberto Bolaño

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Clube do suicídio

coded by ctellier | tags: | Posted On segunda-feira, 22 de outubro de 2012 at 17:46

meteorologia: sol e calor
pecado da gula: pudim de chocolate
teor alcoolico: nada ainda
audio: braincast #37
video: lost

O clube do suicídio
Robert Louis Stevenson

Este livro, que é uma coleção de contos e novelas, não constava da minha lista de desejos. Aliás, admito que não sabia de sua existência. Conheci-o ao ver um post divulgando o Clube de Prosa Cosac Naify, cujo tema seria esta obra. Como para um leitor compulsivo qualquer motivo é um bom motivo para incluir mais um livro na coleção, obviamente minha reação foi ligar para a Cultura e reservar o item. Quanto ao clube, achei que, tendo lido um dos contos - o mais famoso, O estranho caso de Dr.Jekyll e Mr.Hyde - e iniciando a leitura daquele que dá nome do livro seria o bastante para não parecer um peixe fora d’água. E, a fim de mergulhar logo nas estórias, “pulei” a introdução, o que se mostrou ter sido uma decisão acertada pois, conforme comentou a mediadora do clube, a introdução contém alguns spoilers.

A coletânea é composta por:
  • O clube do suicídio
  • O estranho caso de Dr.Jekyll e Mr.Hyde
  • Markheim
  • O demônio da garrafa
  • O ladrão de cadáveres
  • O vestíbulo

O texto que dá título ao livro é, na verdade, uma novela composta por três contos, interligados entre si. O elo entre eles é a dupla de personagens central, o príncipe Florizel e seu "fiel escudeiro" Mr.Geraldine. Na primeira estória, a dupla é apresentada ao clube do suicídio. Trata-se de um clube de cavalheiros cujo interesse comum é, logicamente, o suicídio. Pois, apesar de terem decidido dar cabo da própria vida, não têm coragem suficiente para fazê-lo. Todas as noites, é feito um sorteio - utilizando-se um baralho - a fim de escolher quem será a vítima e o algoz daquela data. O presidente do clube engarrega-se dos detalhes a fim de que o “evento” não pareça um ato criminoso. As outras duas estórias são decorrentes desta.

O estranho caso de Dr.Jekyll e Mr.Hyde dispensa apresentações. Apesar de que, conforme orienta Nabokov no ensaio que está no apêndice, “por favor, trate completamente de esquecer, deslembrar, apagar, desaprender, jogar no lixo qualquer noção que você possa ter de que Jekyll e Hyde seja uma espécie de história ou filme de mistério ou de detetive.” Pensar nisso ao ler é essencial, pois a trama é muito mais do que o imaginário coletivo conhece dela. Já comentei sobre ele neste post.

Em Markheim, um jovem entra numa loja de penhores e, depois da ocorrência de um evento inesperado (aparentemente), a trama deriva para algo semelhante a Crime e castigo.

O demônio da garrafa é uma variante da conhecida estória do gênio da lâmpada, com a diferença que não há limite para o número de pedidos e que o dono da garrafa não pode ser livra dela a não ser que a venda.

O ladrão de cadáveres, talvez a mais sombria e mórbida de todas, conta em flashback a estória de um médico que, em sua época de estudante, junto com um colega, prestava serviços a um doutor, Sr.K, famoso por técnicas de dissecação por ele desenvolvidas.

E O vestíbulo, o conto mais curto - e talvez o mais fraco -, narra o ódio de um nobre por outro e a maneira inventiva que o primeiro encontra para se livrar do segundo.

Conheci a obra de Stevenson lendo A ilha do tesouro, que mais tarde aprendi ter sido escrito para entretenimento do enteado do autor. Parafraseando o locutor que anuncia os filmes da Sessão da Tarde, é sobre “uma turminha do barulho, encarando grandes aventuras”. Clássico da literatura infanto-juvenil, é uma aventura deliciosa com direito a mapa do tesouro, piratas, motim, cozinheiro de uma perna só e que teve inúmeras adaptações em outras mídias - cinema, teatro, HQ. E, ao ler O estranho caso de Dr.Jekyll e Mr.Hyde, surpreendi-me ao descobrir que era do mesmo autor pois, exceto pela qualidade do texto, não há nada em comum nas estórias.

Aproveitando a deixa, acredito que um dos méritos de O clube do suicídio é, além de confirmar Stevenson como um autor essencial, demonstrar sua versatilidade ao transitar com naturalidade entre vários estilos narrativos, indo desde a aventura detetivesca até o terror psicológico, passando pelo suspense e pelo realismo fantástico. E há algo mais em sua prosa que notei enquanto completava a leitura. Por ter participado do clube, pude ouvir o resumo das estórias feitos pelos demais participantes. E constatei, enquanto lia, o imenso poder de sugestão de Stevenson. Apesar de seu texto ser bastante descritivo em muitos trechos - o que dá a impressão de excesso de detalhes -, ao mesmo tempo ele deixa muito a cargo do leitor, às vezes explicitamente, mas na maioria das vezes nem tanto. Muitos dos detalhes narrados pelos leitores no clube não estavam escritos, eram apenas sutilmente sugeridos.

Outro detalhe comum a todos os textos é a condução do leitor. O texto de Stevenson flui de tal maneira que é difícil interromper a leitura. Não me refiro a cliffhangers presentes ao final de uma cena ou capítulo, recurso extensamente utilizado na maioria dos livros policiais. Stevenson conduz a trama de modo a envolver o leitor, despertando seu interesse no destino dos personagens e no desenlace das situações. Por várias vezes, iniciava a leitura disposta a ler 4 ou 5 páginas e quando me dava conta já estava chegando ao final da estória.

Estes são, no meu entender, os pontos fortes das narrativas. E não é por ser um clássico que eu deva ter obrigação de achar tudo “lindo e maravilhoso”. Na minha modesta opinião, há um ponto fraco em três contos: o final. Por razões diversas, os desfechos das estórias não me agradaram. Em Markheim, esperava uma solução menos trivial, mais dramática; algo que seguisse o clima fantástico do conto. Em O demônio na garrafa, o final poderia ser menos simplista, menos previsível; enfim, menos preguiçoso. E em O vestíbulo, tem-se a nítida impressão de que não há um final. O conto termina tão abruptamente que é inevitável o leitor se perguntar: “Ué! já acabou?!”. Talvez alguns leitores também não gostem muito do final “em aberto” de O ladrão de cadáveres pois, apesar de ter uma conclusão bem surpreendente, muitas questões são deixadas sem explicação. Eu gostei, achei que deixar as suposições e hipóteses para o leitor tinha tudo a ver com o desenrolar da trama.

Essa edição da Cosac Naify é bastante caprichada, incluindo, além dos textos de Stevenson, dois ensaios comentando sobre sua obra - um de Henry James e outro de Vladimir Nabokov - , que também valem ser lidos.
Enfim, leitura mais que recomendada.

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Review » New Balance Minimus Trail

coded by ctellier | tags: , | Posted On sábado, 20 de outubro de 2012 at 22:49

meteorologia: meio nublado, nem frio nem calor
pecado da gula: pão na chapa com manteiga
teor alcoolico: nada ainda
audio: nerdcast #333
video: bones

"Like barefoot, only better"

Quem acompanha, mesmo que apenas eventualmente, meus relatos de treino de corrida sabe - e para quem não acompanha eu conto agora - que há algum tempo eu aderi à utilização de tênis minimalistas. Não de forma radical, substituindo totalmente o uso dos tênis convencionais, mas como forma de variar os treinos. Até o início do mês, a proporção entre meus tênis estava assim:
  • 3 pares convencionais: 2 Brooks e 1 Mizuno
  • 1 par minimalista: Saucony (review aqui)
Depois da maratona de Floripa, em que utilizei meu Mizuno Prorunner, tive de aposentá-lo pelo tempo de uso e achei que seria um bom momento para igualar a proporção convencionais x minimalistas.

Minha ideia inicial foi adquirir outro Saucony Hattori. E com essa intenção fui a uma loja especializada. Como a lei de Murphy é onipresente, a máxima "tem, mas acabou" foi o que ouvi de quem me atendeu. Tinha meu número, mas não da cor que eu queria. E, depois de uns vinte minutos testando outros modelos, saí da loja com um Minimus Trail. Não tenho o hábito de experimentar outras marcas ou modelos, mas o fato deste tênis ter sido desenvolvido com a consultoria do ultramaratonista Anton Kupricka, mestre yoda da corrida minimalista, era aval suficiente para mim.



Primeiras impressões (ainda na loja)
Depois do mico clássico que todo corredor passa na loja, dando aquela corridinha básica, pude perceber o quanto ele é leve e confortável. Tão leve quanto o Hattori, pesa menos de 200g. Apesar do fechamento com cadarço, veste bem o pé. A forma é larga, não aperta os dedos. É muito, muito flexível mesmo. Tão confortável que a sensação é de estar de chinelos e não de tênis.

Teste na rua
E já que hoje era dia de treino - um longão, não tão longo assim, 14 km - nada mais natural que estrear o "brinquedo" novo. Metade da distância em grama/terra, metade em calçadas. Desempenho bastante satisfatório em ambos. Ótima "aderência" em terrenos desnivelados e baixa sensação de impacto no cimento. A sola em Vibram garante a percepção da superfície do terreno ao mesmo tempo que protege de objetos pontiagudos, pedras, lascas de madeira, etc. Assim como o Hattori, não possui qualquer sistema de amortecimento mas o solado amortece o suficiente para manter a passada bem confortável. O tecido telado mantém os pés aerados, auxiliando na evaporação do suor. O tênis não "pegou" em nenhum ponto do pé, nem criou nenhuma nova bolha. Manteve-se ajustado no pé, que não ficou "sambando" dentro do calçado em qualquer momento. E, apesar de eu ter enfrentado várias ladeiras durante o treino, nem os pés nem as panturrilhas sofreram os efeitos mais que o habitual.

Gostaria de estreá-lo numa prova amanhã, na SP Run. Mas todo corredor sabe que o ideal é alternar os tênis utilizados, então, domingo será dia de calçar o Hattori. Afinal, 8 km pedem tênis bem leves, para tentar bater o RP*.

Concluindo, para quem procura um tênis minimalista, o New Balance Minimus Trail é mais uma boa opção.



(*) Recorde Pessoal

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Drops » The walking dead

coded by ctellier | tags: , , | Posted On quarta-feira, 17 de outubro de 2012 at 15:35

meteorologia: vento e calor
pecado da gula: creme de baunilha
teor alcoolico: nada ainda
audio: spinoff podcast s06e03
video: damages

Depois de muita espera, sete meses, The walking dead volta em grande estilo, com um episódio quase tão bom quanto os da primeira temporada. Acredito que, assim como eu, os espectadores que viram fãs antes mesmo do final da primeira temporada - com apenas seis episódios - estavam na expectativa de que a terceira temporada fizesse a série "voltar ao normal". Pois, sejamos sinceros, o marasmo a que se resumiu praticamente toda a segunda temporada não fez jus ao início bombástico.

Admito, parei de acompanhar semanalmente a série depois do quarto episódio. Muita enrolação e mais do mesmo. Não acho ruim que a trama foque eventualmente do "fator humano", no estudo dos personagens. Mas fazer isso em 80% do episódio de uma série que se firmou como sendo de ação, certamente foi um tiro no pé - com o perdão do trocadilho infame.

Resolvi assistir à toda segunda temporada, antes da estreia da terceira. E minha percepção se confirmou - infelimente. Vários episódios pareciam ter sido feitos apenas para encher linguiça. O fato de o grupo ter se estabelecido na fazenda - mesmo que a contragosto do proprietário - parecia "obrigar" os roteiristas a tornar a série mais intimista, focando mais nos conflitos entre eles do que no combate aos zumbis. E isso tornou a série bastante monótona. Tive a impressão de estar assistindo a uma novela, em que o espectador ve um capítulo a cada duas semanas e em cinco minutos já se inteirou de tudo que aconteceu nos capítulos não assistidos. Lógico que é válido que se destaquem alguns questionamentos sobre a natureza humana e o comportamento em situações extremas. Em certo ponto, o espectador assiste e se pergunta: "Afinal, o perigo vem dos vivos ou dos mortos?".

O início do episódio é bem tenso, longos minutos de silêncio, quebrados por uma seguência de ação, em que o espectador tenta se situar - tanto no tempo quanto no espaço. Essa sequência inicial serve para mostrar a condição nômade do grupo, aparentemente sete meses depois de terem abandonado a fazenda. E é a deixa perfeita para introduzir o cenário mais esperado pelos fãs da HQ: a prisão. Apesar de o episódio não ter exatamente uma estória, pois narra basicamente a invasão da prisão pelo grupo, houve suspense, tensão, zumbis, tiros e sangue na medida pra dar vontade de assistir ao próximo episódio.




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Drops » Arrow

coded by ctellier | tags: , , | Posted On sexta-feira, 12 de outubro de 2012 at 20:20

meteorologia: chuva o dia todo
pecado da gula: folhado de banana e canela
teor alcoolico: nada ainda
audio: nerdcast #332
video: videocast pipoca e nanquim #38

Arrow

Vi uma parte da chamada na tv e me pareceu interessante. Antes de assistir ao piloto, a única coisa que sabia dela era que essa série da CW - que será exibida aqui pela Warner - era baseada na estória do Arqueiro Verde, da DC Comics. E pensei, "mais uma série baseada em quadrinhos". E eu, como não conheço a HQ, não tenho como afirmar se faz jus ou não à mídia original. A série estreia aqui dia 22 de outubro, mas tio Torrent deu uma ajudinha e assisti-a dois dias depois da estreia nos EUA.

Para quem não está familiarizado com a estória, assim como eu não estava, segue uma parte da sinopse oficial. Não reproduzi tudo, pois dá alguns spoilers do piloto.

Depois de um violento naufrágio, o playboy bilionário Oliver Queen [Stephen Amell] desapareceu por cinco anos. Dado como morto, ele é descoberto numa remota ilha no pacífico. Quando ele retorna para sua casa, em Starling City, sua devota mãe Moira [Susanna Thompson], sua amada irmã Thea [Willa Holland], e seu melhor amigo Tommy Merlyn [Colin Donnell] lhe dão as boas-vindas, mas sentem que Oliver mudou muito pelo tempo que passou na ilha.

Enquanto Oliver esconde a verdade sobre o homem que se tornou, ele desesperadamente sente necessidade de reparar suas atitudes que tomou quando era apenas um garoto. Mais importante, ele busca reconciliação com sua antiga namorada, Laurel Lance [Katie Cassidy].

Durante o tempo em que começa a se reconectar com as pessoas mais próximas de si, Oliver secretamente cria a ideia de Arrow — um vigilante — para consertar os erros de sua família, desafiar os males da sociedade, e restaurar Starling City para sua glória.

(fonte: www.jovemnerd.com.br)

Bem, para um piloto, achei melhor que muitas outras séries que comecei a assistir. Talvez quem curta a HQ se interesse mais em acompanhar a série. Mas eu certamente irei assistir apenas esporadicamente. Gostei da solução narrativa utilizada para contar, mesmo que rapidamente, a estória do personagem. Ao invés de um longo flashback, ficamos sabendo o que houve através dos noticiários da tv e de alguns flashes que o protagonista tem do naufrágio e de sua estadia na ilha. Porém me incomodou a narração em off de Oliver. O episódio se inicia com isso e, não fosse o fato de eu querer descobrir do que se tratava, eu certamente teria desistido depois de ouvir frases extramamente clichês e forçadas:

"Para viver eu tive que me adaptar, me transformar em uma arma."
"Não estou voltando como o garoto que sofreu um acidente de barco, mas como o homem que vai levar justiça àqueles que envenenaram a minha cidade."

Tão clichê que fiquei esperando-o completar: "Meu nome é Queen, Oliver Queen."

É preciso dar um desconto justamente por ser o piloto. A trama é bem previsível; os personagens, pouco desenvolvidos; a produção, OK - apesar de longe da perfeição. Vale uma espiada. Boa opção pruma tarde chuvosa de feriado.


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A estrela do diabo

coded by ctellier | tags: | Posted On domingo, 7 de outubro de 2012 at 13:45

meteorologia: sol e calor
pecado da gula: bolo de côco
teor alcoolico: nada ainda
audio: databasecast #26
video: the avengers

A estrela do diabo (Marekors)
Jo Nesbø

Sinopse
O detetive Harry Hole está de volta. Tentando superar a morte da ex-parceira de trabalho, obcecado em provar a culpa do também investigador Tom Waaler, abandonado pela namorada e afundado no alcoolismo, ele ainda tem de lidar com um misterioso assassinato de uma jovem. Quando novas mortes começam a ocorrer, e elementos em comum vão surgindo aos olhos de Harry, ele percebe que está diante de um perigoso serial killer.

A leitura deste livro foi totalmente não programada. Não só a leitura, como a compra também. Fui à Floripa no final de semana passado, para participar da maratona, e, como ia passar lá apenas dois dias, calculei que um livro seria suficiente para me ocupar durante a espera no aeroporto, o vôo e alguns momentos de tédio no quarto do hotel. E levei comigo As esganadas, de Jô Soares - post aqui. Contudo, um chá de cadeira inesperado ao chegar ao hotel - meu quarto demorou muito a ficar pronto - estragou meu planejamento. Quando finalmente consegui fazer o check-in, faltava pouco mais de 2 capítulos para terminar a leitura, que eu finalizei em menos de 20 minutos.

E eu, como uma boa leitora viciada, não posso ficar sem um livro para ler. Única solução: comprar outro. Fui a um shopping - único local onde haveria livrarias abertas num sábado à tarde. E, depois de circular entre as prateleiras por quase meia hora - as vendedoras vinham em turnos perguntar se eu precisava de ajuda - optei por este, tendo em mente que um livro policial costuma ser a melhor escolha para leitura em locais com muita gente conversando ao redor.

Eu já havia lido algo a respeito sobre um outro livro do autor, lançado recentemente, O redentor, cuja capa sempre me fazia lembrar o primeiro volume da trilogia de Stieg Larsson, The girl with the dragon tattoo. Sabia que, nos três livros dele traduzidos para o português, o protagonista, o detetive Harry Hole, era o mesmo. Sendo assim, o mais sensato seria ler o primeiro para me familiarizar com o personagem. Porém, nem tudo é perfeito no mercado editorial brasileiro de traduções. O primeiro lançado aqui, Garganta vermelha, é na verdade o terceiro da série. A estrela do diabo é o quinto. E O redentor, o sexto. A livraria não tinha Garganta vermelha e voltei para o hotel com A estrela do diabo a tiracolo.

Um detalhe interessante - e bastante importante - sobre a tradução. Apesar de a publicação não ter se iniciado corretamente - pelo primeiro livro da série -, todos os três desta série aqui publicados foram traduzidos diretamente do norueguês, o que é certamente uma vantagem para o leitor.
(lista de todos os livros aqui)

O estilo de escrita do autor é bastante direto, quase seco. Apesar de vários trechos descritivos, a prosa é enxuta, não há excessos. Não sou conhecedora da literatura norueguesa para poder afirmar, ou pior, generalizar ao fazer comentários sobre isso. E também seria imprudente rotular o estilo após a leitura de apenas um livro do autor. Mas é necessário comentar que senti um forte contraste ao lê-lo logo após dois livros de autores nacionais. Tem-se a impressão que a "musicalidade" instrínseca ao idioma brasileiro, simplesmente inexiste no norueguês. Mas gostei bastante do tom da narrativa e achei que "casou" muito bem com a estória. Porém concordo que, em alguns trechos, o excesso de detalhes prejudique um pouco a fluidez da leitura.

Diferente da grande maioria dos livros policiais, este não se resume a narrar a sequência de fatos relativos aos assassinatos, à investigação, à descoberta e possível captura do criminoso. Diversos capítulos iniciam-se com a introdução de novos personagens ou com a descrição de um lugar que ainda não fora citado. O leitor sente-se deslocado, sem saber do que se trata. Até que o autor faz o link e revela qual a relação disso com a estória. Generalizando um pouco, basicamente essas digressões aparentes tem a ver com as vítimas, com as testemunhas, com o principal suspeito ou com o protagonista. Percebi, ao ler alguns comentários de outros leitores, que essa solução narrativa não agradou 100%. Alguns reclamaram, achando que interrompia o fluxo de eventos; outros gostaram e acharam que era uma inserção bem-vinda; outros acharam que essas "mini-biografias" poderiam ter sido mais exploradas, dando mais detalhes. Pessoalmente, gostei bastante, tanto por ter a oportunidade de saber mais sobre alguns personagens, como pelo suspense causado pela pergunta "Em que ponto da trama isto se encaixa?".

O autor conduz bastante bem a narrativa a fim de que o leitor não tenha vontade de abandonar a leitura antes de descobrir whodunit. Mas o livro não se resume a isso. Aproveitando a condição do protagonista - depressivo, obsessivo e tentando evitar se afundar na bebida -, o autor aborda as consequências de suas escolhas pregressas, tanto em sua vida pessoal e profissional, quanto na vida das pessoais que o rodeiam. Lógico que o assunto não é explorado extensivamente, afinal, este é um livro policial e o leitor quer chegar logo "aos finalmentes". Mas o autor usa bem o tema como pano de fundo de várias cenas. E faz o mesmo com algumas discussões sobre o papel da polícia na sociedade. Sua eficiência (ou não), as brechas na lei, os meandros da burocracia são assuntos de vários diálogos entre Hope e seus colegas de trabalho. E, novamente, este é um livro policial e este tema é tratado en passant, pois o assunto principal ainda é descobrir quem é o serial killer.

Sobre isso, tenho uma observação importante. Faltava ainda um quarto do livro quando os investigadores estavam prestes a prender o principal suspeito. E eu me perguntava "E agora? Vai ser encheção de linguiça até o final?". Não mesmo! Dali em diante, a narrativa adquiriu um ritmo acelerado, com várias reviravoltas totalmente inesperadas que me impediram de largar o livro antes do final. Surpreendente mesmo.

Enfim, para quem estiver a fim de conhecer um pouco de literatura policial norueguesa, que goste quando a trama tem algo mais além de descobrir o culpado, é uma boa pedida.
Fica a dica.

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Drops » As esganadas

coded by ctellier | tags: , | Posted On quarta-feira, 3 de outubro de 2012 at 10:25

meteorologia: sol e calor
pecado da gula: castanhas nutty bavarian
teor alcoolico: nada ainda
audio: afrocelts
video: fringe

As esganadas
Jô Soares

Sinopse
O livro é ambientado no Rio de Janeiro de 1938 [...], durante a Era Vargas, e retrata uma série de assassinatos perpetrados contra vítimas gordas. Subvertendo a narrativa policial comum aos suspenses envolvendo detetives, o serial killer é revelado logo no início da obra, bem como sua motivação para os crimes. A trama concentra-se nos detalhes da busca pelo assassino.
O título faz alusão ao modo como as vítimas são mortas: asfixiadas por sua gula em um processo que envolve interesse gastronômico, especialmente por doces portugueses, e intenso desejo sexual.
fonte: Wikipedia

Este é o quarto livro policial do ator, comediante, apresentador e músico Jô Soares. E é, na minha opinião, o mais fraco. Acredito que ter suprimido o fator whodunit enfraqueceu bastante a trama, tornando-a simples a ponto de parecer ingênua e burlesca em alguns momentos. Apresentando ao leitor, desde o início, o autor dos crimes, resta apenas um “mistério” a ser solucionado - como e quando ele será descoberto e capturado. Há trechos em que parece bastante improvável que a equipe encarregada de identificar o assassino seja inapta a ponto de deixar passar detalhes essenciais que levantariam suspeitas sobre ele. E o excesso de citações do investigador lusitano e o exagero de detalhes da culinária portuguesa por vezes chegam a incomodar e “empacar” o andamento da narrativa.

O que salva o livro e o que segura o leitor do começo ao fim é principalmente a capacidade do autor em criar personagens e tipos, encaixando-os em situações que despertam o interesse do leitor, fazendo-o continuar a leitura para descobrir seu desfecho. Tive a nítida impressão de estar lendo uma sucessão de esquetes bem resolvidos em si mesmos, mas que em boa parte do texto careciam de unicidade com a trama central.

Mas não apenas isso. Assim como nos livros anteriores, a ambientação em determinado momento histórico é algo que o autor faz muito bem. A inserção de propagandas de rádio - os reclames -, notícias, narrações de jogos da copa, entre outros detalhes, conseguem imergir o leitor no período em que se passa a estória sendo, também, elementos que despertam e mantêm o interesse no decorrer da narrativa. Porém, mesmo assim, o leitor chega ao final da leitura com a impressão de que tudo poderia ter sido melhor explorado.

É um livro rápido e de fácil leitura. Não é ruim, é bom mesmo com as ressalvas. Mas se alguém me pedisse indicação de um livro do Jô, certamente não seria esse o escolhido. O Xangô de Baker Street sem dúvida é uma opção bem melhor para conhecer a obra do autor.


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Livros em vídeo

coded by ctellier | tags: , , | Posted On segunda-feira, 1 de outubro de 2012 at 21:46

meteorologia: chuva em Floripa, sol em Sampa
pecado da gula: ovos mexidos, com queijo e presunto parma
teor alcoolico: nada ainda
audio: braincast #34
video: numb3rs

Já comentei algumas vezes sobre meu hábito - quase vício - de ouvir podcasts. Há pouco mais de um mês, mais precisamente logo depois da Bienal de SP, fiz uma "descoberta" que também já se tornou hábito. Procurando no YouTube por vídeos sobre a bienal, encontrei um canal literário, o Cabine Literária. Assisti a alguns vídeos e logo assinei o canal. Posteriormente, ao acessar novamente, naquela coluna de sugestões do YouTube, havia outro canal literário, o da Tatiana Feltrin - TINY little ThInGs. E dali em diante, uma coisa puxa a outra, fui assistindo e "capturando" outras sugestões e agora, além dos podcasts, também assisto a canais literários sempre que tenho um tempinho.

E segue abaixo a lista dos que eu assisto com mais frequência (em ordem alfabética):

  • aViviu
    Alguém disse pra eu parar de escrever sobre tudo o que eu leio e fazer um vídeo.
    E eu fiz.
  • o batom de Clarice
    Este é um canal pessoal, sobre livros e literatura. Não tenho vínculo com nada, nem com ninguém, a não ser comigo mesma. =)
    Literatura é minha paixão, minha formação e meu trabalho.
  • Cabine Literária
    O Cabine Literária é um vlog sobre literatura que você lê na cama, no busão, no troninho e principalmente porque você GOSTA!
  • Isaac Sabe
    Canal do blog Isaac Sabe!
  • Leitor Cabuloso
    O universo da literatura ao seu alcance!
  • Li Finalmente!
    Duas coisas eu gosto muito, livros e de falar sobre eles. Se você gosta de qualquer um desses dois eu sugiro que você veja os vídeos aqui ;)
  • LidoLendo
    Canal da Isa
  • Patrícia Pirota
    Canal pra falar sobre os Livros, o Universo e tudo o mais...
  • Ratos Letrados
    Vlog sobre tudo e nada.... é mais pra passar o tempo!
  • TINY little ThInGs
    Canal da Tatiana Feltrin


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Review » MOTOACTV

coded by ctellier | tags: , | Posted On domingo, 23 de setembro de 2012 at 15:33

meteorologia: vento frio e sol
pecado da gula: misto quente
teor alcoolico: 1 hoegaarden
audio: podcast cinema em cena #54
video: polisse

Desde que fiquei sabendo do lançamento desse “aparelhinho” da Motorola, há quase um ano (leia aqui), ele está no topo da minha wish list de artigos para corrida. A perspectiva de ter um relógio com GPS, mp3 player, rádio FM e sistema operacional Android para substituir meu Garmin era muito, muito interessante. Já comentei, tanto no Twitter quanto aqui no blog, sobre os percalços no uso do Garmin. Troquei meu Polar RS300 com sensor inercial por um Garmin 405 no intuito de acompanhar melhor meus treinos, mas o resultado deixou (muito) a desejar. Por várias vezes, me arrependi da troca, já que, ao contrário do Polar, o Garmin com frequência travava e se recusava a iniciar o treino ou então, apagava, sem mais nem menos, no meio de um treino, além do touch enlouquecer com suor e chuva. Da última vez que ele “me sacaneou”, tive ganas de jogá-lo no meio da rua e vê-lo ser esmagado sob a roda de um carro.

Finalmente, chegou a oportunidade de adquirir o MotoActv, que foi entregue ontem. O ‘unpacking’ do produto está abaixo e, enquanto abria a embalagem, eu pensava: “A primeira impressão é a que fica, se usar o aparelho causar essa mesma impressão, já estou no lucro.”.


Conteúdo:
- aparelho;
- cabo USB (conector mini);
- fones de ouvido + “borrachinhas” auriculares de vários tamanhos e modelos;
- pulseira;
- clip.


O aparelho tem tela touchscreen de 1,6 polegadas, e, assim como um celular, tem alguns botões físicos que facilitam o uso:
- topo: botões Start (iniciar e interrompe o registo de treino) e Music (acesso ao player);
- direita: botões de controle de volume e liga/desliga;
- embaixo: entrada para o fone;
- esquerda: entrada para o cabo USB.
Complementando, também como nos celulares, há na tela um “botão” de Back. A sensibilidade da tela é muito boa - melhor até que do meu celular - e, importante, é Gorilla Glass.

Depois de desempacotar tudo, liguei o aparelho, torcendo para ter um restinho de bateria. E tinha. O suficiente para conseguir navegar por todos os menus e configurar o básico para uso. Nesse momento, o maior receio era a dificuldade de leitura devido ao tamanho da tela do dispositivo. Sim, é pequeno, mas os itens de menu são bem legíveis e a navegação é bastante intuitiva. Apenas conferi depois o manual que o acompanhava para verificar se não tinha deixado de ver algum recurso. Assim que é ligado, solicita a configuração de itens básicos: data/hora, fuso horário, idioma. Feito isso, é só sair usando.

Há cinco telas principais: Configurações, Treino, Relógio, Música, Avisos.

Configurações:
- Treino
- Sensores
- Sem fio
- Função economizar bateria
- Perfil pessoal
- Música
- Exibir
- Avisos
- Geral

Apesar de estar interessada em adquirir o dispositivo, não me informei muito sobre todas as suas funcionalidades. Para mim, já bastava o fato de ter o GPS, o player e o rádio. Porém, ao percorrer o menu de configurações, descobri que os recursos iam muito além do que eu esperava. Em Sensores, é possível configurar um frequencímetro Ant+ ou BLE - testei hoje e funcionou perfeitamente, encontrou, identificou e conectou-se ao sensor em poucos segundos. Em Sem fio, além do Bluetooth (que eu já esperava), há também a possibilidade de configurar uma conexão Wi-fi. Testei o Bluetooth hoje também e pareou com meu fone rapidamente, sem complicações. E o wi-fi também. O aparelho localizou a rede aqui de casa, conectou e fez a transferência de dados após a corridinha de hoje - test-drive de pouco mais de 3 km.

Ainda no quesito conectividade, quem tem um celular Motorola com Android - como eu - pode usufruir de mais um recurso. Basta instalar a app do MotoActv - disponível no Market -, para parear os dispositivos e passar a receber avisos de ligações recados, ler SMS e, com a ajuda de alguns plug-ins, receber notificações do Facebook e do Twitter também. É útil, apesar de eu não achar essencial, além de aumentar o gasto da bateria por deixar o Bluetooth ativado.

Aproveitando a deixa para falar da bateria. Ainda não testei a duração. Mas num dos menus de configuração, há a possibilidade de configurar o aparelho para um “modo economia”, em que a sincronia do GPS é feita em intervalos maiores - a cada três segundos ao invés de um. Fiz um treininho de 20 minutos que consumiu pouco mais de 10% da carga. Porém deve-se levar em conta que fui usando o fone bluetooth, o que aumenta consideravelmente o consumo. Diferente do Garmin, há a possibilidade de ligá-lo apenas na hora do treino, economizando ainda mais. Mas acredito que deve durar entre 3 e 4 dias.

Na segunda tela, Treino, mais uma descoberta: a possibilidade de usar o dispositivo tanto para treinos na rua como indoor. Na rua, obviamente com o GPS que, na primeira vez que liguei, demorou menos de 2 minutos para localizar os satélites; e depois o fez em pouco mais de 15 segundos. E na esteira, em que é preciso calibrar o hodômetro interno, o que eu ainda não testei. Um dos meus receios, ao sair na rua para correr, era que as informações na tela ficariam difíceis de ler devido à luminosidade externa. Nada disso. Fica tudo perfeitamente legível e rápido de ler. As informações disponíveis são selecionada pelo próprio usuário. Há cerca de 20 possibilidades, entre gasto calórico (médio ou total), ritmo, distância, altimetria, quantidade de passos, etc. Além dos dados exibidos, é possível ativar o “companheiro de treino” e configurar o que será informado via fone. Não costumo utilizar, mas ativei apenas para testar e não me desgradou. Configurei para informar quando se completa uma volta (1 km) e qual o ritmo. Mas é possível configurá-lo também para informar quebra de RP, melhor pace, maior distância percorrida, entre outros. E não funciona apenas para corrida, há outra modalidades que podem ser configuradas.

Ao final do treino, veio a parte mais legal. O relatório é bastante completo, incluindo até um mapinha do percurso, além do que se espera normalmente: distância total, ritmo (média e máximo), frequência cardíaca (mínima, média e máxima), altimetria, etc. Lógico que a telinha do MotoActv não é o local mais indicado para analisar o relatório. Sendo assim, assim que o dispositivo se conecta à rede wi-fi e transmite o treino para o site do MotoActv (http://motoactv.com), é possível ver tudo em detalhes e, querendo, compartilhar o treino nas redes sociais também - assim como o Endomondo.

A tela do Relógio tem as funcionalidades default de um relógio digital. É possível alterar a “cara” do mostrador - digital ou analógico. Há um cronômetro e um temporizador - dá para usar no treino de musculação ou qualquer outro em que se tenha treino intervalado.

O player é bastante completo e ao mesmo tempo simples de usar. Para quem curte (como eu), há uma opção específica para podcasts. E para quem usa (eu não) é possível sincronizá-lo ao iTunes. Transferir arquivos é uma operação do tipo ‘arrasta e solta’, sem complicações. A qualidade do som é muito boa. Os fones que acompanham são daqueles com suporte auricular, para não caírem durante a corrida, com aquelas “borrachinhas” que encaixam super bem em qualquer tamanho de orelha. O comprimento do fio é suficiente - ao menos para mim, que sou baixinha - para não atrapalhar os movimentos do braço caso o aparelho esteja no pulso. No fio, há ainda um pequeno controle que permite trocar as faixas. Mas, em caso de muito suor, é possível desativé-lo para evitar mudanças indesejadas.


Outro ponto positivo é a atualização do software. Ao conectar o aparelho via usb a um computador pela primeira vez, é instalado o MotoCast que, entre outras coisas, gerencia os updates. Após a instalação, o meu fez download de dois upgrades, baixou e instalou tudo rapidinho.

Conforme o fabricante, o aparelho é à prova de suor e respingos, o que não quer dizer que seja à prova d’água. Ou seja, melhor não tomar banho com ele. Mas como não tenho esse hábito, para mim não chega a ser um ponto negativo.

Além dos acessórios que vieram com o meu aparelho, há outros disponíveis: braçadeira, clip para bike e headset bluetooth. E, com tamanha quantidade de recursos, em comparação com alguns modelos de Garmin e mesmo Polar, acho que o preço é bem razoável - R$ 799,90 na Netshoes.

Enfim, foi o gadget cuja compra me deixou mais satisfeita nos últimos tempos. Ainda não testei tudo, mas até agora estou bastante satisfeita. E espero que continue assim. Falta ainda um teste casca-grossa com um treino bem longo e bem suado, mas a maratona de Floripa está quase aí pra me ajudar nisso. Pra quem se interessar, tem um podcast da Bia Kunze, comentando sobre ele: Podsemfio n.117 – MotoACTV.

Bye Garmin 405. NÃO foi bom enquanto durou :-P




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