Drops » Duel

coded by ctellier | tags: , | Posted On sexta-feira, 30 de dezembro de 2011 at 15:33

meteorologia: certeza que estamos no verão?
pecado da gula: esfihas
teor alcoolico: 1 itaipava
audio: podsemfio #114
video: breaking bad

Duel (Encurralado)
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Richard Matheson

Filme baseado em livro homônimo de Richard Matheson, que também assina o roteiro. O autor forneceu ao cinema algumas boas estórias que, pelo pouco destaque dado aos roteiristas, em vários casos nem chegamos a saber que são de sua autoria: "Eu sou a lenda", "Amor além da vida", "O incrível homem que encolheu", "Em algum lugar do passado".

É o primeiro filme de Steven Spielberg, que logo de cara mostra que não está para brincadeira. As premissas mais simples costumam gerar alguns dos melhores roteiros. E esta além de simples, é quase simplória: um homem, viajando de carro a negócios, vê-se perseguido na estrada por um caminhão tanque cujo motorista nunca tem seu rosto revelado. E, a partir disso, Spielberg consegue construir um filme (in)tenso fazendo bom uso da trilha sonora e utilizando-se de algumas tomadas inusitadas.

O que poderia ser apenas um road movie, é um filme de suspense que simplesmente gruda o espectador na poltrona. Pena que o final não esteja à altura da tensão criada durante todo o filme. Mesmo assim, vale muito a pena assistir.

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Drops » WarGames

coded by ctellier | tags: , | Posted On domingo, 25 de dezembro de 2011 at 09:06

meteorologia: nublado
pecado da gula: stollen
teor alcoolico: nada ainda
audio: vortex cultural - agenda cultural #33
video: TBBT

WarGames (Jogos de guerra)
Direção: John Badham
Roteiro: Lawrence Lasker, Walter F. Parkes

Filme de ficção científica dos anos 80, é uma divertida aventura tecnológica na era pré-internet. Visto nos dias atuais, nem tão ficção, nem tão científica assim. Mas numa época em que computadores pessoais eram um sonho de consumo bastante longínquo, os eventos do filme estavam bem longe da realidade.

O filme aborda alguns temores bastante comuns na época: a guerra fria, o futuro da evolução tecnológica, o confronto homem x máquina. Sobre o último ponto, lembra um pouco Terminator, abordando o avanço da inteligência artificial, com computadores tomando decisões no lugar de pessoas. Além disso, mesmo que apenas en passant no início, abre uma discussão sobre ética - quando Lightman (Matthew Broderick 3 anos antes da fama em "Ferris Bueller's day off") invade o computador da escola onde estuda.

Inicialmente, parece um daqueles filmes sobre exército, com um enfoque político. Vinte minutos depois, torna-se um daqueles filmes de adolescentes americanos no colégio. E logo percebe-se como irá ocorrer a junção desses dois mundos, mas nada que desabone o filme.

Interessante também é reparar nas "relíquias" tecnológicas presentes: disquete de 5"¼', telefone de disco, modem que se conecta ao fone do aparelho, impressora matricial.

Curioso notar que a "lição de moral" da estória é dada pelo computador - conclusão a que ele chega depois de testar todas as variáveis possíveis:

"Strange game.
The only winning move is not to play."
(Joshua, the computer)

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“Seu texto é muito longo, ninguém lê”

coded by ctellier | tags: , | Posted On sexta-feira, 23 de dezembro de 2011 at 08:35

meteorologia: dia de sol
pecado da gula: pão na chapa
teor alcoolico: nada ainda
audio: alternativando #148
video: criminal minds


Não sou jornalista. Nem tenho pretensões de sê-lo. Nunca tive. Correr atrás da notícia, reportar e registrar não é nem nunca foi o meu intuito. Gosto de examiná-la, de tecer comentários, de falar sobre as referências que me vieram à mente ao lê-la. Enfim, gosto de analisar, questionar, decompor e recompor as ideias que foram suscitadas pela notícia. E, para isso, gosto de escrever sobre ela.

Mas não sou escritora. Não no sentido que Clarice Lispector também recusava-se a ser (veja entrevista em que ela fala sobre isso). Não tenho pretensão de fazer da escrita uma profissão. Sem querer, nem ousar, comparar-me a Clarice, escrevo porque me é preciso, porque gosto, porque me faz bem, porque me realiza. Não quero que se torne obrigação. Não tenho intenção de tornar-me uma profissional da escrita. Se o que escrevo me agrada, agrada a meu principal leitor, agrada à maioria das pessoas que me lêem, ótimo. Mas isso, no meu entender, não faz de mim uma escritora profissional.

Para mim, a escrita funciona como uma forma de organizar os pensamentos. Não necessariamente ordená-los, mas agrupá-los de forma a fazerem mais sentido do que se mantidos isolados. Muitas vezes, ao discorrer sobre um assunto, cheguei a conclusões que eu sequer aventara a possibilidade. Puxar o fio do pensamento ao escrever é algo tão agradável que é quase impossível furtar-me da escrita. E, assim como ler, escrever tem-se tornado um vício, ao qual me entrego diariamente. Várias vezes. Por breves momentos ou por longos períodos.

Há dias em que não há muito o que escrever. Ou melhor, até há. Mas as palavras parecem se recusar a sair de forma satisfatória. Saem aleatoriamente, negando-se a fazer qualquer sentido, por mais que tente dispô-las coerentemente. Quem escreve, sabe. Empacar num texto, feito uma mula teimosa é mais comum do que gostaríamos, mas faz parte do dia a dia do escrevinhador. Já me incomodei mais com esses incidentes. Atualmente, trato-os como parte “das atividades”. Se o texto que eu pretendia escrever não sai, eu simplesmente deixo-o de lado e vou escrever sobre outra coisa. Mesmo que essa outra coisa não seja algo que eu pretenda aproveitar para publicar no blog – ao menos, não imediatamente. Anotações aleatórias são sempre bem-vindas. Em algum momento serão aproveitadas. Fazendo referência a Clarice novamente, ela tinha o hábito de fazer anotações em qualquer fragmento de papel disponível. Desde guardanapos a margens de páginas de revistas, de folhas de cheque a listas de supermercado. É sabido que, em suas anotações, as frases estavam praticamente prontas. Mas ela era Clarice Lispector. As minhas anotações precisam ser recicladas e ruminadas várias vezes até se encaixarem num texto.

Há outros dias em que parece que os dedos não vão conseguir dar conta de digitar a enxurrada de frases que teimam em se acumular na nossa mente. E, como num frenesi, o texto parece moldar-se quase em seu formato definitivo. Não sei, talvez isso seja o que se chama comumente de inspiração. Mas em dias assim, é quase impossível parar de escrever. Enquanto todas as ideias não estiverem devidamente expostas, apresentadas, escritas aquele “comichão” que impele à escrita não se esvai.

E, nesses dias de produção prolífica, as ideias se sucedem e, quando dou por mim, já escrevi mais de uma página e ainda tenho coisas a dizer. Houve uma época em que me incomodei com o tamanho do texto. Assim como li num post do Brainstorm#9, por muitas vezes me peguei pensando que o texto era muito longo, ninguém iria lê-lo até o final. Mas há algum tempo, a Ana Carolina Silveira (@anacarolinars), do site Leitura Escrita, fez um comentário que teve em mim um efeito libertário: “Escreva o texto – a crítica, o post, a resenha – que você gostaria de ler. Esqueça o tamanho. “ E eu abracei a ideia. Desde então é o que tenho feito. Não me importo se ficou extenso demais, analítico demais, polêmico demais. Escrevo até que o assunto (em mim) se esgote.

É claro que, algumas vezes, ao revisar o texto percebo que consigo quebrá-lo em duas ou mais partes, sem prejuízo do conteúdo. E é o que faço. Apesar de não me pautar pela extensão do texto, sei que texto menores terão maior chance de ser lidos – e, consequentemente, apreciados – pela maioria dos leitores. Certamente boa parte do sucesso do Twitter deve-se a isso. E não desgosto dessa sua faceta. Acho incrível o poder de síntese de algumas pessoas, condensando pensamentos em 140 caracteres.
Mas eu, pessoalmente, tenho necessidade de ler (e escrever) textos que se estendam além desse limite. E, mesmo que o objetivo primordial da minha escrita não seja arrebanhar leitores, muitos apareceram e passaram a prestigiar o blog. E mais gente lendo significa mais gente comentando. E mais gente comentando significa a expressão de outros pontos de vista. Pontos de vista que talvez sejam o gatilho para uma nova leva de ideias e conceitos a serem descritos. E assim o ciclo recomeça.


“Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não-palavra - a entrelinha - morde a isca, alguma coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ia com alívio jogar a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: A não-palavra, ao morder a isca, incorporou-a. O que salva então é escrever distraidamente.”
(Clarice Lispector in ‘Água viva’)

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Natal no cinema

coded by ctellier | tags: , | Posted On domingo, 18 de dezembro de 2011 at 20:57

meteorologia: chuva de verão
pecado da gula: pizza
teor alcoolico: 2 smirnoff ice
audio: papo de gordo #79
video: criminal minds

Natal é aquele dia em que, se por acaso estivermos em casa, zapeando entre os canais, não há como escapar de "Esqueceram de mim" (1, 2, etc..), "O milagre da rua 34", "Natal branco" e "Rudolph, a rena do nariz vermelho". A lista abaixo é pra quem estiver a fim de assistir algum filme que faça referência ao Natal, mas que, mesmo assim, não seja tão habitual na grade de programação das emissoras nesta época.


  • Gremlins (1984)
    Direção: Joe Dante
    Roteiro: Chris Columbus
  • Die Hard » Duro de matar (1988)
    Direção: John McTiernan
    Roteiro: Jeb Stuart
  • The Nightmare Before Christmas » O estranho mundo de Jack (1993)
    Direção: Henry Selick
    Roteiro: Tim Burton, Michael McDowell
  • Love actually » Simplesmente amor (2003)
    Direção e roteiro: Richard Curtis
  • Joyeux Noël » Feliz Natal (2005)
    Direção e roteiro: Christian Carion
  • Bridget Jones's Diary » O diário de Bridget Jones (2003)
    Direção: Sharon Maguire
    Roteiro: Helen Fielding
  • The holiday » O Amor Não Tira Férias (2006)
    Direção e roteiro: Nancy Meyers
  • We’re no angels » Não somos anjos (1939)
    Direção: Michael Curtiz
    Roteiro: Ranald MacDougall
  • The Shop Around the Corner » A loja da esquina (1940)
    Direção: Ernst Lubitsch
    Roteiro: Samson Raphaelson
  • The Bishop's Wife » Um anjo caiu do céu (1947)
    Direção: Henry Koster
    Roteiro: Robert E. Sherwood, Leonardo Bercovici


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Drops » Tempos de paz

coded by ctellier | tags: , | Posted On sábado, 17 de dezembro de 2011 at 16:10

meteorologia: calooooorrrrr
pecado da gula: misto quente
teor alcoolico: 2 itaipavas
audio: nerdcast #290
video: criminal minds

Tempos de paz
Direção de Daniel Filho
Roteiro de Bosco Brasil

Filmagem quase literal da peça “Novas Diretrizes em Tempos de Paz”, de Bosco Brasil - responsável pelo roteiro. É basicamente o confronto entre duas pessoas, dois personagens, dois atores. E, por ser esse o trunfo da peça, o elenco foi mantido.

A fim de garantir seu salvo-conduto e o direito de fixar residência no Brasil, o imigrante polonês e refugiado da Segunda Grande Guerra, Clausewitz, vê-se desafiado a fazer chorar um ex-oficial da polícia getulista, Segismundo (Tony Ramos). Este, com o fim da guerra, já não precisa procurar nazistas entre os estrangeiros que chegam ao país. Mas o português quase fluente de Clausewittz, que chega a recitar Drummond, chama a atenção dos agentes da imigração. As mãos lisas - apesar de o passaporte informar que é um agricultor -, a ausência de bagagens e a jovialidade quase excessiva só servem para despertar a desconfiança dos agentes, que acabam por entregá-lo aos “cuidados” do chefe. Já sem muita serventia, Segismundo decide fazer do polonês seu último caso. E faz uma aposta com o suposto agricultor: se ele conseguir fazê-lo chorar, terá permissão de permanecer, senão deverá voltar a seu país de origem - o navio partirá em aproximadamente 10 minutos.

E é a partir daí que o filme ganha corpo e presença. E foi o que me fez continuar assistindo, já que não fazia a menor ideia do que se tratava o filme ao começar a assisti-lo. Até então, só conseguia pensar que estava assistindo a uma versão brazuca de “O terminal”. A semelhança física de Stulbach com Tom Hanks corroborando ainda mais para essa impressão. Mas felizmente, o filme é muito mais que isso. A direção contida e sem exageros de Daniel Filho faz-nos esquecer da linguagem televisiva que ele usou e abusou em “Se eu fosse você” (1 e 2). Mas o maior mérito mesmo é da dupla central de atores, Tony Ramos e Dan Stulbach.

Apesar de ser o monólogo impressionante de Clausewitz (Dan Stulbach) o responsável pelo filme ser algo mais que uma mera produção global, é uma grata surpresa ver Tony Ramos atuando de verdade - e não no piloto automático como ao personificar Cláudio de “Se eu fosse você”. A frieza com que seu personagem conta as atrocidades praticadas durante sua passagem pela polícia, quando atuava como torturador, é de virar o estômago. Discorre sobre as técnicas utilizadas como se estivesse dando uma receita de bolo. E neste ponto, o espectador se pergunta: Como fazer chorar alguém que fala de tortura de modo tão natural? Como emocionar alguém que é tão alheio ao sofrimento de outro ser humano? E percebe-se a mesma dúvida estampada no rosto de Clausewitz.

É um elogio ao teatro. Uma consagração da arte como força transformadora.
Vale assistir.

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"I'll have an answer, or I'll have blood!"

coded by ctellier | tags: | Posted On segunda-feira, 12 de dezembro de 2011 at 21:17

meteorologia: mais um dia de sol
pecado da gula: coxinha
teor alcoolico: 1 murphy's irish red
audio: mídias e modos
video: omeletv

Straw dogs (Sob o domínio do medo) - 1971
Direção de Sam Peckinpah
Roteiro de David Zelag Goodman, Sam Peckinpah

Resolvi assistir ao filme depois de ver uma resenha no CineMasmorra - site de cinema pro qual também escrevo resenhas. Como fã de filmes de faroeste, já havia assistido a um filme dirigido por Peckinpah - o excelente “The Wild Bunch” (“Meu ódio será sua herança”), com William Holden e Ernest Borgnine. Achei que a exibição de violência nua e crua tivesse sido uma opção estilística especificamente para esse filme. Afinal, a maioria dos faroestes - os spaghetti nem tanto - sempre exibem violência sem disfarces, sem rodeios. Mas estava enganada. Lendo um pouco mais sobre o diretor e após assistir “Straw dogs” ficou claro que esta é uma característica dos filmes de Peckinpah, chamado por alguns críticos de “o poeta da violência”.

Baseado em um livro de Gordon Williams - "The Siege of Trencher's Farm" - o filme conta a estória de David Sumner (Dustin Hoffman), um matemático, e Amy Sumner (Susan George), sua esposa. Casados há pouco tempo, mudam-se para a cidade natal de Amy, um vilarejo no interior da Escócia. Passam a morar na casa em que ela viveu parte da infância e adolescência, e contratam alguns antigos conhecidos de Amy para consertar o telhado da garagem. À medida que o filme avança, a animosidade entre os “locais” e David vai aumentando, culminando numa sequência final de tirar o fôlego.

Aviso: não há possibilidade de tecer alguns comentários sem dar spoilers. Portanto, se o caro leitor ainda não assistiu ao filme, continue a leitura apenas se isso não o incomodar.


O diretor opta por mostrar esse estranhamento entre David e os moradores logo de cara. É bastante instigante o modo como percebemos quase imediatamente a implicância com David e a atenção com Amy. Mais instigante ainda pois, a princípio, o casal parece não notar essa reação (quase xenófoba) dos moradores locais - entenda-se como locais um ex-namorado de Amy, Charlie Venner (Del Henney), seus familiares (tio, primo, etc) e amigos.

Desde o início, David é visto como um estranho. Os locais o acham esquisito. E não há dúvida, ele é um estranho no ninho. Um matemático americano, franzino, inexpressivo e, aos olhos da turma que lhe conserta a garagem, covarde também. Referem-se a ele às gargalhadas, sendo sempre motivo de chacota. Por outro lado, Amy é a moça desinibida, atrevida e conhecida deles. A quem dedicam um “olhar” mais intenso e, na maioria das vezes, lascivo. Conflito 1: intelectual versus bando de caipiras.

Importante também no desenrolar da estória, é a condição do relacionamento do casal. Parecem estar fora de sincronia. Amy, ao voltar à casa paterna, parece regredir em idade e várias vezes comporta-se como uma adolescente, o que se contrapõe à seriedade de David, que quer concentrar-se em seu trabalho. Desde a travessura de inverter um sinal no quadro-negro que David usa para escrever suas fórmulas, passando pelo modo de sentar-se, até o jeito de mascar chiclete feito criança, com a boca aberta. Conflito 2: intelectual versus esposa infantilizada. Incomodada com a situação - pelo que acredita ser um distanciamento proposital do marido - Amy usa seu atrevimento para tentar atrair a atenção de David. Porém, o efeito não é o esperado. Na tentativa de suscitar o interesse de David - sem sucesso - acaba atraindo ainda mais o dos rapazes. E esse conflito intensifica-se quando Amy percebe ser alvo dos olhares dos rapazes e, ao queixar-se a David, percebe que ele não tem intenção de tomar qualquer atitude. Ela, então, assim como os locais, passa a vê-lo como um covarde.


Difícil assistir ao filme e não compará-lo a "Funny Games", de Michael Haneke (crítica aqui). A temática é a mesma – a violência – mas o enfoque, a abordagem é totalmente distinta. Contudo, mesmo tão diferentes, suscitam no espectador questionamentos similares, comuns a ambos os filmes. Há ocasiões em que a violência é justificável? Se sim, em quais situações é válido – ou mesmo justo – fazer uso dela? E onde se localiza a linha tênue que delimita essa fronteira? Essa linha realmente existe? No lugar de David, o espectador agiria da mesma forma? David tinha outra opção além de reagir?

Mas o filme de Peckinpah vai um pouco além. Ele explora o que acontece depois que a violência se instala. Depois que ela se inicia, há um limite em que não é mais possível retroceder? Na aviação há o chamado “point of no return” – localização a partir da qual não é mais possível retornar, apenas seguir em frente. Será que quando a violência se instaura existe algo assim, irreversível? E mais, atravessar esse limite é involuntário? Ou, como Júlio César ao atravessar o Rubicão, a passagem é feita deliberadamente para que não haja possibilidade de voltar atrás? Depois que os rapazes iniciaram as animosidades, havia um ponto em que ainda poderiam “desistir”? David estava tão imbuído da sua “missão” que era impossível parar? Seus motivos eram razoáveis? Sua reação foi desproporcional à sua motivação?

Referente à essa última questão, ela é salientada devido à transformação bastante abrupta nos “modos” de David. Conforme um amigo escritor gentilmente me lembrou, sua atitude muda drasticamente quase da água para o vinho. Num instante ele é um “banana”, que se esconde por trás dos óculos e se encolhe face a qualquer ameaça à integridade de sua rotina; e momentos depois, quase num passe de mágica, converte-se num misto de brucutu e estrategista, algo como um Rambo com habilidades de McGyver. Talvez tenha sido opção do diretor, para evidenciar a metamorfose induzida pelo uso e aceitação da violência como solução de conflito. E, mesmo que me incomode e ache que poderia ter sido um pouco mais sutil, o objetivo foi atingido, pois é impossível não deixar-se impressionar com a transformação operada. Destaque para a atuação de Hoffman, que personifica com extrema competência ambas as facetas do personagem.


Interessante também é a posição em que Peckinpah coloca o espectador. Já na cena de abertura observa-se o vilarejo do alto (quase uma tomada plongé), como um deus observando sua “fazenda de formigas”. E mais de uma vez durante o filme, o público assiste aos acontecimentos desse ponto de vista (*). Diferente de Haneke - em que o espectador sente-se de certo modo cúmplice do que ocorre - Peckinpah faz dele uma testemunha. Testemunha de mãos atadas, cujo único direito é perguntar-se se, estando na mesma situação do protagonista, reagiria da mesma forma. E questionar-se acerca de quanto da atitude de David e dos agressores é fruto da sua natureza e quanto é decorrente da cadeia de eventos que os envolve.

Lembrei também de um outro filme: “Irréversible” (Irreversível), dirigido por Gaspar Noé, que também explora essa perspectiva. Tensão crescente à medida que a estória avança, culminando numa explosão de violência. (No caso de “Irréversible”, a tensão é aparentemente decrescente, já que o filme exibe a estória de trás para frente.) A violência extrema em algumas cenas também é um ponto em comum. Mas no filme francês, os personagens não são tão tridimensionais, com características tão palpáveis. Em “Straw dogs”, ninguém é perfeito. Os personagens são irritantemente verossímeis, pois todos são, de alguma forma, perdedores, gente comum tomando decisões erradas. Não há como gostar de algum 100%. E isso é um fator que causa certo incômodo também – além da temática – pois são pessoas tão “normais” que a identificação é inevitável. Em diversos momentos, o espectador indaga-se “Poderia ser comigo... E se fosse? O que eu faria?”.

E enquanto Haneke não exibe a violência na tela – exceto por uma das cenas – Peckinpah a mostra com riqueza detalhes. Fazendo jus à sua alcunha, tem extremo cuidado na coreografia de cada plano, cada sequência. Apesar de chocantes, o espectador é obrigado a admitir que as cenas são plasticamente admiráveis. E a montagem também é primorosa. Destaque para a cena de estupro cuja interpolação das imagens cria um efeito interessante. Enquanto na primeira sequência, a alternância expõe a frustração de dois personagens (David e Amy) no mesmo momento por motivos bastante distintos; na segunda, as lembranças do acontecido mixadas à balbúrdia das crianças na festa da igreja induzem no espectador a mesma náusea que a personagem experimenta, não conseguindo apagar da memória a violência sofrida. Além disso, as imagens intercaladas refletem também a dubiedade do comportamento de Amy ao ser violentada. Ela resiste e, alternadamente, beija e acaricia o primeiro estuprador.


Essa cena é marcante, não só pelo seu teor e pela maneira excepcional com que foi construída. A cena, em si, é também ambígua. Habilmente , Peckinpah incute no público a suposição de que esse fato será o catalisador do conflito “físico” entre David e os locais. Mas o matemático recorre à violência por motivos totalmente diversos, já que, aparentemente, ele sequer suspeita do que ocorreu com Amy. E, de acordo com sua natureza, os motivos são plausíveis apesar de bizarros aos olhos do espectador que, neste caso, sabe mais que o personagem. Contudo, se o espectador soubesse o mesmo que David, consideraria que os motivos eram, além de plausíveis, suficientes para justificar a fúria que o impele? Pois, de certo modo, aceitamos suas atitudes já que a nosso ver, David (mesmo não estando ciente disso) está defendendo sua honra, a honra da esposa violentada – e não apenas evitando a invasão de sua casa .

E Peckinpah consegue deixar o público com a estranha sensação de que não há certo ou errado. De maneira genial, ao término do filme, faz com que o espectador já não tenha certeza de suas convicções. Ficamos, de certa forma, perdidos – assim como os personagens na cena final: “Não sei voltar pra casa.” - diz Henry, ao que David responde: “Nem eu.”



(*) Essa opção talvez tenha relação com o título do filme.
O título vem de uma citação de Lao-Tzu, filósofo chinês: “Céu e terra não são humanos, e olham as pessoas como se fossem cães de palha”.

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Acepipes natalinos

coded by ctellier | tags: | Posted On domingo, 11 de dezembro de 2011 at 20:57

meteorologia: finalmente um dia sem chuva
pecado da gula: pão doce
teor alcoolico: 2 itaipavas
audio: contra relógio no ar #32
video: criminal minds

Não ligo muito para essas datas festivas. Toda a simbologia a que a maioria das pessoas se remete sobre renascimento, reinício e afins, simplesmente não faz parte do meu pensamento. Obviamente, é difícil ficar totalmente imune, o que já admiti neste post sobre resoluções de ano novo.

Eu sei, sou naturalmente ranzinza. E essa euforia festiva me exaspera bastante. Além do mais, acho uma chatice ter de enfrentar uma multidão a cada vez que se resolve sair de casa para ir a qualquer lugar "de compras", seja um mercado ou um shopping. Essa ânsia consumista me irrita. Muito mesmo.

Mas, apesar de tudo, a porção comestível da comemoração sempre me agradou. Mesmo achando ser totalmente desnecessário esperar "as festas" para degustar certas iguarias culinárias. Atire um punhado de passas quem nunca desejou se empaturrar de panetone (ou chocotone) em pleno inverno. Acompanhado de um café bem quentinho, assistindo um bom filme, enfiado sob as cobertas. Não seria ótimo? Eu, naturalmente, em geral não espero e, vez ou outra, preparo algumas delas durante o ano.

E a lista de hoje é justamente sobre essas delícias que (indevidamente) ficam relegadas à última semana do ano - e as sobras, às semanas seguintes.

(obs.: são as que comumente se consome aqui em casa e não necessariamente as mais tradicionais)


  • Peito de peru assado
  • Magret de canard
  • Haddock au beurre
  • Escargots
  • Vol-au-vent (em geral, recheado com as sobras de peru ou haddock)
  • Pain perdu (rabanada)
  • Panetone (ou chocotone)
  • Sonho
  • Stollen
  • Bûche de noël


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Literatura online

coded by ctellier | tags: , | Posted On sábado, 10 de dezembro de 2011 at 03:20

meteorologia: chuva e mais chuva
pecado da gula: churrasco
teor alcoolico: 2 original
audio: queen video: eldorado

Estou em fase de leitura intensa, como há algum tempo não ocorria. Aproveitando a "onda", segue uma lista de blogs e/ou sites sobre literatura que eu acompanho e leio quase diariamente:





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Moleskine » Cap.2 - Perseguindo tempestades cerebrais

coded by ctellier | tags: , | Posted On quinta-feira, 8 de dezembro de 2011 at 07:18

meteorologia: amanhecer nublado
pecado da gula: pão na chapa com manteira
teor alcoolico: nada ainda
audio: riverdance
video: karate kid

Já que hoje tem palestra do autor de "Muito além do nosso eu", na Livraria Cultura, é a ocasião perfeita para publicar mais um post sobre o livro.


Todo o capítulo gira em torno do embate entre localizacionistas e distribucionistas. Mas o título explicitamente já conduz o leitor na direção do processamento distribuído. O que não é de se estranhar, já que o autor no capítulo anterior frisou a intenção final do livro: mostrar ao leitor que o essencial são as “populações de neurônios.”

O primeiro confronto relatado é em uma palestra, a primeira de muitas, ministrada em Oxford por Lorde Edgar Douglas Adrian, em 1946. O assunto: a discussão sobre a provável sede da inteligência. Lorde Adrian discorre que, assim como em diversos outros assuntos, no final do século XVII, os filósofos de Cambridge e Oxford tinham opiniões opostas sobre o assunto. Enquanto em Cambridge defendia-se que a inteligência ficava localizada numa parte do corpo, em Oxford defendiam a proposição mais improvável (na época) de que ficava espalhada por todo ele.

Lorde Adrian, que dividiu o prêmio Novel de Fisiologia e Medicina em 1932, sendo de Oxford, claramente pendia para o lado defendido pela sua universidade. E, ele foi, nas palavras de Nicolelis:
“(...) o primeiro neurofisiologista a medir com exatidão como informações sensoriais sobre o mundo externo e o corpo são codificadas em salvas de eletricidade, a linguagem da mente, para então serem transportadas por nervos periféricos para todo o cérebro.” Ponto para os distribucionistas.

Logo adiante, o autor cita mais dois embates: Galvani versus Volta e Newton versus Einstein. Sobre o primeiro escreve: “A disputa entre Galvani e Volta, repetida muitas vezes na história da ciência, ilustra o fato de que a natureza, aparentemente, não escreve seus concertos com apenas um punhado de notas triviais.” Assim como já observado, e que se repetirá ainda muitas vezes no decorrer do livro, Nicolelis mais uma vez nos remete a uma metáfora musical para exemplificar o teor da discussão.

Acerca do segundo, em que o “formato” da luz é a questão central – partícula versus onda - somos apresentados a Thomas Young. Digo apresentados pois, apesar de conhecer o trabalho desse homem da ciência, não me recordava de ter algum dia sabido seu nome. Médico, físico, egiptólogo, fisiologista, linguista e, conforme Nicolelis, o “primeiro neurocientista computacional da história”. Numa época em que o termo multi-tarefa sequer existia, ele certamente encaixava-se nessa categoria. E o nome da biografia escrita por Andrew Robinson não deixa dúvidas sobre isso: “The Last Man Who Knew Everything: Thomas Young, the Anonymous Polymath Who Proved Newton Wrong, Explained How We See, Cured the Sick and Deciphered the Rosetta Stone” (“O último homem que sabia tudo: Thomas Young, o anônimo polímata que provou que Newton estava errado, explicou como nós enxergamos, curou os doentes e decifrou a Pedra Roseta, entre outras proezas geniais”).

Eu já tinha conhecimento do experimento da dupla ranhura (double-slit experiment), mas admito que não fazia a menor ideia de quem o tinha concebido. Mais admirável ainda, foi saber que Young, um ano após a realização do experimento que desmentiu Newton, começou a formular o que viria a ser a teoria distribuída de codificação neural – que eu conhecia como teoria tricromática da visão colorida. O que nos leva a mais uma disputa: Thomas Young versus Franz Gall. Segundo Roberto Erickson, colega de Nicolelis na Duke e um dos poucos capazes de falar sobre a origem da richa: todo localizacionsta tem Gall por ancestral, enquanto todo distribucionista é herdeiro de Young.

Mas, independente do confronto de ideias, o mais incrível foi aprender que, sem nenhuma outra fonte de dados além do próprio raciocínio, Young previu a existência de 3 tipos distintos de receptores de cores na retina. Nada além dos seus próprios neurônios, nenhum equipamento, nenhuma outra pesquisa. Apenas sua lógica dedutiva. Hoje, num mundo em que praticamente qualquer experimento, dedução ou comprovação de uma teoria não é factível sem a utilização de computadores e/ou calculadoras superpotentes, tal feito é simplesmente inimaginável.

E dois séculos depois foi provado que os neurônios, ou melhor, o sistema neuronal descrito por Young – neurônios de banda larga – são o padrão e não a exceção. Mais uma disputa “vencida” pelos distribucionistas.

“Curiosamente, sem ter acesso a qualquer um dos instrumentos computacionais e outros artefatos de alta tecnologia que abundam nos modernos laboratórios de neurofisiologia, Thomas Young, munido apenas de papel, tinta, uma pena e muitas velas para iluminar seus devaneios notívagos, foi capaz de deduzir intuitivamente uma das mais fundamentais leis da ciência da mente. Apenas pelo pensamento.”

Imediatamente ao terminar de ler o parágrafo acima, veio-me à mente algo que sempre assombra meus pensamentos: ao delegarmos a essas “máquinas” o processamento de nossas ideias, estamos utilizando nossos neurônios na mesma proporção para aprender e apreender coisas novas e diferentes, ou simplesmente permitindo que eles fiquem cada vez mais preguiçosos? Pergunto-me repetidamente se nossos antepassados “pensavam” mais e melhor que nós hoje.

E o autor, finaliza a lista de confrontos, falando sobre Camillo Golgi e Santiago Ramón y Cajal. Como Nicolelis o descreve:
“Microscopista quase mágico, Ramón y Cajal combinava uma habilidade laboratorial até então inigualável com um dom artístico apurado para o desenho e uma criatividade para a abstração pouco comum entre seus pares.”
Como já havia comentado, foi de Cajal o primeiro desenho (fiel) de um neurônio que vi num livro de neuroanatomia na faculdade. E a técnica utilizada para Cajal visualizar e, posteriormente, desenhar os neurônios levava-o a inferir que cada célula era uma unidade de processamento. Enquanto isso Golgi remava contra a maré, propondo que “a fusão de axônios era responsável pela gênese do que ele chamou de redes de nervos”.

E, numa ironia do destino (para quem acredita que ele existe), ambos dividiram o Nobel de Fisiologia e Medicina em 1906. Com um discurso inspirado e inflamado, Cajal envolveu os presentes e, aparentemente, saiu vencedor do confronto. Mais dois séculos e a grande maioria dos neurocientistas (termo cunhado justamente nessa premiação de 1906) acredita que Golgi estivesse certo em sua visão mais abrangente. E silenciosamente, a rede neural mais uma vez venceu a disputa.


Referências:
Biografia de Thomas Young, na Livraria Cultura
Descoberta da bioeletricidade: Galvani x Volta
Experimento dupla ranhura: vídeo e texto
Teoria tricromática

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A caminho de 2012

coded by ctellier | tags: | Posted On terça-feira, 6 de dezembro de 2011 at 15:18

meteorologia: nublado ainda
pecado da gula: pão na chapa com manteiga
teor alcoolico: nada por hoje
audio: danycast #99
video: italian job

Menos de 4 semanas até começar 2012 e eu, que não pretendia fazer lista de resoluções de Ano Novo, já incluí dois itens nela.

Como na França diz-se "Nunca dois, sem três" ("Jamais deux sans trois"), para não deixar a lista capenga, resolvi incluir mais um item e completar a minha tríade de interesses - cinema, literatura, corrida.

É um objetivo repetido, pois tentei este ano e não consegui. E a minha lista ficou assim:

  1. Assistir a um filme ou episódio de série por dia.
    Ou isto ou aquilo
  2. Ler um livro por mês, no mínimo, e escrever um post sobre o selecionado.
    Desafio literário
  3. Completar uma maratona em 4h ou menos.
    Ainda não resolvi qual fazer, mas certamente escolherei uma cujo percurso não seja acidentado demais

Bom, chega né? Quanto maior a lista, menor a probabilidade de conseguir cumprir todas as proposições. Melhor parar por aqui então.


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Desafio literário

coded by ctellier | tags: , | Posted On segunda-feira, 5 de dezembro de 2011 at 20:14

meteorologia: frio e garoa... cadê o calor???
pecado da gula: bombom com avelã
teor alcoolico: 1 smirnoff ice
audio: podcast pipoca e nanquim 53
video: breaking bad

Depois de ler este post no Leitura Escrita, cheguei à conclusão de que a sugestão do Desafio Literário seria uma ótima oportunidade para (tentar) zerar minha fila de leitura. A ideia é ler um livro por mês, o que não é difícil. Mais difícil é resistir às tentações e não adquirir outros.

O primeiro desafio foi listar todos os livros ganhos ou adquiridos, e não lidos, espalhados pela casa. O segundo, conseguir encaixar os itens da minha lista nos temas de cada mês. E não foi possível. Consegui apenas quatro. Então desencanei e alterei os demais temas a fim de adaptar a lista aos meus livros.

E ficou assim:

Jan/2012 – Literatura Fantástica
Guerra dos Tronos
J.R.R.Martin

leitura ✔
post ✔
"Winter is coming"





Fev/2012 – Nome Próprio (de pessoas)
Clarice,
Benjamin Moser

leitura ✔
post ✔
A esfinge





Mar/2012 – Lendas universais
O andarilho - Trilogia do Graal (vol.2)
Bernard Cornwell

leitura ✔
post ✔
"Calix meus inebrians"





Abr/2012 – Escritor(a) oriental
Battle Royale
Koushun Takami

leitura ✔
post ✔






Mai/2012 – Escritor(a) russo(a)
Os irmãos Karamazov
Fiodor Dostoievski

leitura
post






Jun/2012 – Livro que virou desenho animado
As viagens de Gulliver
Jonathan Swift

leitura
post






Jul/2012 – Neurociência
Do que é feito o pensamento
Steven Pinker

leitura
post






Ago/2012 – Terror
Shining
Stephen King

leitura
post






Set/2012 – Geração Beat
On the road
Jack Kerouac

leitura
post






Out/2012 – Graphic Novel
Fun Home
Alison Bechdel

leitura
post






Nov/2012 – Livro que virou filme
Contato
Carl Sagan

leitura
post






Dez/2012 – Policial
Sherlock Holmes - Edição completa
Arthur Conan Doyle

leitura
post






Lendo esses 12, ainda restam 14, que eu tenho certeza serão acrescidos por várias compras por necessidade, ou melhor, impulso. Já que, para quem ainda não percebeu, além de leitora eu sou uma colecionadora de livros compulsiva. E, para completar, estou certa de que algum deles vai acabar furando a fila e sendo lido antes do previsto.

P.S.: A intenção é, não apenas ler mas também, escrever um post sobre cada livro lido. Acho que esse é o desafio maior.

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Drops » Dragões de éter

coded by ctellier | tags: , | Posted On domingo, 4 de dezembro de 2011 at 09:39

meteorologia: nublado
pecado da gula: pizza amanhecida
teor alcoolico: nada ainda
audio: podcast cinema em cena #12
video: patriot games

Dragões de éter - Caçadores de bruxas, de Raphael Draccon

Havia comprado o livro (autografado) em um workshop sobre a jornada do herói, ministrado pelo Eduardo Spohr e pelo próprio Raphael Draccon, há mais de um ano. Ele estava quase no fim na minha (sempre extensa) lista de leitura. Até que me inscrevi em um outro workshop, desta vez sobre roteiro, com o Draccon. Achei que deveria, antes da data do workshop, ao menos saber como ele escrevia e se eu gostava ou não do que ele escrevia. E o primeiro volume de "Dragões de éter" cortou a fila.

Admito que o título e algumas resenhas deixaram-me meio com "o pé atrás" antes de iniciar a leitura. Tive a impressão (felizmente errônea) de que a estória era fantasiosa e espiritual demais para o meu gosto literário. E, logo nas primeiras páginas, fui favoravelmente surpreendida por uma narrativa despretensiosa e ao mesmo tempo sedutora, repaginando de modo bastante criativo os contos de fadas que povoaram meu imaginário durante a infância.

Duas características - além da estória em si, lógico - acredito que sejam responsáveis pelo fato do livro agradar tanto. A narrativa é feita em terceira pessoa. E o narrador é uma atração à parte. Bastante parcial e opiniático, conversa com o leitor de uma maneira que o deixa confortável e muito à vontade com todo o universo da estória. Fez-me lembrar bastante o narrador de "O hobbit", com seus comentários, por vezes jocosos, no decorrer da narrativa. Outro facilitador são os capítulos pouco extensos. Sei que é psicológico, mas iniciar a leitura e ver que o capítulo estende-se por vinte e tantas páginas às vezes é desanimador. Com capítulos curtos, além de sabermos que podemos lê-los em pequenos intervalos de tempo, avançamos na leitura sem perceber. É algo assim: "ah, este capítulo é pequeno... só mais um... só mais um...". E quanto notamos, a noite avançou e ainda estamos imersos, acompanhando as aventuras e desventuras dos personagens.

Se alguém me pedir indicação de um livro de literatura fantástica (mesmo não especificando que deva ser brasileiro), eu certamente irei sugerir "Dragões de éter". Aliás, farei isso principalmente se quem pedir a indicação não for leitor assíduo desse estilo de narrativa. Acredito que o talento de Draccon consiga despertar o interesse por literatura fantástica até em quem habitualmente lê romances ou biografias. Afinal, a estória é envolvente, a premissa é inteligente, a escrita é fluida. E não há como negar, vender 70 mil exemplares num país que não tem muito o hábito da leitura e mais, não tem tradição em literatura fantástica, é algo que não pode ser desconsiderado.

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"I hate these people"

coded by ctellier | tags: , | Posted On terça-feira, 29 de novembro de 2011 at 22:26

meteorologia: as chuvas de verão começaram
pecado da gula: duas empadas
teor alcoolico: 2 stella artois
audio: nina simone
video: videocast cinema em cena

Damages

Arthur: I know you don't give a shit about justice, Patty. So what do you want?
Patty: I want you disgraced. I want history to erase your every achievement. I want you to feel the disgust in your children's eyes when they look on you in shame.


Sempre gostei de filmes e séries de tv sobre advogados, julgamentos e afins. Não que a profissão me atraia. Não tenho, nem nunca tive qualquer intenção de seguir alguma carreira da área de Humanas. Mas esse papel misto de investigador, psicanalista e advogado propriamente dito que os advogados das séries americanas assumem sempre foi um grande atrativo.

Durante algum tempo, não perdia um episódio sequer de “The practice” nem de “Ally McBeal”. A primeira, mais séria, sempre com casos controversos e difíceis, que justificam o título em português – “O desafio”. A segunda, com uma abordagem bem mais leve, eventualmente flertando com a comédia. Também assistia esporadicamente “Boston Legal” e “Law & Order”.

Já há algum tempo escuto falar, ou melhor, leio a respeito de “Damages”, série originalmente produzida pelo canal FX. Assisti a partes de um ou outro episódio, mas nunca cheguei a acompanhá-la. Como a série está disponível no NetFlix, resolvi “começar do começo” e assistir à primeira temporada. Inicialmente, tinha o propósito de alternar com outras séries que assisto atualmente – “Breaking Bad”, “Criminal Minds” e “Fringe”. Mas depois de assistir ao primeiro episódio, só conseguia pensar em assistir ao seguinte. E terminei de ver toda a temporada em menos de 5 dias.

Não me recordo de ter assistido a uma série com um roteiro tão bem escrito e tão bem “amarrado”. Diferente das outras séries citadas – e da maioria das séries investigativas – não há um caso por semana (ou por episódio) a ser resolvido. O arco narrativo estende-se por toda a temporada, o que é um trunfo para deixar o espectador com vontade de seguir assistindo. Mas poderia ser um tiro no pé, caso o roteiro e a montagem não estivessem tão bem estruturados.

E já que a estória é uma só, antes de continuar minhas considerações (*), segue um ligeiro resumo. Patty Hewes (Glenn Close) – chefe e sócia-proprietária de um conceituado escritório de advocacia, Hewes & Associates – tem em mãos um processo coletivo contra Arthur Frobisher (Ted Danson) - um grande empresário acusado de fazer uso de informação privilegiada ao vender as ações de sua própria empresa. Para ajudá-la, Hewes conta com Tom Shayes (Tate Donovan) – advogado e seu assistente direto – e Ellen Parsons (Rose Byrne) – advogada recém-formada e recém-contratada por Hewes. Em seu meio, Hewes é considerada uma profissional sem escrúpulos e conhecida pelos métodos pouco ortodoxos de alcançar o que pretende.

Mas o que faz esta série ser tão acima da média em relação às demais produções com a mesma temática? Basicamente é o roteiro. Bastante inovador e inteligente, é muito bem-sucedido ao conduzir o espectador pelos meandros da narrativa. Assim como alguns personagens são alertados durante a estória, nem tudo é o que parece ser. É natural que o espectador acredite e tire conclusões de acordo com o que está vendo. Ou melhor, com o que está sendo exibido. E, alguns episódios depois, uma cena, um detalhe que não tinha sido mostrado anteriormente, faz mudar todo o raciocínio, assim como o rumo da estória. A montagem certamente foi feita com esse intuito de conduzir e induzir o espectador. Em certos momentos, a impressão que tive foi de estar assistindo a um truque de mágica. Minha atenção sendo desviada – eficientemente desviada – para depois ser pega de surpresa com uma descoberta do tipo “Ah, então isso não era isso... era aquilo!” E este recurso é o que torna a narrativa tão deliciosamente intrigante.

Outro recurso usado de forma bastante eficaz é o de linhas temporais distintas. Prefiro não chamar de flashbacks, pois acho que não reflete exatamente o conceito utilizado. Algo que poderia se tornar cansativo, com muitas idas e vindas do presente ao passado, serve com perfeição à finalidade de transformar a estória num quebra-cabeça que ansiamos por ver finalmente montado. Acompanhamos duas linhas temporais, o presente e os 6 meses que o antecedem. Como as incursões ao passado não são cronologicamente sequenciais, somos avisados por letreiros indicando há quanto tempo o fato ocorreu - 5 months earlier, 3 weeks earlier, etc. A volta ao presente não é anunciada, mas nos é disponibilizada uma forma bastante explícita de identificá-la. A exemplo de “Traffic”, o diretor utiliza-se de um recurso visual a fim de diferenciar as linhas temporais. Enquanto no passado a imagem não sofre tratamento algum, no presente ela é alterada. As cores estão saturadas, as sombras enfatizadas e a imagem está um pouco mais granular que o normal. Certamente, com o propósito de refletir a situação de stress em que se encontra a personagem. Mas o mais interessante é reparar no momento em que as duas linhas se fundem e que os efeitos da linha temporal do presente se diluem enquanto a personagem atravessa um túnel em direção à rua.

Lógico que apenas a utilização eficiente desses recursos narrativos não seria suficiente para “segurar” a série. A estória tem de ser boa, assim como os personagens. Devido ao tema da série, não seria viável e/ou verossímil sair do lugar-comum do ambiente jurídico. Um caso polêmico, advogados de acusação, advogados de defesa, provas e testemunhas omitidas ou desacreditadas, intrigas nos bastidores. Enfim, o de sempre. Ou quase, já que cenas no tribunal e/ou à frente de um juiz são bastante raras. E, para completar, personagens cativantes, que conquistam o espectador episódio a episódio.

Patty Hewes é, per se, icônica. Tão brilhante quanto inescrupulosa. Tão inteligente quanto execrável. Tão admirável quanto desprezível. É o tipo de personagem que todos amam odiar. E a performance de Glenn Close está irrepreensível. Apesar de algumas das atitudes da personagem parecerem, aos nossos olhos, exageradas e por vezes descabidas, sua interpretação garante a verossimilhança necessária. Consegue dar o tom exato de ambiguidade que faz o público passar da crença à descrença em instantes. E boa parte disso deve-se à ótima construção da personagem. Patty não é apenas a advogada feroz e inescrupulosa. A adição de pequenos detalhes do cotidiano – ter insônia e sintonizar a tv de madrugada naqueles programas de venda de jóias ou perder a “luta” com o controle remoto da tv a cabo – humanizam a personagem e a deixam mais próxima do espectador.

Ellen Parsons também é uma personagem que se desenvolve de maneira bastante interessante no decorrer da estória. Somos apresentados, no início (cronológico) da estória a uma advogada à procura de seu primeiro emprego. Ainda idealista, ainda sem a malícia característica da profissão. A personagem chega a ser um pouco insossa, sem graça. E, à medida que a narrativa avança, testemunhamos seu crescimento, vemos florescer seu talento como advogada. A observamos “evoluir” em direção à Patty, apesar de ser nítido que não é algo premeditado. Percebemo-la absorvendo e passando a utilizar alguns dos artifícios de Patty. O desenvolvimento da personagem é realmente muito bem construído. Um dos arcos dramáticos mais interessantes da série, apesar da atuação da atriz deixar um pouco a desejar em alguns momentos. Mas isso não chega a atrapalhar.

O elenco de apoio também é bastante competente. Até Ted Danson, que eu lembrava como um paspalho em "Cheers", está muito bem. Some-se a ele Zeljko Ivanek (ótimo como o advogado de Frobisher), Peter Facinelle (antes de fazer parte da família de vampiros purpurinados), Philip Bosco (que eu lembrava como Otis, de "Kate & Leopold)", Tate Donovan (pai da Marisa em "O.C."), Peter Riegert (figura conhecida em várias séries televisivas, inclusive "The Sopranos").

Em resumo, vale muito a pena assistir. E não é preciso ser fã de séries com advogados para gostar. A qualidade é mais que suficiente para agradar a gregos e troianos.
Eu recomendo.



(*) Todas as minhas observações e comentários dizem respeito apenas à primeira temporada, que foi a única a que assisti. Sei que a série já está na 4a.temporada, mas nada me garante que as demais tenham mantido a mesma qualidade desta sobre a qual resolvi postar.

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Vamos a la playa

coded by ctellier | tags: | Posted On domingo, 27 de novembro de 2011 at 13:51

meteorologia: dia de sol
pecado da gula:
pão de queijo
teor alcoolico: 2 smirnoff ice
audio: papovirtua 5x19
video: damages

Já li em vários textos científicos (ou não) que, quanto à “disposição”, as pessoas dividem-se entre matutinas, vespertinas e noturnas. Rendem melhor em determinado horário do dia. Falando especificamente sobre prática de exercícios - o que, no meu caso, inclui corrida, bike, musculação e boxe - sou indubitavelmente matutina. Prefiro mil vezes madrugar pra ir correr, do que ter de fazê-lo ao final do dia, depois do expediente de trabalho, quase sempre cansativo. Some-se a isso o fato de que treinar descansada, depois de uma boa noite de sono é bem mais prazeroso. E mais, o dia parece render, já que a endorfina dá um gás extra para encarar tudo o que temos a fazer.

Isso posto, é bastante lógico que eu evite provas noturnas de corrida. Além do que já foi dito, acho difícil dar o meu melhor depois de um dia todo em atividades domésticas comuns: faxina, feira, mercado, etc. Mas, regras são feitas para que façamos exceções a elas. Assim, eventualmente, eu corro à noite.

Foi o que aconteceu ontem. Participei da “98 Beach Running”, evento promovido pela Rádio 98 FM e organizado pela Prefeitura de Santos (percurso aqui). É isso mesmo, desci a serra para correr. Convidada a participar por um antigo colega de trabalho que mora em Santos, achei que variar um pouco seria, no mínimo, interessante. E, no caso, a variação foi grande. Corrida fora de São Paulo, à noite, na praia. Não satisfeita, para sair totalmente do padrão, adicionei mais uma variação: resolvi estrear meu Five Fingers numa prova (um KSO, veja aqui).

O colega que fez o convite, Renato Sabino, tinha alertado (não exatamente com estas palavras): “É a primeira edição da prova, não sei como é a organização, portanto, venham munidos de paciência.” Sábio e valioso lembrete. Foi o que fiz. Estava resolvida a não deixar pequenas “turbulências na Força” me deixarem irritada. E olha que motivos não faltaram: choveu um pouco aqui na Zona Sul no início da tarde; o táxi para a rodoviária atrasou; apesar das dicas do Sabino, peguei o ônibus errado e, em consequência, desci no ponto errado da praia; tive de esperar pelo “resgate” em local desconhecido (o problema nem era o desconhecido, mas eu detesto esperar). Enfim, apesar de tudo estava orgulhosa de mim por conseguir me manter zen durante a sucessão de pequenos desastres. Porém devo admitir que tive um certo auxílio. Ter aproveitado o tempo da viagem para fazer algo que eu adoro - ler - fez toda a diferença. Passar uma hora direto mergulhada na leitura tem em mim um efeito calmante e, ao mesmo tempo, revigorante. Desci do ônibus disposta. Pronta para qualquer desafio, inclusive encarar eventos adversos.

Bom, agora sobre a prova. Os kits para “estrangeiros” seriam entregues das 19:00 às 19:30. Chegamos atrasados, por volta das 20:00. Mas devido à (falta de) organização, os kits ainda estavam sendo distribuídos. Kit em mãos, seguimos para a tenda da assessoria que o Sabino utiliza. Hora de colocar o número de peito, ajustar o mp3 player com a playlist escolhida, ligar o Garmin pra ver se o GPS estava “pegando”, passar vaselina nos pontos de atrito e, lógico, trocar minha sandália pelo Five Fingers. Apesar da sugestão do Joel Leitão (@joelleitao) - bastante tentadora até - de correr descalça, acabei optando pelo meu carinhosamente apelidado “pé de hobbit”. Explico. Correríamos boa tarde do tempo na faixa de areia dura e úmida da praia. E, em ocasiões anteriores, essa prática já tinha me presenteado com duas bolhas gigantes, uma embaixo de cada dedão do pé. Não quis arriscar e fui estrear meu KSO na areia. Muita vaselina sobre, sob e entre os dedos, pés de hobbit calçados e a deliciosa sensação de estar descalça, mesmo não estando.

Fiquei um pouco preocupada ao caminhar na areia fofa até a largada. Mas o temor foi totalmente infundado. Apesar da cobertura telada do KSO, nenhum grão de areia adentrou o calçado para me incomodar durante a corrida. Ponto positivo.

Já que a minha ideia era apenas curtir a corrida e ver como me saía numa prova com o Five Fingers, não estava muito encanada com o tempo. Mas seria hipocrisia afirmar que não importava o meu pace. Lógico que importava. Pouco, mas não o suficiente para me deixar frustrada caso não conseguisse me manter ao menos em ritmo de treino. Acostumando ainda com o terreno e ajustando aos poucos a passada, fiz os dois primeiros quilômetros a 5:40min/km (o registro do percurso está aqui). Depois disso, achei meu ritmo e fui até o final variando ligeiramente entre 5:25 e 5:30. Pace mantido, sem sacrifício, em ritmo de treino de rodagem. Mais um ponto positivo.

Quem já correu na areia sabe, é uma delícia. Quem não correu, tem de experimentar, pois a sensação é ótima. E com o KSO não foi diferente. Aliás, foi muito melhor, mais agradável do que calçando tênis. Descalça também é muito bom, mas o pé de hobbit dá aquela tranquilidade de correr sem ter de se preocupar onde pisa. Eu detesto ter de correr olhando para o chão, para evitar pedras, varetas, buracos e, infelizmente, até lixo. E, mesmo com a iluminação da praia, à noite é sempre maior a probabilidade de deixar passar despercebido algum “desnível” do solo. Corrida tranquila, foco no movimento e não no chão à frente. Mais um ponto a favor.

Terminei a corrida bem. Aliás, melhor do que o esperado, já que tinha disposição - e pernas - para correr tudo de de novo. Como já tinha comentado no post citado acima, correr com o Five Fingers faz a gente não ter vontade de parar. E confirmei isso mais uma vez.

Agora, o pós-prova. Meu pé sua demais. Muito mesmo. Então, apesar da vaselina, vez ou outra, termino uma prova com pequenas bolhas. Mas não desta vez. Apesar de não estar sentindo nada de diferente enquanto caminhava de volta à casa do Sabino, havia a possibilidade de elas terem se formado. Descalcei o pé de hobbit e não havia nada, nem areia dentro deles, nem bolhas nos pés. Mais um ponto positivo.

Day after. Cansaço natural, afinal fiz tudo diferente do que estou habituada. Mas nenhuma dor anormal. Aliás, dor alguma. Achei que talvez fosse sentir as panturrilhas, mas nem isso. Acho que minha adaptação ao Five Fingers está quase completa. Agora, só falta o asfalto. Mas isso fica para o próximo ano (acho).

Saldo da experiência: definitivamente, calçado minimalista - no caso, o Five Fingers - é uma ótima opção para corrida. Eu duvidava disso antes de comprar e fazer o test-drive. Agora tenho certeza. Mas nem tanto ao mar nem tanto à terra. Não sou do tipo que vai largar os tênis de uma vez por todas e adotar o bare footing. Assim como variamos os treinos - tiro, fartlek, intervalado, rodagem -, acredito que variar o calçado também faz parte da “brincadeira”. Posso afirmar sem sombra de dúvida que, para mim, fazer parte dos treinos de corrida com meu pé de hobbit é muito, muito bom. Recomendo ao menos experimentar um vez. É isso.

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Leitura viajante

coded by ctellier | tags: , | Posted On sábado, 26 de novembro de 2011 at 10:57

meteorologia: será que sol e calor vieram pra ficar?
pecado da gula: pão na chapa
teor alcoolico: nada ainda
audio: podcast cinemaemcena #11
video: damages

Há algum tempo fiz um post listando livros sobre relatos de viagens. Apesar desse tipo de literatura figurar nas prateleiras de não-ficção, em alguns casos a narrativa é tão envolvente que temos a impressão de mergulharmos num universo distante do real.

E, enquanto escrevia, veio-me a ideia de fazer outra lista. No caso, com livros (de ficção) cujo tema central são viagens. Certamente, eu poderia considerar que deslocamentos temporais sejam viagens. Mas prefiro ater-me ao sentido mais "geográfico" do termo.

Não tão supreendentemente assim, só conseguia me lembrar de livros de Jules Verne. E a listagem, que originalmente, seria sobre livros de viagem, tornou-se uma sobre os meus prediletos desse autor.

A propósito, a maioria deles versa sobre viagens ou tem algum viagem como pano de fundo. Enfim, não me distanciei tanto assim do meu tema inicial.

  • Os 500 milhões da Begum
  • Capitão Háteras
  • Volta do mundo em 80 dias
  • Viagem ao centro da terra
  • Um capitão de quinze anos
  • Três russos e três ingleses
  • Vinte mil léguas submarinas
  • Tribulações de um chinês na China
  • A ilha misteriosa
  • Os filhos do capitão Grant

Obs.: Ao invés de linkar cada um dos livros, achei mais prático linkar para o autor, e permitir que o leitor descubra outras obras além das citadas.

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Se o mundo fosse acabar...

coded by ctellier | tags: , | Posted On sábado, 19 de novembro de 2011 at 08:38

meteorologia: nublado...
pecado da gula: pão na chapa
teor alcoolico: nada ainda
audio: nerdcast #286
video: breaking bad

A humanidade é sempre tão egocêntrica que os filmes que versam sobre o fim do mundo, na sua grande maioria, na verdade versam sobre o fim da humanidade e não do mundo todo. E, quando abordam o fim do mundo, ou melhor, a ameaça de que isso ocorra, a humanidade - sempre tão apta e inteligente - está sempre lá para "salvar o dia".

Não vou discorrer sobre o assunto, já que o intuito do post é apenas listar 10 filmes sobre o assunto. Mas quem estiver a fim de ler um pouco mais sobre "fim do mundo" ou "fim da humanidade", tem post aqui.

Voltando aos filmes, os meus prediletos não são aqueles sobre ameaças à existência do nosso planeta. Eu prefiro os que enfocam o destino da humanidade após a quase total eliminação da espécie humana. Mesmo que muitos deles sejam uma paráfrase à lenda de Noé, o mundo pós-apocalíptico sempre despertou a minha curiosidade. Mas vamos à lista (nem todos são obras-primas, mas a premissa das estórias é interessante):


  • The Day After (O dia seguinte) - 1983
    direção: Nicholas Meyer
    roteiro: Edward Hume
  • Dawn of the Dead (Despertar dos Mortos) - 1978
    direção e roteiro: George A. Romero
  • Mad Max - 1979
    direção: George Miller
    roteiro: James McCausland, George Miller
  • The Road (A estrada) - 2009
    direção: John Hillcoat
    roteiro: Cormac McCarthy
  • On the Beach (A Hora Final) - 1959
    direção: Stanley Kramer
    roteiro: John Paxton
  • The Core (O núcleo) - 2003
    direção: Jon Amiel
    roteiro: Cooper Layne, John Rogers
  • I am legend (Eu sou a lenda) - 2007
    direção: Francis Lawrence
    roteiro: Mark Protosevich, Akiva Goldsman
  • The Day After Tomorrow (O dia depois de amanhã) - 2004
    direção e roteiro: Roland Emmerich
  • The dark hour (A hora negra) - 2006
    direção e roteiro: Elio Quiroga
  • Terminator Salvation (Exterminador do futuro - A salvação) - 2009
    direção: McG
    roteiro: John D. Brancato, Michael Ferris


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Pirlimpimpim

coded by ctellier | tags: , | Posted On domingo, 13 de novembro de 2011 at 14:49



Polêmicas à parte, conforme prometido no post anterior, segue a lista dos meus favoritos da coleção do Sítio do Picapau Amarelo. Perdi a conta de quantas vezes reli toda a coleção. Meus exemplares estão todos bem gastos, além de um pouco amarelados devido à ação do tempo.
Mas continuam sendo "livros de estimaçcão".



  • Reinações de Narizinho
  • Caçadas de Pedrinho
  • História do mundo para crianças
  • Viagem ao céu
  • Memórias da Emília
  • O minotauro
  • A chave do tamanho
  • Aritmética da Emília
  • A reforma da natureza
  • História das invenções


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Livros, livros e mais livros

coded by ctellier | tags: , | Posted On at 11:19

meteorologia: nublado, mas agradável
pecado da gula: chocotone
teor alcoolico: nada ainda
audio: na calçada #56
video: fringe

Conversando outro dia sobre literatura infanto-juvenil, veio-me a ideia de escrever sobre umas das coleções que marcou minha infância e adolescência: "O sítio do picapau amarelo". Qualquer pessoa com mais de 30 anos, deve se lembrar da primeira adaptação da obra feita para a TV. E eu ainda acho que foi a melhor de todas.

Os livros de Monteiro Lobato foram alguns dos primeiros que li depois de ser oficialmente alfabetizada. E, na minha opinião, essa ideia de vetar seus livros em escolas públicas é mostra de total ignorância de quem a defende. Além, obviamente de configurar-se como uma censura.

Qualquer obra deve ser analisada no contexto temporal e ambiental em que foi gerada. E não há sombra de dúvida que o vocabulário utilizado por Lobato reflete o linguajar da época. Da época em que o livro foi escrito e da época em que se passa a narrativa. E, certamente, no início do século passado era usual que se chamassem os negros de - pasmem - "negros". Nada mais natural que o autor transpusesse a fala das ruas para os textos. Sinceramente, acredito que não houvesse preconceito algum ali.

“Não é à toa que os macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens”.

E o trecho acima, parece mesmo preconceituoso? Se sim, afinal, o preconceito é contra quem? Homens ou macacos? O preconceito está na mente tacanha e medíocre de algumas pessoas, em algumas minorias, que se sentem ofendidas por um autor talentoso fazer seu trabalho da forma que esperamos que seja feita. Ou alguém duvida que a intenção é sempre deixar a estória o mais verossímil possível, apesar dos aspectos fantasiosos nela contidos? Acho um perigo esse conceito de “politicamente correto”, tão em moda atualmente. Infelizmente, parece que o intuito inicial de evitar o preconceito, acabou degringolando para uma censura velada.


Escrever realmente abre a mente. Ler também. Mas agora, neste momento em que redijo o post, refiro-me especificamente à escrita pois, enquanto escrevia o parágrafo anterior, fiz uma correlação em que ainda não tinha pensado.

Li, há algumas semanas, “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury. O livro enfoca um futuro distópico em que os livros são proibidos por conterem mensagens inúteis. O protagonista é Guy Montag, um bombeiro. E, nesse futuro, os bombeiros são os responsáveis por incendiar os livros confiscados. Em certo ponto da narrativa, o chefe de Montag conta-lhe como tudo começou. Por que os livros passaram a ser proibidos e queimados. E iniciou-se exatamente com uma ideia como a que discutia acima. As minorias começaram a querer suprimir textos que supostamente as ofendiam, que lhes eram desfavoráveis. Negros reclamando de textos racistas, judeus reclamando de textos anti-semitas, homossexuais reclamando de textos homofóbicos. Cada melindre resultando na supressão de várias obras.

Pensando nisso agora, a realidade ali descrita já não parece tão improvável ou fantasiosa. E isso é muito, muito assustador. Será que estamos nos encaminhando para um futuro nesses moldes?


(A intenção inicial do post era comentar sobre "O sítio do picapau amarelo" e listar meus dez prediletos. Mas fica para o próximo.)



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O psicopata mora ao lado

coded by ctellier | tags: , | Posted On quinta-feira, 10 de novembro de 2011 at 20:30

meteorologia: calor demais (ou será a febre?)
pecado da gula: mousse de maracujá
teor alcoolico: 2 smirnoff ice (beeeem geladas)
audio: michael bublé
video: pipoca e nanquim videocast #92


Psicopatas sempre rendem personagens muito interessantes. Em livros, ou filmes, destacam-se com facilidade dos demais. E, por conseguinte, são um ótimo assunto para se discutir, seja num papo de bar ou num post. Contudo, diferente deste, que me serviu de inspiração, não pretendo discorrer sobre o fascínio exercido por psicopatas famosos e listar meus prediletos.

Gostaria de focar num dos detalhes que alguns dos filmes possuem em comum e que os torna ainda mais instigantes. Tomemos como exemplo “The silence of the lambs” (desconsiderando sequências e pre-quels). É indiscutível que Hannibal Lecter é um personagem extraordinário. Conforme comentado no post citado acima, boa parte do impacto deve-se justamente a ausência de motivos. É muito mais instigante que não exista uma explicação racional. Mais instigante e mais perturbador.

Perturbador também é Anton Chigurh, o assassino em “No country for old men”. Chigurh, longe de ter a politesse de Lecter, compartilha de sua falta de remorso. É totalmente desprovido de senso de humor, além de mostrar-se indiferente ao sofrimento alheio. De modo simplista, sua motivação é o pagamento, já que foi contratado para executar um serviço. Porém, Chigurh parece ter vocação praquilo. Creio que o personagem certamente perderia todo o charme, todo o appeal, se deixasse de ser uma incógnita. Se em algum momento do filme tivesse sido inserido um flashback explicando por que ele é do jeito que é, todo o encanto se desvaneceria. Quando digo encanto, certamente não pelos atos praticados, mas pela complexidade da personalidade do personagem.

No caso dos filmes – ou livros – acredito que, a menos que seja muito bem elaborado e que colabore com a trama, a existência de motivo chega a esvaziar o impacto causado pelos atos do psicopata. Em “Funny Games”, por exemplo, o diretor provoca o espectador, fazendo chacota dessa necessidade de existir uma motivação. Quando Tom pergunta por que os rapazes estão fazendo aquilo, Paul desfia – em tom de deboche – a lista usual de experiências do passado que em geral justificam estórias assim: infância infeliz, má-educação, instabilidade sexual, ressentimento social. Diz tudo e não diz nada ao mesmo tempo.

Mas por que não considerar que o personagem pode ser um maníaco sem qualquer motivação externa? Por que há a necessidade de um motivo? Percebo essa relutância de aceitação não só em filmes e livros, mas na vida real também.

Qual a dificuldade de conceber que a pessoa seja apenas um maluco? Alguém que nasceu com uma alteração genética que a faz agir desse modo.

Por que desconsiderar a possibilidade de que o psicopata seja simplesmente alguém com uma alteração neurológica que o fez acordar um dia com vontade de sair atirando a esmo? Assim como a gente acorda um dia com vontade de comer churrasco, ou andar de bicicleta, por exemplo.

Por que é tão difícil aceitar que a crueldade e a violência façam parte da natureza do psicopata? Assim como o dom para a música ou para algum esporte faz parte da natureza de outros. Por que é facil aceitar que alguém seja um músico talentoso sem ter um motivo pra isso?

E quando digo motivo, refiro-me a um agente externo, já que considero que a causa primordial seja uma variação genética que acarreta uma alteração neurológica. E essa alteração neurológica pode ser um talento diferenciado ao jogar bola – como um craque do futebol – ou um impulso à prática da violência - como um psicopata.

Quando ocorre algum evento envolvendo um ato psicótico de algum indivíduo, inicia-se a busca por um motivo. “N” possibilidades e razões são aventadas, algumas tidas levianamente como o real estopim das ações: jogava muitos vídeo games violentos, ficava lendo folhetos da Al-khaeda, ou assistiu “Matrix” antes de sair de casa. Mas se um músico talentoso sai de casa e vai se apresentar de surpresa em algum local e toca de maneira extraordinária, fora do comum, como nunca havia feito antes, pode até ser que vire notícia, pelo inesperado da apresentação. Mas certamente ninguém, nenhum repórter ou detetive sairá à procura de motivos pra ele ter agido dessa forma. Não serão tecidas teorias mirabolantes do tipo “Ah, ele veio ouvindo a 9a. Sinfonia de Beethoven a caminho do teatro e teve uma inspiração súbita” ou assistiu “Amadeus” antes de sair de casa. Essa alteração do comportamento é perfeitamente aceitável.

Obviamente, não é razoável descartar a influência do ambiente em ambos os casos. Mas também não quer dizer que o meio sempre tenha responsabilidade em desencadear os atos do psicopata. É quase uma necessidade considerar que exista uma causa palpável, senão teríamos de confrontar a possibilidade de que, por exemplo, alguém pode ser violento “per se”. Isso é bastante perturbador, pois leva-nos a concluir que se pode ser da natureza de uma pessoa ser gentil e bondosa, também pode ser da natureza de outra pessoa ter impulsos assassinos. No caso do psicopata é mais fácil e cômodo procurar motivos "concretos", pois dá a segurança de acreditar que não é qualquer um que pode agir feito um maníaco a qualquer momento. Caso contrário, teríamos de conviver com a possibilidade de que qualquer um, independente do meio quem que viveu, independente de razões passionais ou de vingança, poderia despertar um psicopata, apenas pelo simples e trivial desejo de matar.



OBS.: Para os interessados em filmes cujos personagens são psicopatas, além de ler o post já citado, assistam também um videocast da galera do Pipoca e Nanquim sobre o assunto.

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