The host

coded by ctellier | tags: , | Posted On sábado, 6 de abril de 2013 at 08:10

meteorologia: outono chuvoso
pecado da gula: brigadeiro
teor alcoolico: nada ainda
audio: ghost writer #23
video: the following

The host (2013) - A hospedeira
roteiro e direção: Andrew Nicol

(resenha publicada originalmente no Vórtex Cultural, em 29/03/2013)

Sinopse:
Melanie (Saoirse Ronan) e Jared (Max Irons) foram feitos um para o outro. Esta seria mais uma história de amor, se não fosse um detalhe: estamos no futuro, e a humanidade está quase extinta. A Terra foi invadida por alienígenas que controlam a mente e corpo dos humanos. Melanie e Jared são os últimos humanos que lutam para sobreviver. Até que Melanie é capturada pela Buscadora (Diane Kruger), que usará as lembranças de Melanie para localizar o esconderijo dos humanos. Para não revelar o esconderijo Melanie ocupa a sua mente com visões do homem que ama, desviando a atenção de Peregrina, que incapaz de se separar dos desejos de seu corpo, começa a se sentir intensamente atraída por Jared. A Hospedeira é baseado no best-seller de Stephenie Meyer.

Sem dúvida, uma parcela do público será atraída ao cinema pelo simples fato de que o filme baseia-se no livro homônimo de Stephenie Meyer (resenha aqui). Essa parcela, caso vá esperando ver algo minimamente próximo a Crepúsculo, terá as expectativas ligeiramente frustradas. Não totalmente, já que a porção “romance” está presente. Contudo, diferente da estória de Bella e Edward, não é o foco principal, apesar de ser importante para o desenvolvimento da trama. Sobre a relação livro/filme, apenas mais uma observação. Espera-se de adaptações de livros que o filme se sustente per se, isto é, o roteiro não deve pressupor que quem está assistindo já leu o livro. E neste sentido, a adaptação foi bem sucedida. Não há necessidade de conhecimento prévio da obra, nem ficam faltando detalhes essenciais (ou não) que apenas os leitores teriam conhecimento.

Diferente de outras estórias que versam sobre invasão alienígena, esta não se prende ao início da invasão - os primeiros humanos “infectados”, a percepção dos demais sobre o que está ocorrendo e a luta contra os invasores. Nesta, a invasão já está consumada, os alienígenas já estão entre os humanos ou, mais especificamente, dentro deles, assumindo o controle do corpo e sobrepujando a mente, tomando o lugar do “eu” de cada um. E a trama se volta para os focos de resistência, os humanos reminiscentes, os “não invadidos”, como Melanie (a princípio) e Jared.

O modus operandi da invasão levanta um questionamento interessante: como reagem ou devem reagir os 100% humanos ao se deparar com um hospedeiro conhecido? O corpo é o da pessoa que se conhecia. Suas feições, seu modo de andar, seu jeito de falar continuam os mesmos. Ainda é a pessoa com que se convivia. Mas ao mesmo tempo, não é mais, ao menos na maioria dos casos. Melanie é uma hospedeira que resiste à invasão. Ela e a invasora, Peregrina (Peg), “brigam” pelo controle do corpo de Melanie, o que gera algumas situações engraçadas quando Mel se irrita com alguma ação de Peregrina.

É uma pena que o roteiro não tenho dado mais ênfase à faceta sci-fi do filme, certamente para tentar agradar aos fãs oriundos de Crepúsculo. Contudo, essa não é a maior falha do roteiro, já que quem não leu o livro não faz ideia que esse enfoque é bem mais explorado. Apesar de Nicol ter conseguido eliminar a maioria dos excessos do livro - cenas desnecessárias e estórias paralelas que pouco ou nada acrescentavam - o ritmo da narrativa é extremamente lento, quase sonolento em alguns trechos. É uma pena que Nicol, responsável pelos roteiros de Gattaca, The Truman show e Lord of war - todos acima da média - tenha conduzido a trama dessa forma. E o que resta ao espectador é acompanhar Mel/Peg tentando ganhar a confiança dos demais e o triângulo - ou quadrado - amoroso em que ela se envolve, ou seja, situações clichês em filmes para adolescentes.

O elenco está bem, nenhuma atuação surpreendente ou fora do comum. Saoirse Ronan poderia ter se dedicado um pouco mais a diferenciar a personalidade de Mel e Peg, mas a voz em off de Mel dá conta do recado. Diane Kruger encarna de modo convincente a fria, calculista e (aparentemente) insensível Buscadora. E William Hurt, no papel de Tio Jeb, está em sua zona de conforto representando o chefe do grupo, detentor de sabedoria.

Apesar das paisagens de tirar o fôlego, da premissa interessante e do roteirista/diretor merecidamente premiado, o filme não chega a ser memorável. Talvez o espectador se lembre dele apenas quando anunciarem a sequência - o final do filme dá brecha para essa especulação, e a própria Stephenie Meyer cogita escrever mais livros sobre o tema.



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Fee, Fi, Fo, Fum

coded by ctellier | tags: | Posted On quarta-feira, 3 de abril de 2013 at 09:59

meteorologia: outono trazendo frio
pecado da gula: brigadeiro
teor alcoolico: nada ainda
audio: podcast cinema em cena #78
video: dexter

Jack, the giant slayer (2013) - Jack, o caçador de gigantes
roteiro: Christopher McQuarrie, Dan Studney
direção: Bryan Singer

(resenha publicada originalmente no Vórtex Cultural, em 28/03/2013)

Sinopse:
Uma guerra antiga se reinicia quando um jovem trabalhador do campo abre inconscientemente um portal entre o nosso mundo e o de uma raça de gigantes apavorantes.
Soltos na Terra pela primeira vez depois de séculos, os gigantes tentam reconquistar seu território, que havia sido perdido, forçando o jovem Jack (Nicholas Hoult) a entrar na batalha de sua vida para impedi-los. Lutando por um reino e seu povo, e pelo amor de uma corajosa princesa, ele fica frente a frente com os guerreiros incansáveis que pensava serem apenas uma lenda... e recebe a chance de ele mesmo se tornar uma lenda também.

Mais um filme que revisita uma estória infantil, o conto de fadas inglês “João e o pé de feijão”. E ainda na onda do politicamente correto, desta vez, João (ou Jack) deixa de ser um ladrãozinho - que surrupia primeiro moedas de ouro, depois a galinha dos ovos de ouro e por último a harpa de ouro - para se tornar um jovem destemido que luta para defender seu mundo dos gigantes “malvados”. Porém, o cerne da estória - o garoto ludibriado numa troca que volta para casa com um saquinho de feijões ao invés de moedas - foi mantido, com alguns adendos na tentativa de enriquecer a trama.

A aventura infanto-juvenil lembra bastante os filmes de fantasia dos anos 80 - Krull, A lenda, História sem fim - com valentes cavaleiros, donzelas em perigo, lutas de capa e espada, apenas com efeitos especiais mais elaborados, com menos maquiagem, maquetes e fantasias e mais computação gráfica. Contada de modo convecional e pouco inventiva, a trama não chega a entusiasmar, mas também não entedia o espectador. Com algumas pitadas de feminismo e tiradas de humor - bem ao estilo de Piratas do Caribe - entretém, mas está longe de causar empolgação. Tem-se a impressão de que o investimento foi grande na concepção dos efeitos especiais e pequeno na concepção do roteiro. Esperava-se bem mais de McQuarrie, o roteirista responsável pelo excelente Usual suspects.



O elenco está bem, apesar dos personagens terem pouca ou quase nenhuma complexidade. São todos estereotipados: Jack é o rapaz honrado, Isabelle é a moça (quase) rebelde, Elmont é o cavaleiro valente, Roderick é o conselheiro ardiloso. Aliás, enquanto o Elmont de Ewan McGregor vai ficando mais carismático à medida que o filme avança, a princesa Isabelle (Eleanor Tomlinson) parece cada vez mais apenas um elemento decorativo.

Ao contrário do que aparentavam tanto nos trailers quanto nos anúncios, os efeitos de computação gráfica em combinação com a filmagem 3D deram um bom resultado final, exceto por uma ou outra falha pouco perceptivel. Apesar de o 3D não acrescentar muito ao filme, também não chega a atrapalhar como ocorre em alguns casos, principalmente quando o filme é convertido de 2D para 3D. Vale destacar o pé de feijão que simplesmente enche a tela (e os olhos) com sua grandiosidade e riqueza de detalhes. E não se pode reclamar da aparência dos gigantes, já que eles são tão verossímeis quanto um personagem de conto de fadas pode ser. Sobre os gigantes, atenção especial para o “chefe” de duas cabeças, General Fallon, dublado pelo inconfundível Bill Nighy.

Contudo, nem só de efeitos especiais sobrevive um filme. No máximo, este talvez seja lembrado como “aquele em que Ewan McGregor quase virou petisco de gigante”.



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