Polêmica?

coded by ctellier | tags: | Posted On quarta-feira, 8 de agosto de 2012 at 18:15

meteorologia: ensolarado
pecado da gula: amêndoas salgadas
teor alcoolico: nada ainda
audio: ghost writer #10
video: bones

Paulo Coelho, que lança seu 22º romance, diz que "Ulysses" fez mal à literatura

Este é o título de matéria publicada no Jornal Floripa, em 04/08. Não é que eu aconselhe a leitura, mas o post certamente fará mais sentido depois de de ler o artigo.

Ao ler a matéria, minha reação foi de indignação total.
Não gosto do que Paulo Coelho escreve. Li um livro dele e tentei ler outros dois, mas a encheção de linguiça era tamanha que desisti. Não recomendo a ninguém e muito menos tenho a intenção de tentar ler outras obras dele. Apesar disso, tenho respeito pela sua trajetória profissional. Afinal, viver (apenas) de literatura, principalmente no Brasil, é algo que poucos podem ter a felicidade de fazer. Contudo, suas declarações me fizeram perder totalmente o respeito pela sua pessoa. Aliás, respeito é a palavra-chave nesse evento. Ele demonstrou desrespeito total por seus pares, pela literatura, por obras que resistiram ao tempo e ainda são lidas e "cultivadas" ao redor do mundo.

Meu primeiro palpite é que ele simplesmente não leu. Assumo, mea culpa, eu não li “Ulysses”. Aliás, comecei por duas ou três vezes (comento sobre isso neste post). Mas isso absolutamente não me dá o direito de falar da obra como um todo e afirmar taxativamente, como PC fez, que "não tem nada ali". Qual seu respaldo ao afirmar isso? Qualquer obra, por mais medíocre ou mal escrita, "tem" algo. Se até os livros dele tem, como uma obra cultuada por muitos - como o é "Ulysses" - pode não ter nada? E PC, arrogando-se o direito de professar uma opinião, falou mal e desdenhou de algo sobre o qual (provavelmente) não tem conhecimento. E, sobre poder ser resumida num tuíte, acredito que qualquer texto o seja. A propósito, os livros de PC, possivelmente caibam em menos de meio tuíte. Mas poder ser resumida a tal ponto não é demérito algum. Aliás, é mérito sim. Mérito de quem fizer o resumo, pelo seu poder de concisão.

Não digo que seja obrigatório ler "Ulysses". Muito menos que seja obrigatório gostar de "Ulysses". Mas é de uma arrogância sem tamanho (para não falar idiotice) dar opinião sobre ele - ou sobre qualquer outro livro - sem ter lido, baseando-se apenas na sua fama de difícil, no fato de ser considerado uma experimentação formal e/ou estilística. E este foi outro ponto que, na opinião de PC (totalmente equivocada, ao meu ver) desabona "Ulysses". O enfoque principal na forma, segundo ele, foi prejudicial aos demais escritores, que "caíram em desgraça ao perseguirem o reconhecimento pela forma e não pelo conteúdo". Equivocadamente, PC parece acreditar que defender a literatura que ele pratica - a chamada literatura de entretenimento - significa criticar e detratar a "alta literatura". Vale observar que não me agrada essa denominação, mas é assim que a mídia e a imprensa em geral tem se referido a ela. Em minha modesta opinião de leitora viciada e aspirante a escritora, esse suposto embate é algo totalmente sem sentido. Há espaço para toda forma de literatura, assim como na gastronomia há espaço para gourmets e comida de boteco. Não se faz necessário escolher uma ou outra. É perfeitamente possível gostar de "Geração Subzero" e da "Granta" na mesma proporção. Já li o primeiro, comecei o segundo e, naturalmente, há contos que não me agradam tanto em um como em outro. E obviamente não é por que um é literatura de entretenimento e outro é alta literatura. Tudo é literatura. Uma coisa não exclui a outra. Esse maniqueísmo é forçado e falso.

Há a possibilidade de as declarações de PC serem apenas uma provocação? Sim, sempre há. Podem não refletir exatamente sua opinião. Podem ser uma ação marketeira apenas para conseguir as manchetes, criar polêmica e chegar aos trending topics do twitter. De qualquer modo, acho que foram declarações infelizes e desnecessárias. E deixam a impressão de que sua intenção era se auto-promover como "o melhor do melhor do mundo" em termos de literatura de entretenimento, com o único intuito de maximizar as vendas de seu livro mais recente. Se for isso mesmo, não há outro adjetivo para defini-lo a não ser ignóbil. Mas acho que o melhor mesmo, ao invés de desprezá-lo, é simplesmente ignorá-lo.


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Drops » On the road

coded by ctellier | tags: , , | Posted On domingo, 5 de agosto de 2012 at 16:20

meteorologia: nublado
pecado da gula: esfihas
teor alcoolico: 1 flensburger pilsener
audio: quadrimcast #26
video: london 2012 - maratona feminina

On the road (Na estrada) - 2012
Roteiro: Jose Rivera
Direção: Walter Salles

Sinopse:
A vida do jovem escritor Sal Paradise é sacudida pela chegada de Dean Moriarty, um jovem libertário e contagiante, a Nova York. Juntos, Sal e Dean cruzam os EUA.
Fonte: Guia da Folha - Cinema

Minha segunda incursão não programada ao cinema foi bem mais satisfatória.
"On the road" é baseado no livro homônimo de Jack Kerouac que, durante muito tempo, foi considerado "infilmável". E, indo assistir a este filme, contrariei duplamente meus princípios: fui ao cinema totalmente sem planejamento prévio e assisti ao filme antes de ler o livro - mesmo sabendo que este (o livro) está no meu desafio literário. Contudo, não me arrependi.

Já que, como acabei de falar, ainda não li o livro, não tenho como saber se foi uma boa adaptação da obra. Sei que o protagonista, Sal, é o alter-ego do autor, assim como alguns personagens são referências a amigos do escritor. Sei que a estória é praticamente autobiográfica, narrando as andanças do autor e sua vivência da geração beat. E sei que o texto é escrito sem parágrafos e quase sem pontuação, num fluxo de pensamento que refletiria o modo como a estória seria narrada verbalmente pelo personagem - há uma referência a isso numa das cenas finais do filme. O pouco que sei está no filme, mas certamente há muito mais.

Não ficou muito claro no filme - e não sei se fica no livro - qual a relevância da geração beat. Aliás, a menos que se saiba que aquela é a geração beat, não há como identificar que houvesse uma "corrente cultural" em que aqueles jovens estivessem imersos. O que parece - e espero que no livro não seja assim - é que são apenas um bando de moças e rapazes que passeiam de carro pelo país, buscando aventuras e diversão, bebendo (muito), se drogando (muito) e praticando sexo (muito). "Sexo, drogas e jazz, muito jazz". Tem-se a impressão de que são totalmente inconsequentes, principalmente Dean Moriarty.

E há que se destacar a atuação de Garrett Hedlund, como Dean. A atuação é tão convincente que dá vontade de expressar verbalmente a irritação com o fato de ele ser um "fanfarrão", que faz uso do seu charme para conseguir tudo o que quer de todos. Mas em alguns instantes, a expressão do personagem dá a entender que ele não está assim tão satisfeito com seu modo de levar a vida. Que há mais por trás daquele olhar cafajeste. Sam Riley (não sei por quê, mas eu o acho parecido com o DiCaprio mais novo), como Sal, também está bem, mas fica meio apagado ao contracenar com Hedlund ou Viggo Mortensen. E mesmo Kristen Stewart, consegue nos fazer esquecer da atuação insípida na série Crepúsculo.

Achei o filme longo, fiquei impaciente na última meia hora de exibição. Achei que algumas das subtramas, estorietas dos personagens que Sal encontra em suas viagens, poderiam não ter sido tão extensas. Mas, provavelmente, se tivesse lido o livro, não incomodaria. Apesar disso, saí do cinema satisfeita e pretendo rever o filme depois de ler o livro.


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