Será que é disso que eu necessito?

coded by ctellier | tags: | Posted On sábado, 9 de julho de 2011 at 11:40



Este post foi motivado pela postagem no FB de um vídeo (um entre tantos) exibindo cenas de superação e/ou sacrifício de atletas tentando completar provas. Parte do texto é o que deixei comentado lá.

Já percebi que vídeos assim suscitam em geral o mesmo tipo de comentário que resume-se basicamente a - como disse um corredor: "Desistir nem fud...".

Reservo-me o direito de discordar.

Sinceramente, me pergunto se persistir (na verdade, insistir além dos limites do corpo) é realmente o que preciso. Se significa ganhar uma lesão que me impeça de continuar treinando, definitivamente, a resposta é "não". Não preciso disso. Não vivo disso. Corro pra manter a saúde (física e mental) e porque me dá prazer (santa endorfina!).

Se eu treino para ultrapassar limites, meus limites? Sim, é lógico. É da natureza humana.

Se entendo o que move esses atletas? Sim, e os admiro inclusive. Seu esforço é, de certo modo, inspirador.

Se assistir esses vídeos me motiva? Com certeza. Mas não a repetir o que está ali, e sim a me preparar mais e melhor, e evitar que algo assim faça parte da minha corrida.

Penso que, se é preciso coragem e força de vontade para ir até o final, é preciso ainda mais para admitir a si mesmo que é hora de parar. Larguei a Maratona de SP no km 28 com dores no pé. E, acreditem, a decisão não foi fácil. Mas não me arrependo.

Desistir faz parte. Não só da vida de um atleta, como de qualquer um, em qualquer atividade. Saber quando fazê-lo é algo que não se aprende em livros nem em cursos. E, no meu entender, não é demérito algum. O que realmente importa é a nossa atitude frente à situação. É cair para se levantar ainda mais forte.

É isso.

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Drops » Kung Fu Panda 2

coded by ctellier | tags: , | Posted On at 10:14

meteorologia: 11° às 10 da manhã, ninguém merece...
pecado da gula: bolo de chocolate
teor alcoolico: nada ainda
audio: vortcast #07
video: videocast 76 – alex ross (pipoca e nanquim)

Kung Fu Panda 2
direção Jennifer Yuh
roteiro Jonathan Aibel, Glenn Berger


Assisti ontem e não gostei tanto quanto o anterior. Mais arrastado e com diálogos menos eficientes.

As gags agradam a criançada, mas é preciso ser um adulto com idade mental de 8 anos para achar graça em algumas piadas. Definitivamente, é um filme para crianças.

A diversão dos adultos resume-se praticamente a curtir a dublagem de atores consagrados como Dustin Hoffman (ainda melhor como Shifu) e Gary Oldman (como o pavão do mal, Lord Shen).

E, como comentaram comigo (e eu concordei), usar a estória de Moisés como inspiração foi bastante forçado. Mesmo não repetindo a fórmula do primeiro, tentando ser uma extensão da estória e não apenas mais do mesmo, não tem tanta força nem é tão empolgante.

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"Fasten your seatbelts, it's going to be a bumpy night!"

coded by ctellier | tags: | Posted On quarta-feira, 6 de julho de 2011 at 22:05

meteorologia: esse frio não acaba
pecado da gula: bolo de chocolate
teor alcoolico: 1 dose de absolut citron
audio: androidcast #12
video: tour de france

All about Eve, direção e roteiro de Joseph Mankiewicz

Não tencionava escrever um post sobre o filme, mas depois de comentá-lo com meu ouvinte de plantão, tive várias ideias e algumas impressões que julguei interessantes o suficiente a ponto de discorrer sobre elas num texto um pouco mais longo. Aliás, tenho aprendido que comentar o filme é uma ótima maneira de analisá-lo e tentar entender as intenções do diretor. E, para minha satisfação, tenho percebido que os comentários são bons o bastante para instigar quem ainda não assistiu o filme comentado e deixar com vontade de assisti-lo. O professor @pablovillaca ensinou que essa é uma das funções do crítico de cinema: “Auxiliar o leitor na sua educação cinematográfica.” Minha contribuição é pequena mas bastante gratificante.

Assisti o filme há algumas semanas. Aliás, revi o filme, pois já o havia assistido há muito, muito tempo. E pouco lembrava dele a não ser a presença marcante de Bette Davis. Como em muitos outros casos (infelizmente), o título em português não colabora muito. Somos induzidos desde o início a tentar identificar entre as personagens “a malvada” do título, a vilã, e isso acaba sendo um problema. Interfere de modo significativo para que desfrutemos do filme como o diretor certamente gostaria. O título original nos exime disso, pois apenas dá a entender que é a estória de uma mulher chamada Eve. E Eve é uma moça, fã de uma atriz famosa que, em dado momento, conhece o objeto de sua admiração e acaba tornando-se sua “protegida”. Simples assim. Mas, a partir disso, o diretor/roteirista desenvolve uma apreciação bastante minuciosa e ácida sobre o ambiente em que vive a atriz. E, subjacente a isso, a exemplo de “Persona” (porém menos explicito que neste), há uma análise sobre o uso da “máscara”, sobre os papéis que desempenhamos em nossa vida, no nosso dia-a-dia. Há uma cena no filme, quando Margo (Bette Davis) e Karen (Celeste Holm) conversam dentro de um carro parado, em que nitidamente Margo despe a máscara da atriz famosa para ser apenas uma mulher.

O roteiro é irrepreensível. Não há o que criticar ou ressalva a fazer. Os diálogos são articulados, tão bem construídos e envolventes quanto os de “Who's Afraid of Virginia Woolf?” - que IMHO acho praticamente perfeitos. Devido ao fato de ser um filme antigo (anos 50), lógico que, diferente dos mais recentes, a encenação é toda bastante teatral, mas de modo algum isso atrapalha. A maior parte dos conflitos concentra-se nos diálogos, no jogo de palavras, na significação do que é dito pelos personagens. E isso é algo com que qualquer fã de Tarantino se identifica.

Ainda sobre o roteiro, a não-linearidade da narrativa (recurso que muitos acham ser sinônimo de modernidade no cinema) foi utilizada de maneira bem eficiente e sem exageros. A cena inicial - uma premiação - é o final da estória, com uma narração em off, que descobrimos ser de um crítico teatral, descrevendo os demais personagens. A forma como o faz reflete o estereótipo da profissão, um artista frustrado que destila seu veneno e sarcasmo - e, talvez, inveja - ao comentar sobre o “show business” do qual não é parte atuante. E é uma constante no filme essa crítica à indústria do entretenimento e ao modo de sobreviver nele. A partir desse ponto, voltamos no tempo para entender como se desenrolou a trajetória de Eve até esse momento.

Outro recurso narrativo utilizado - que eu gosto muito, tanto em livros quanto em filmes - é contar a estória sob diferentes ângulos, visões diversas de personagens diferentes. Utilizado com perfeição em “Rashomon”, dirigido por Akira Kurosawa, consegue envolver o espectador de modo a fazê-lo enxergar os acontecimentos pelos olhos do personagem. Desse modo, variando o juízo feito das ações/reações dos demais personagens. E Mankievicz tem total êxito nisso. Minha opinião pendeu para vários lados durante o filme. Mudei o julgamento sobre a motivação dos personagens diversas vezes. E, influenciada pelo título em português, achei que a malvada fosse três personagens diferentes até ter total certeza no segundo terço do filme. A condução do roteiro nesse sentido é muito, muito eficiente. E o mais interessante é que, em dado momento do filme, inverte-se a percepção sobre as personagens centrais. Atenção, spoiler à vista. Aquela que o público é levado a pensar ser a mocinha no início do filme, revela-se como sendo, na verdade, a malvada do título. Eve, a moça em dificuldades, solitária, desprotegida, que sofre com a arrogância de Margo, na realidade usou seu talento de atriz para fingir ser quem não era, a fim de atingir seu objetivo. E nos vemos obrigados a nos questionar se é moralmente válida sua atitude. Mesmo quando essa inversão de papéis começa a se delinear na estória, é difícil acreditar. O espectador se pega pensando “Não é possível, não posso ter me enganado tanto até agora.” E a sensação, no momento em que se dá conta de que Eve é (desculpem o clichê) lobo em pele de cordeiro, é de que a personagem não traiu apenas a confiança de Margo, traiu a do espectador também, por isso a indignação é tanta - e o roteiro tão bom. Admito que pensei “Powtz! Eu acreditei nessa vagabunda!”

Lógico, que boa parte da excelência do filme deve-se ao elenco. Atuação perfeita de Bette Davis, talvez a sua melhor. Pergunto-me se sua escolha foi proposital, não só pelo seu talento óbvio como pelo fato de que a vida da atriz naquele período tem vários paralelos com a situação da personagem. Assim como Margo, Bette Davis era na época uma atriz quarentona cujo auge da carreira já havia passado, representando papéis menores, pouco expressivos. Anne Baxter, como Eve, também não fica atrás. E assim como sua personagem, é a jovem atriz promissora que passa a querer ocupar o lugar de atrizes consagradas, tanto que pressionou os produtores para ser indicada ao Oscar de melhor atriz, ao invés de atriz coadjuvante, concorrendo com a própria Bette Davis. Mas o grande destaque fica para George Sanders, como o crítico Addison DeWitt. Consegue tornar seu personagem tão desprezível quanto o mundo do entretenimento criticado no filme. E uma curiosidade sobre o elenco, Marylin Monroe faz uma ponta como uma moça estouvada, aspirante a atriz.

Como escrevi no Drops, um clássico é uma obra que tem como uma das características ser atemporal, ou melhor, atual independente da época em que seja apreciada. E isso sem dúvida se aplica a “All about Eve”. Mais que um clássico, é uma obra-prima.

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