Somos tão jovens

coded by ctellier | tags: | Posted On sexta-feira, 3 de maio de 2013 at 07:27

meteorologia: sol e vento frio
pecado da gula: pão com nutella
teor alcoolico: nada ainda
audio: u2
video: justified

Somos tão jovens (2013)
roteiro: Marcos Bernstein
direção: Antonio Carlos da Fontoura
★ ★ ★ ★ ★

(resenha publicada originalmente no Vórtex Cultural, em 26/04/2013)

Sinopse:
O jovem Renato Russo não tem tempo a perder: sonha ser um astro do rock. Mas ainda é cedo. Ele precisa estudar, dar aulas de inglês, tranquilizar os pais, curtir a turma, curar dores de amor e, principalmente, arrumar quem toque na sua banda. Do Aborto Elétrico à Legião Urbana, “Somos Tão Jovens” apresenta os primeiros acordes do mito Renato Russo e da turma do Rock Brasília, criadores de sucessos como “Que País é Este”, “Geração Coca-Cola”, “Eduardo e Mônica” e muitas outras músicas que marcam e transformam fãs geração após geração, iniciando a trajetória que a tornará a maior banda do Rock Brasil e Renato Russo o porta-voz da juventude urbana do país inteiro.
(fonte: www.somostaojovens.com.br)

Não há dúvida que o filme ganha muito por ter uma “trilha sonora” tão conhecida. E, segundo informações da própria produtora do filme, todo o som foi captado no momento das gravações, ou seja, ao vivo. O que confere a verossimilhança necessária para fazer o espectador mergulhar no filme e curtir o som e a estória. Mas nem tudo são flores. Apesar do roteiro ser bem amarrado, não ter “barrigas” e balancear bem trama e música, a tentativa canhestra de inserir frases das letras do Legião nos diálogos não caiu nada bem. As falas parecem forçadas, como se os atores estivessem recitando um soneto de Camões. À parte isso, quando não tentam ser líricos e artificialmente poéticos, os papos entre os adolescentes têm naturalidade e um bom ritmo.

Vale destacar a reconstrução da época, detalhada e bastante cuidadosa. Não só nos figurinos, penteados e cenários. Mas também os carros (placas inclusive), eletrodomésticos, bebidas, cigarros, até logomarcas de empresas que existem até hoje mas que tinham um layout diferente do atual - o caminhão de uma marca de sorvetes bem conhecida, cujo logo era amarelo, branco e azul marinho, despertou boas lembranças. Pode parecer pouco importante, mas o cuidado com esses pequenos detalhes garante que o espectador não se veja saindo do universo do filme ao perceber algo “mais moderno” que a época retratada.

A escolha do elenco também foi cuidadosa. Thiago Mendonça, de forma quase assustadora, lembra demais Renato Russo. Em certo momento do filme em que o ator está barbado, a semelhança é ainda mais impressionante. E não é apenas física. Os maneirismos, o jeito de andar, de mexer nos óculos, de falar - está tudo lá. Mas nem todos os atores são sósias de seus personagens, mas nem por isso menos identificáveis. Edu Moraes, por exemplo, está longe de parecer Herbert Vianna. Porém os óculos são inconfundíveis, e Moraes consegue reproduzir a maneira de falar e os trejeitos de Herbert de modo bastante fiel. O restante do elenco também tem boas atuações, com exceção de Sérgio Dalcin (como Petrus) que não consegue dar credibilidade ao personagem ao não se decidir o quão carregado deve ser seu sotaque gringo. Contudo, sua participação é curta, e não chega a prejudicar muito.

Mais que acertada a decisão de não retratar a vida de Renato Russo, mas sim a de Renato Manfredini Júnior. Acompanhar a gestação de uma das melhores bandas dos anos 80 é algo que prende a atenção do público, sendo ele fã ou não da banda. Afinal, gostando ou não, difícil algum espectador que não tenha ouvido, ao menos uma vez, alguma música do Legião Urbana. E, para os leigos, ou melhor, para os menos fanáticos, é interessante descobrir que os primeiros grandes sucessos da banda vieram dessa fase pré-Legião. E mais interessante ainda, perceber de onde veio o ímpeto criativo de Renato, a habilidade de contar estórias numa letra de música e, ao mesmo tempo, refletir os pensamentos e conflitos da sua geração.



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Oblivion

coded by ctellier | tags: | Posted On terça-feira, 30 de abril de 2013 at 18:30

meteorologia: vento de outono
pecado da gula: brigadeiro
teor alcoolico: nada ainda
audio: chico buarque
video: hannibal

Oblivion (2013)
roteiro: Joseph Kosinski, Karl Gajdusek, Michael Arndt
direção: Joseph Kosinski
★ ★ ★ ★ ★

(resenha publicada originalmente no Vórtex Cultural, em 23/04/2013)

Sinopse:
Num futuro em que a superfície da Terra foi destruída, os raros humanos restantes vivem sobre as nuvens, fugindo dos alienígenas que andam pelas ruínas. Mas quando Jack, especialista em reparar a superfície terrestre, descobre uma mulher misteriosa, ele dá origem a uma série de eventos que o forçarão a questionar tudo o que ele conhece.
(fonte: Cinemark)

Mesmo não sendo o suprassumo do gênero, este é um filme de sci-fi para fãs de sci-fi. Não só pela estória em si - felizmente não apenas um mundo pós-apocalíptico como pretexto para cenas de ação -, mas também pela infinidade de referências a outras obras de ficção científica que fãs mais aficcionados certamente se divertirão identificando. E a quantidade de referências chega a ser, ao mesmo tempo, qualidade e defeito, já que em vários momentos faz o espectador “sair” do filme ao tentar lembrar a qual obra se remete aquela cena, diálogo ou cenário. Numa contagem rápida e rasteira, há referências a oito filmes, sendo Wall-e e 2001 - A space odissey as mais óbvias - algumas das demais é preferível não citar pois configuraria spoiler.
(quem não se incomodar com spoilers, pode ver uma lista no final do post)

O roteiro foi baseado numa graphic novel homônima do próprio Joseph Kosinski, com desenhos de Arvid Nelson. E, assim como em seu filme anterior - Tron: o legado - Kosinski apresenta ao espectador um ambiente visualmente interessante, bem menos grandioso mas totalmente condizente com a realidade do futuro não muito distante em que se passa a estória. A “casa” acima das nuvens em que vivem Jack Harper (Tom Cruise) e sua parceira, Victoria (Andrea Riseborough), com seu visual clean e asséptico - em branco e prata, além de muitas transparências - faz o contraponto na medida com o ambiente inóspito da “superfície”.

Interessante notar que os personagens também refletem essa dicotomia. Enquanto Vika parece fazer parte da residência - tão arrumada e estéril, sem nenhum fio de cabelo fora do lugar - Harper parece deslocado ali dentro, menos à vontade do que quando exposto à poeira da superfície devastada. E, em vários momentos, o comportamento de Vika - condicionado, irredutível, robótico até - faz pairar uma dúvida sobre sua humanidade. Em contrapartida, apesar dos trejeitos de Ethan Hunt, Harper é nitidamente mais “gente como a gente”, saudoso do planeta que conhecia antes do ataque alienígena. Completam a galeria de personagens Beech (Morgan Freeman) e Sykes (Nikolaj Coster-Waldau, o Príncipe Jaime de Game of Thrones).

A primeira meia hora do filme é bastante lenta, com vários trechos que, se suprimidos, não fariam falta - inclusive a introdução inicial com narração em off, já que Harper repete toda a estória para Julia Kusakova (Olga Kurylenko) após resgatá-la. Além disso, várias cenas contemplativas, embora agradavelmente embaladas por Led Zeppelin, poderiam ser encurtadas sem prejuízo algum. Ao contrário, certamente o ritmo da narrativa se beneficiaria, evitando tantas “barrigas” durante o filme. É nítida a intenção do roteirista/diretor de apresentar detalhes do universo do filme e de seus personagens. Porém isso poderia ter sido feito não necessariamente de uma maneira mais dinâmica, mas certamente mais enxuta. O ritmo da trama parece se ajustar após esses 30 minutos iniciais, conseguindo mesclar bem as cenas de ação e as de questionamento e/ou explanação dos eventos. Infelizmente, as várias perguntas, tanto de Harper quanto do espectador, vão se acumulando no decorrer do filme e o roteiro tenta respondê-las nos 20 minutos finais. O clímax não fica bem resolvido, explicações são dadas às pressas e de forma explícita - o que de certa forma presume que o espectador seria incapaz de perceber certos detalhes - reafirmando a falta de consistência narrativa.

A premissa é boa, os personagens são bons, o filme é visualmente impressionante, os efeitos especiais são bem feitos, abundantes mas pouco invasivos, a trama tem alguma reviravoltas interessantes. Pena que o roteiro não consiga amarrar isso tudo de uma forma melhor. Tem-se a impressão de que há muitas boas ideias mas certa falta de maturidade ao organizá-las. Mas também há indícios de que Kosinski está no caminho certo, se continuar evoluindo desse modo.




  • Wall-e
  • 2001 - A space odissey
  • Matrix
  • Lunar
  • Fahrenheit 451
  • Star Wars
  • Planet of the apes
  • I am the legend

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