Eastern Promises

coded by ctellier | tags: | Posted On sábado, 21 de agosto de 2010 at 18:59

meteorologia: tempo bom o dia inteiro
pecado da gula: pipoca
teor alcoolico: 2 itaipavas
audio: guanacast #87

Eastern Promises, direção David Cronenberg

Mais uma parceria de Cronenberg e Viggo Mortensen que, à exemplo de "Marcas da violência" (A history of violence), deu certo. Tanto a direção de Cronenberg como a atuação de Mortensen estão impecáveis. Uma ótima explanação sobre como construir uma narrativa concisa e como estruturar um personagem exceptionalmente crível. A parceria sofreu uma sensível evolução, achei este muito melhor que o anterior (leia aqui).
O primeiro filme de Cronenberg a que assisti foi Scanners. Vi-o ainda criança (na década de 80, ter 12 anos ainda era ser criança) e apenas me lembrava das cabeças explodindo. Mesmo sem saber nem me interessar sobre a direção do filme, o poder mental dos personagens que davam nome ao filme ficaram na memória por algum tempo. Revi o filme há algumas semanas e, mesmo datado - pelos cenários, roupas e carros da década de 70, além da qualidade da película - não perdeu sua força. Prendeu minha atenção como da primeira vez.
Apesar do estranhamento causado pelos temas escolhidos para seus filmes posteriores (ou talvez por causa dele), assisti a quase todos. Desde Dead Ringers (ainda lembro dos calafrios causados por algumas cenas), passando por M.Butterfly e Crash.
Assim como "Marcas da violência", o filme se inicia com cenas fortes, perturbadoras. Mas a crueza e a violência não são gratuitas. A direção segura de Cronenberg não deixa que descambe para a banalidade. Apesar de o espectador saber desde o início que a trama envolve a versão russa da Cosa Nostra ou da Yakuza, a Vory v Zakone, fica difícil categorizar o filme. Não dá para defini-lo como um filme de máfia, policial ou drama. Os detalhes da estória e do caráter de cada personagem são revelados aos poucos, causando certa inquietação enquanto assistimos. Não há como prever o que virá a seguir.
Mortensen mais uma vez se transforma. A interpretação concisa e contida é simplesmente hipnótica. Nitidamente dedicado à mesma técnica de caracterização que De Niro, Brando e Al Pacino, veste o personagem como se fosse uma segunda pele. "O diabo está nos detalhes". As tatuagens, o sotaque, os maneirismos parecem pertencer a ele, não ao personagem.
Armin Mueller-Stahl, Naomi Watts e Vincent Cassel completam o elenco principal e também estão muito bem em seus papéis. O personagem de Mueller-Stahl, Semyon, chega a lembrar um pouco Don Corleone.
Como se não bastasse, a trama é envolvente, a fotografia é primorosa (vide a nítida diferença entre os ambientes da Vory e de Anna, Naomi Watts), e a trilha sonora (sensatamente silenciada em alguns momentos) é bastante competente.
Além disso tudo, há umas das melhores cenas de luta da estória do cinema. Não necessariamente a melhor, mas com certeza a mais marcante: http://youtu.be/Ysd59NsKFCo
Este eu recomendo.

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Elementar, meu caro Watson

coded by ctellier | tags: | Posted On at 13:40

Sherlock Holmes, direção Guy Ritchie

Na onda dos remakes, revivals, restarts e afins, coube a Guy Ritchie a missão de dar nova roupagem ao maior detetive de todos os tempos. Tive receio de que a adaptação aos tempos modernos (leia-se muita ação e adrenalina) não faria muito sentido nem se adequaria a contento ao ambiente londrino do final do século XIX. Mas não é o que se vê no filme. Contrariando minha expectativa, o diretor conseguiu encaixar as habilidades físicas do personagem sem descaracterizá-lo. Sua sagacidade é exemplificada inclusive nos momentos que antecedem a uma cena de luta.
A dupla de atores, Robert Downey Jr. como Holmes e Jude Law como Watson, interage de maneira quase perfeita, dando aos personagens o charme necessário para encantar o público. A dinâmica entre eles, as picuinhas, a camaradagem, dão o tom exato à amizade que os une, um quê de dependência e de impossibilidade de trabalharem separados.
O restante do elenco também não faz feio. Mark Strong, como o vilão Blackwood, consegue não ser ofuscado pelo carisma de Holmes e tem bastante presença em cena. As integrantes femininas, apesar de aparecerem em poucas cenas, são também bastante competentes, tanto Rachel McAdams (antiga paixão de Holmes) como Kelly Reilly (noiva de Watson).
No mais, o filme envolve mesmo pelas cenas de ação, pelas deduções e artimanhas de Holmes e pela excelente fotografia. Apesar das várias pontas soltas do roteiro (certamente já com a intenção de encaixar uma sequência), o filme vale a pena ser conferido. Conan Doyle não se decepcionaria com a adaptação.
Sessão pipoca de qualidade.

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coded by ctellier | tags: | Posted On at 13:06

"Quem dera que houvesse
Um terceiro estado pra alma, se ela tiver só dois...
Um quarto estado pra alma, se são três os que ela tem...
A impossibilidade de tudo quanto eu nem chego a sonhar
Dói-me por detrás das costas da minha consciência de sentir..."

Álvaro de Campos (aka Fernando Pessoa), in A casa branca nau preta

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The taking of Pelham 123

coded by ctellier | tags: | Posted On at 13:00

meteorologia: sol finalmente
pecado da gula: pastel de feira
teor alcoolico: 2 smirnoff ice
audio: nerdcast #223
video: les triplettes de belleville

The Taking of Pelham 123, direção Tony Scott


O mote é simples, mas não simplista, e bastante cativante. Durante o dia, em plena Manhattan, um indivíduo sequestra um vagão do metrô, mantendo alguns passageiros como reféns e exige 10 milhões de dólares como resgate, que devem ser entregues no prazo máximo de uma hora. A situação gera o suspense necessário para segurar o público na cadeira, apesar da impresssão de “déjà-vu”, talvez causada pelo fato de o filme ser um refilmagem (mais uma).
Não assisti à primeira versão, de 1974, com Walter Matthau e Robert Shaw, e mesmo assim persiste a sensação de “já vi isso em algum outro filme”. Contudo, a tensão gerada pela situação e a adrenalina das cenas de ação são mais que suficientes para que este não seja mais um filme de sequestro. Mas não é apenas isso.
O filme não é “story-driven”, mas sim “character-driven”. O que importa são os personagens e seu desenvolvimento no decorrer da estória. Nos papéis principais, John Travolta (Ryder - Blue na versão original) como o sequestrador sem escrúpulos e, aparentemente, sem nada a perder; e Denzel Washington (Walter Garber) no arquétipo do personagem que está no lugar errado na hora errada, tornando-se por acaso o contato com Ryder. O encontro improvável entre essas duas personalidades bem eloquentes, mas divergentes no modo de encarar a situação, é o que envolve a platéia.
Não é um filme memorável, desses que a gente assiste várias vezes. Mas se garante como entretenimento. Vale uma espiada.


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