Também escrevo sobre o que não gosto

coded by ctellier | tags: , , , | Posted On sábado, 5 de novembro de 2011 at 15:54

meteorologia: sol e céu azul
pecado da gula: pão na chapa com manteira
teor alcoolico: 1 stella artois
audio: nerdcast #284
video: breaking bad

Estes eu não recomendo.
Ou melhor, recomendo a leitura dos posts, mas não o filme ou o livro.

Não estou dizendo que não devem ser lidos (ou vistos).
Simplesmente acho que não compensam o tempo dispendido ao fazê-lo.


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Direto da ilha

coded by ctellier | tags: , , , , | Posted On sexta-feira, 4 de novembro de 2011 at 22:57

meteorologia: o inverno não quer ir embora
pecado da gula: palmier
teor alcoolico: algumas originais (pra que contar?)
audio: desconstruindo filhos do éden
video: duck tales

Coletânea dos posts “da ilha”
(apenas itens essenciais, lógico)



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Moleskine » Cap.1 - Pensando com populações

coded by ctellier | tags: , | Posted On quarta-feira, 2 de novembro de 2011 at 17:05

meteorologia: nem parece primavera... sol e um vento gelaaado
pecado da gula: folhado de presunto e queijo
teor alcoolico: 1 estrella galicia
audio: argcast #78
video: dr.who

É interessante notar que além da neurociência, Nicolelis tem duas outras paixões bastante presentes: a música e o futebol. São constantes as citações a um e outro, mas também comparações e analogias com ambos a fim de ilustrar ideias e conceitos um pouco mais difíceis de “digerir”.
Por exemplo, no parágrafo inicial deste capítulo, somos irremediavelmente levados a lembrar de Tom Jobim quando o autor cita as águas de março para situar o período do episódio que irá narrar a seguir.

Ele inicia o capítulo comentando sobre o movimento das Diretas Já. E fiquei me perguntando o que aquilo teria a ver com o assunto do livro. O que aquele momento político poderia ter a acrescentar ou introduzir? Apesar do estranhamento, continuei a leitura, já que o modo como Nicolelis escreve é sempre um convite a virar a página e prosseguir.

Começa contando sobre o comício das Diretas Já e comentando sobre o comportamento da multidão ali presente. Como milhares de pessoas deram voz ao pedido das diretas:
“A cada momento diferentes combinações de vozes foram responsáveis por representar o desejo de toda uma população.”
E, em seguida, a primeira dica de como aquele assunto serviria ao propósito do livro:
“Para qualquer observador externo, a perda de alguns manifestantes num universo formado por 1 milhão de pessoas não foi notada, nem fez a menor diferença.”
A partir daí, essa introdução começa a fazer sentido, e começamos a perceber por onde o autor quer nos conduzir. Ainda não era muito claro, mas fiquei pensando que o recado para o leitor era prestar atenção ao comportamento de multidões. Percebi depois que não era exatamente isso, mas algo bem similar.

Dias depois do comício, ao discutir um artigo de dois neurocientistas com seu orientador, questionou-o sobre a abordagem reducionista descrita no estudo e a razão de não adotá-la ali na universidade. Recebe então uma resposta do Dr.César que o remete ao comício, relacionando o fato de que se apenas uma pessoa estivesse presente o resultado seria bem diverso:
“A mesma norma se aplica do cérebro: ele não presta atenção às faíscas elétricas de um único neurônio ruidoso. Não, senhor, o cérebro precisa contar com milhares de suas células cantando conjuntamente a cada instante para ter a esperança de saber o que fazer no momento seguinte.”
(Para mim, que trabalho na área de TI, com análise de sistemas, não é difícil entender que o processamento distribuído é a opção que melhor atende à boa parte das necessidades).

E temos aí mais uma referência à música. Várias vezes durante a leitura nos deparamos com essa analogia de neurônios cantando/tocando uma sinfonia. Várias vezes fala-se em técnicas para “ouvir” os neurônios, o que não deixa de ser interessante. E por vezes engraçado, já que em vários momentos, essa analogia me fez pensar num neurônio (desenhado feito um personagem de cartoon) cantarolando a ária de “O barbeiro de Sevilha”, como Pernalonga naquele episódio clássico com o Hortelino.
Ainda relacionado a isso, algumas páginas depois, Nicolelis retoma essa referência, para esclarecer a distinção entre as visões divergentes sobre o modo como o cérebro funciona, a reducionista e a distribucionista. Achei ótimo o exemplo utilizado. Nicolelis pede ao leitor para imaginar-se indo assistir a um concerto de uma orquestra. E, por uma eventualidade qualquer, apenas um membro da orquestra apareceu, um violinista. Mesmo o violinista sendo um virtuose, o resultado final certamente ficaria muito aquém do que seria se toda a orquestra estivesse tocando. Cada um dos músicis contribui para a elaboração de uma melodia mais complexa. O resultado é o todo ser maior - e mais completo - que a soma dos indivíduos.

Mais adiante, Nicolelis discorre sobre a dicotomia entre a concepção do neurônio como unidade anatômica e como unidade de processamento. E faz questão de frisar que a ideia que ele pretende que se fixe na mente do leitor é uma só:
“Pensando com populações de neurônios.”
Assim como uma andorinha só não faz verão, um neurônio só não faz um pensamento

E dispara algo que desafia o entendimento da maioria das pessoas (e que eu comecei a tomar comoverdade ao ler os livros de Antonio Damasio e Steven Pinker):
“(...) mesmo duas das mais preciosas possessões do ser humano – seu senso de eu e sua imagemcorporal – não passam de criações fluidas e altamente plásticas, edificadas e mantidas pela mobilização de microeletricidade e um punhado de moléculas, pelo bendito cérebro de cada um de nós.”
Difícil evitar o choque ao tomarmos ciência de que tudo, tudo mesmo é obra da atividade cerebral, seja a percepção de movimento ou nossa paixão por algum esporte, seja a dor ao pisar num prego ou a saudade de um ente querido. Nos capítulos seguintes, Nicolelis retomará esses comentários.

Ao final do capítulo, cita um dos divulgadores científicos que eu mais aprecio (depois de Carl Sagan, obviamente), Richard Dawkins, ao comentar que a visão do cérebro como um simulador de realidade vem ganhando adeptos mesmo fora da neurociência. E cita também David Deutsch (mais um livro pra
minha extensa lista de leitura), em “A essência da realidade”:
“Tudo que experimentamos diretamente não passa de uma construção virtual, convenientemente gerada para nosso usufruto, por nossa mente inconsciente, a partir de dados sensoriais somados a complexas teorias adquiridas e congênitas sobre como interpretar novas informações.”


Referências:
Águas de março no YouTube
Comício das diretas no YouTube
Coelho de Sevilha, Pernalonga no youtube
"O mistério da consciência", Antonio Damasio
"Como a mente funciona", Steven Pinker
"O gene egoísta", Richard Dawkins
"O relojoeiro cego", Richard Dawkins
Introdução a sistemas distribuídos no YouTube

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