O psicopata mora ao lado

coded by ctellier | tags: , | Posted On quinta-feira, 10 de novembro de 2011 at 20:30

meteorologia: calor demais (ou será a febre?)
pecado da gula: mousse de maracujá
teor alcoolico: 2 smirnoff ice (beeeem geladas)
audio: michael bublé
video: pipoca e nanquim videocast #92


Psicopatas sempre rendem personagens muito interessantes. Em livros, ou filmes, destacam-se com facilidade dos demais. E, por conseguinte, são um ótimo assunto para se discutir, seja num papo de bar ou num post. Contudo, diferente deste, que me serviu de inspiração, não pretendo discorrer sobre o fascínio exercido por psicopatas famosos e listar meus prediletos.

Gostaria de focar num dos detalhes que alguns dos filmes possuem em comum e que os torna ainda mais instigantes. Tomemos como exemplo “The silence of the lambs” (desconsiderando sequências e pre-quels). É indiscutível que Hannibal Lecter é um personagem extraordinário. Conforme comentado no post citado acima, boa parte do impacto deve-se justamente a ausência de motivos. É muito mais instigante que não exista uma explicação racional. Mais instigante e mais perturbador.

Perturbador também é Anton Chigurh, o assassino em “No country for old men”. Chigurh, longe de ter a politesse de Lecter, compartilha de sua falta de remorso. É totalmente desprovido de senso de humor, além de mostrar-se indiferente ao sofrimento alheio. De modo simplista, sua motivação é o pagamento, já que foi contratado para executar um serviço. Porém, Chigurh parece ter vocação praquilo. Creio que o personagem certamente perderia todo o charme, todo o appeal, se deixasse de ser uma incógnita. Se em algum momento do filme tivesse sido inserido um flashback explicando por que ele é do jeito que é, todo o encanto se desvaneceria. Quando digo encanto, certamente não pelos atos praticados, mas pela complexidade da personalidade do personagem.

No caso dos filmes – ou livros – acredito que, a menos que seja muito bem elaborado e que colabore com a trama, a existência de motivo chega a esvaziar o impacto causado pelos atos do psicopata. Em “Funny Games”, por exemplo, o diretor provoca o espectador, fazendo chacota dessa necessidade de existir uma motivação. Quando Tom pergunta por que os rapazes estão fazendo aquilo, Paul desfia – em tom de deboche – a lista usual de experiências do passado que em geral justificam estórias assim: infância infeliz, má-educação, instabilidade sexual, ressentimento social. Diz tudo e não diz nada ao mesmo tempo.

Mas por que não considerar que o personagem pode ser um maníaco sem qualquer motivação externa? Por que há a necessidade de um motivo? Percebo essa relutância de aceitação não só em filmes e livros, mas na vida real também.

Qual a dificuldade de conceber que a pessoa seja apenas um maluco? Alguém que nasceu com uma alteração genética que a faz agir desse modo.

Por que desconsiderar a possibilidade de que o psicopata seja simplesmente alguém com uma alteração neurológica que o fez acordar um dia com vontade de sair atirando a esmo? Assim como a gente acorda um dia com vontade de comer churrasco, ou andar de bicicleta, por exemplo.

Por que é tão difícil aceitar que a crueldade e a violência façam parte da natureza do psicopata? Assim como o dom para a música ou para algum esporte faz parte da natureza de outros. Por que é facil aceitar que alguém seja um músico talentoso sem ter um motivo pra isso?

E quando digo motivo, refiro-me a um agente externo, já que considero que a causa primordial seja uma variação genética que acarreta uma alteração neurológica. E essa alteração neurológica pode ser um talento diferenciado ao jogar bola – como um craque do futebol – ou um impulso à prática da violência - como um psicopata.

Quando ocorre algum evento envolvendo um ato psicótico de algum indivíduo, inicia-se a busca por um motivo. “N” possibilidades e razões são aventadas, algumas tidas levianamente como o real estopim das ações: jogava muitos vídeo games violentos, ficava lendo folhetos da Al-khaeda, ou assistiu “Matrix” antes de sair de casa. Mas se um músico talentoso sai de casa e vai se apresentar de surpresa em algum local e toca de maneira extraordinária, fora do comum, como nunca havia feito antes, pode até ser que vire notícia, pelo inesperado da apresentação. Mas certamente ninguém, nenhum repórter ou detetive sairá à procura de motivos pra ele ter agido dessa forma. Não serão tecidas teorias mirabolantes do tipo “Ah, ele veio ouvindo a 9a. Sinfonia de Beethoven a caminho do teatro e teve uma inspiração súbita” ou assistiu “Amadeus” antes de sair de casa. Essa alteração do comportamento é perfeitamente aceitável.

Obviamente, não é razoável descartar a influência do ambiente em ambos os casos. Mas também não quer dizer que o meio sempre tenha responsabilidade em desencadear os atos do psicopata. É quase uma necessidade considerar que exista uma causa palpável, senão teríamos de confrontar a possibilidade de que, por exemplo, alguém pode ser violento “per se”. Isso é bastante perturbador, pois leva-nos a concluir que se pode ser da natureza de uma pessoa ser gentil e bondosa, também pode ser da natureza de outra pessoa ter impulsos assassinos. No caso do psicopata é mais fácil e cômodo procurar motivos "concretos", pois dá a segurança de acreditar que não é qualquer um que pode agir feito um maníaco a qualquer momento. Caso contrário, teríamos de conviver com a possibilidade de que qualquer um, independente do meio quem que viveu, independente de razões passionais ou de vingança, poderia despertar um psicopata, apenas pelo simples e trivial desejo de matar.



OBS.: Para os interessados em filmes cujos personagens são psicopatas, além de ler o post já citado, assistam também um videocast da galera do Pipoca e Nanquim sobre o assunto.

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Ou isto ou aquilo

coded by ctellier | tags: , | Posted On terça-feira, 8 de novembro de 2011 at 23:29

meteorologia: sol e um ventinho frio
pecado da gula: amêndoas salgadas
teor alcoolico: 2 smirnoff ice
audio: podsemfio #107
video: fringe

Eu sei, eu sei, ainda falta mais de um mês - na verdade, quase dois - até o final do ano. Mas a maioria das grandes lojas e shoppings já está se enfeitando para o Natal. Já há panetones nos supermercados há mais de três semanas. Já cercaram com tapumes o local onde é erguida a árvore de Natal gigante, ao lado do Parque do Ibirapuera.

Apesar disso tudo, ainda não chegamos àquele período de “festas”, quando o que fizemos (ou não) neste ano começa a nos assombrar. E, nesse momento, praticamente somos empurrados, sentindo-nos quase obrigados a escrever (ou simplesmente registrar mentalmente) a clássica - mas em geral utópica e ineficaz - lista de resoluções de ano novo. Em um post anterior - do início de 2010, creio - escrevi sobre a famigerada listinha. Nele ponderei que a lista não deve ser longa. E devo acrescentar que, ao contrário do que a maioria costuma fazer, o segredo é escolher metas tangíveis. Nada de muito absurdo, muito difícil ou muito distante da nossa realidade atual. É a única maneira de conseguir cumprir ao menos um dos itens propostos. E, ainda que não seja chegada a hora de iniciar a listagem, vejo-me impelida a já incluir um item.

Hoje, conversando com um amigo, expus um dilema que me acomete várias vezes, principalmente aos finais de semana, quando o tempo livre costuma ser maior. Encontro-me sempre em dúvida entre rever um filme que eu gosto muito ou assistir a um filme novo, ou melhor, ainda não visto. São duas ótima opções.
Algo similar à encruzilhada em que me encontro agora enquanto escrevo. Estou assistindo ao episódio mais recente de Fringe - “Novation” - e com a cabeça fervilhando de ideias aguardando serem escritas. A solução foi intercalar as necessidades, um bloco da série e um parágrafo escrito.

Mas com os filmes, é impraticável intercalá-los. O que fazer então?

Rever um filme querido é sempre uma experiência muito, muito boa. Principalmente porque atualmente implica em vê-lo com outros olhos, com o conhecimento adquirido no curso do Pablo Villaça (@pablovillaca). Descobrir coisas novas, detalhes não vistos, sacadas antes imperceptíveis. Assistir a um filme “novo” também é algo sempre aprazível. Agregar conhecimento. Apreciar (ou não) algo novo, diferente do já experimentado. Uma obra nova de um diretor admirado. Um filme do qual nunca tínhamos ouvido falar e cuja indicação pegamos num blog, num tuit, numa notícia. Um filme famoso a que não tivemos oportunidade de assistir ainda.

Em ambos os casos, o prazer da descoberta é indescritível. E então, novamente, o que fazer?
E, contrariando-me (felizmente), meu amigo apresentou uma solução tão óbvia quanto simples: basta assistir a um filme por dia. Sendo pessimista, na pior das hipóteses - já que imprevistos acontecem - seriam 300 filmes por ano. Uma quantidade mais que suficiente para conseguir alternar entre “o novo” e “o velho”.

Se tivesse o hábito, poderia apostar que quem leu o texto até aqui está agora se perguntando “Mas o que isso tem a ver com o início do post?”. Explico-me. O primeiro item a ser adicionado na minha lista de resoluções de Ano Novo é assistir a, no mínimo, um filme ou episódio de série por dia. Pretendo manter um registro atualizado do que foi visto numa página aqui no próprio blog. Apenas não me comprometo a comentar todos. Mas arrisco-me a dizer que possivelmente a maioria deve receber um “Gostei” ou “Não gostei”; uns 30% devem merecer um Drops (positivo ou negativo); uns 10% serão alvo de uma crítica um pouco mais elaborada. E, provavelmente, alguns desses 10% terão resenha publicada no CineMasmorra.

Bom, é isso. Tenho um monte de outras coisas para escrever, mas não neste post. E também preciso começar a pensar nos filmes a que irei assistir em 2012...


OBS.: O título do post faz referência a um livro de poesia infanto-juvenil de Cecília Meireles:
Ou isto ou aquilo” (leia aqui a poesia que dá nome ao livro)


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Drops » The man who would be king

coded by ctellier | tags: , | Posted On domingo, 6 de novembro de 2011 at 21:42



O homem que queria ser rei
Direção: John Huston
Roteiro: John Huston e Gladys Hill

Apesar dos cenários aparentemente grandiosos - que fazem lembrar os desertos de Lawrence da Arábia e as paisagens de neve de Dr.Zhivago - o filme não tem a pretensão de ser uma superprodução. É, na verdade, um filme de aventuras. Pura diversão.

Lógico que pode ser interpretado como uma alegoria do imperialismo britânico presente nos países do Oriente. Mas o que cativa o espectador é a narrativa em si, as venturas e desventuras da dupla central, brilhantemente interpretada por Michael Caine e Sean Connery. Os dois representam com perfeição os malandros que, entediados com sua posição subalterna no exército, resolvem sair e conquistar o mundo. Ou melhor, conquistar um pequeno país e tornarem-se soberanos lá. E o contraste entre as culturas, durante essa aventura, é o que garante alguns dos melhores momentos do filme.

Não li o conto em que se baseia o filme, portanto não posso afirmar se é fiel ou não. Não sei se, no conto, Kipling (o autor) é um dos personagens. Mas a solução do filme em que o personagem de Caine conta-lhe tudo num flashback funciona bastante bem.

É lógico que a montagem é à moda antiga, com poucos cortes e cenas mais longas do que o espectador está habituado atualmente. Mas mesmo assim, o filme prende a atenção do início ao fim. Diversão garantida.

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Hitchcock

coded by ctellier | tags: , | Posted On at 17:42

meteorologia: nublado
pecado da gula: pão de queijo
teor alcoolico: 1 colorado indica
audio: jurassicast elo perdido 04
video: haute tension

Um dos meu diretores prediletos, sem dúvida, é Alfred Hitchcock. E, possivelmente, é o diretor cuja obra eu assisti ao maior percentual. Com exceção de seus primeiros filmes, os mudos, assisti a praticamente todos. E vamos à lista dos meus favoritos (em ordem cronológica):




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