"I hate these people"

coded by ctellier | tags: , | Posted On terça-feira, 29 de novembro de 2011 at 22:26

meteorologia: as chuvas de verão começaram
pecado da gula: duas empadas
teor alcoolico: 2 stella artois
audio: nina simone
video: videocast cinema em cena

Damages

Arthur: I know you don't give a shit about justice, Patty. So what do you want?
Patty: I want you disgraced. I want history to erase your every achievement. I want you to feel the disgust in your children's eyes when they look on you in shame.


Sempre gostei de filmes e séries de tv sobre advogados, julgamentos e afins. Não que a profissão me atraia. Não tenho, nem nunca tive qualquer intenção de seguir alguma carreira da área de Humanas. Mas esse papel misto de investigador, psicanalista e advogado propriamente dito que os advogados das séries americanas assumem sempre foi um grande atrativo.

Durante algum tempo, não perdia um episódio sequer de “The practice” nem de “Ally McBeal”. A primeira, mais séria, sempre com casos controversos e difíceis, que justificam o título em português – “O desafio”. A segunda, com uma abordagem bem mais leve, eventualmente flertando com a comédia. Também assistia esporadicamente “Boston Legal” e “Law & Order”.

Já há algum tempo escuto falar, ou melhor, leio a respeito de “Damages”, série originalmente produzida pelo canal FX. Assisti a partes de um ou outro episódio, mas nunca cheguei a acompanhá-la. Como a série está disponível no NetFlix, resolvi “começar do começo” e assistir à primeira temporada. Inicialmente, tinha o propósito de alternar com outras séries que assisto atualmente – “Breaking Bad”, “Criminal Minds” e “Fringe”. Mas depois de assistir ao primeiro episódio, só conseguia pensar em assistir ao seguinte. E terminei de ver toda a temporada em menos de 5 dias.

Não me recordo de ter assistido a uma série com um roteiro tão bem escrito e tão bem “amarrado”. Diferente das outras séries citadas – e da maioria das séries investigativas – não há um caso por semana (ou por episódio) a ser resolvido. O arco narrativo estende-se por toda a temporada, o que é um trunfo para deixar o espectador com vontade de seguir assistindo. Mas poderia ser um tiro no pé, caso o roteiro e a montagem não estivessem tão bem estruturados.

E já que a estória é uma só, antes de continuar minhas considerações (*), segue um ligeiro resumo. Patty Hewes (Glenn Close) – chefe e sócia-proprietária de um conceituado escritório de advocacia, Hewes & Associates – tem em mãos um processo coletivo contra Arthur Frobisher (Ted Danson) - um grande empresário acusado de fazer uso de informação privilegiada ao vender as ações de sua própria empresa. Para ajudá-la, Hewes conta com Tom Shayes (Tate Donovan) – advogado e seu assistente direto – e Ellen Parsons (Rose Byrne) – advogada recém-formada e recém-contratada por Hewes. Em seu meio, Hewes é considerada uma profissional sem escrúpulos e conhecida pelos métodos pouco ortodoxos de alcançar o que pretende.

Mas o que faz esta série ser tão acima da média em relação às demais produções com a mesma temática? Basicamente é o roteiro. Bastante inovador e inteligente, é muito bem-sucedido ao conduzir o espectador pelos meandros da narrativa. Assim como alguns personagens são alertados durante a estória, nem tudo é o que parece ser. É natural que o espectador acredite e tire conclusões de acordo com o que está vendo. Ou melhor, com o que está sendo exibido. E, alguns episódios depois, uma cena, um detalhe que não tinha sido mostrado anteriormente, faz mudar todo o raciocínio, assim como o rumo da estória. A montagem certamente foi feita com esse intuito de conduzir e induzir o espectador. Em certos momentos, a impressão que tive foi de estar assistindo a um truque de mágica. Minha atenção sendo desviada – eficientemente desviada – para depois ser pega de surpresa com uma descoberta do tipo “Ah, então isso não era isso... era aquilo!” E este recurso é o que torna a narrativa tão deliciosamente intrigante.

Outro recurso usado de forma bastante eficaz é o de linhas temporais distintas. Prefiro não chamar de flashbacks, pois acho que não reflete exatamente o conceito utilizado. Algo que poderia se tornar cansativo, com muitas idas e vindas do presente ao passado, serve com perfeição à finalidade de transformar a estória num quebra-cabeça que ansiamos por ver finalmente montado. Acompanhamos duas linhas temporais, o presente e os 6 meses que o antecedem. Como as incursões ao passado não são cronologicamente sequenciais, somos avisados por letreiros indicando há quanto tempo o fato ocorreu - 5 months earlier, 3 weeks earlier, etc. A volta ao presente não é anunciada, mas nos é disponibilizada uma forma bastante explícita de identificá-la. A exemplo de “Traffic”, o diretor utiliza-se de um recurso visual a fim de diferenciar as linhas temporais. Enquanto no passado a imagem não sofre tratamento algum, no presente ela é alterada. As cores estão saturadas, as sombras enfatizadas e a imagem está um pouco mais granular que o normal. Certamente, com o propósito de refletir a situação de stress em que se encontra a personagem. Mas o mais interessante é reparar no momento em que as duas linhas se fundem e que os efeitos da linha temporal do presente se diluem enquanto a personagem atravessa um túnel em direção à rua.

Lógico que apenas a utilização eficiente desses recursos narrativos não seria suficiente para “segurar” a série. A estória tem de ser boa, assim como os personagens. Devido ao tema da série, não seria viável e/ou verossímil sair do lugar-comum do ambiente jurídico. Um caso polêmico, advogados de acusação, advogados de defesa, provas e testemunhas omitidas ou desacreditadas, intrigas nos bastidores. Enfim, o de sempre. Ou quase, já que cenas no tribunal e/ou à frente de um juiz são bastante raras. E, para completar, personagens cativantes, que conquistam o espectador episódio a episódio.

Patty Hewes é, per se, icônica. Tão brilhante quanto inescrupulosa. Tão inteligente quanto execrável. Tão admirável quanto desprezível. É o tipo de personagem que todos amam odiar. E a performance de Glenn Close está irrepreensível. Apesar de algumas das atitudes da personagem parecerem, aos nossos olhos, exageradas e por vezes descabidas, sua interpretação garante a verossimilhança necessária. Consegue dar o tom exato de ambiguidade que faz o público passar da crença à descrença em instantes. E boa parte disso deve-se à ótima construção da personagem. Patty não é apenas a advogada feroz e inescrupulosa. A adição de pequenos detalhes do cotidiano – ter insônia e sintonizar a tv de madrugada naqueles programas de venda de jóias ou perder a “luta” com o controle remoto da tv a cabo – humanizam a personagem e a deixam mais próxima do espectador.

Ellen Parsons também é uma personagem que se desenvolve de maneira bastante interessante no decorrer da estória. Somos apresentados, no início (cronológico) da estória a uma advogada à procura de seu primeiro emprego. Ainda idealista, ainda sem a malícia característica da profissão. A personagem chega a ser um pouco insossa, sem graça. E, à medida que a narrativa avança, testemunhamos seu crescimento, vemos florescer seu talento como advogada. A observamos “evoluir” em direção à Patty, apesar de ser nítido que não é algo premeditado. Percebemo-la absorvendo e passando a utilizar alguns dos artifícios de Patty. O desenvolvimento da personagem é realmente muito bem construído. Um dos arcos dramáticos mais interessantes da série, apesar da atuação da atriz deixar um pouco a desejar em alguns momentos. Mas isso não chega a atrapalhar.

O elenco de apoio também é bastante competente. Até Ted Danson, que eu lembrava como um paspalho em "Cheers", está muito bem. Some-se a ele Zeljko Ivanek (ótimo como o advogado de Frobisher), Peter Facinelle (antes de fazer parte da família de vampiros purpurinados), Philip Bosco (que eu lembrava como Otis, de "Kate & Leopold)", Tate Donovan (pai da Marisa em "O.C."), Peter Riegert (figura conhecida em várias séries televisivas, inclusive "The Sopranos").

Em resumo, vale muito a pena assistir. E não é preciso ser fã de séries com advogados para gostar. A qualidade é mais que suficiente para agradar a gregos e troianos.
Eu recomendo.



(*) Todas as minhas observações e comentários dizem respeito apenas à primeira temporada, que foi a única a que assisti. Sei que a série já está na 4a.temporada, mas nada me garante que as demais tenham mantido a mesma qualidade desta sobre a qual resolvi postar.

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Vamos a la playa

coded by ctellier | tags: | Posted On domingo, 27 de novembro de 2011 at 13:51

meteorologia: dia de sol
pecado da gula:
pão de queijo
teor alcoolico: 2 smirnoff ice
audio: papovirtua 5x19
video: damages

Já li em vários textos científicos (ou não) que, quanto à “disposição”, as pessoas dividem-se entre matutinas, vespertinas e noturnas. Rendem melhor em determinado horário do dia. Falando especificamente sobre prática de exercícios - o que, no meu caso, inclui corrida, bike, musculação e boxe - sou indubitavelmente matutina. Prefiro mil vezes madrugar pra ir correr, do que ter de fazê-lo ao final do dia, depois do expediente de trabalho, quase sempre cansativo. Some-se a isso o fato de que treinar descansada, depois de uma boa noite de sono é bem mais prazeroso. E mais, o dia parece render, já que a endorfina dá um gás extra para encarar tudo o que temos a fazer.

Isso posto, é bastante lógico que eu evite provas noturnas de corrida. Além do que já foi dito, acho difícil dar o meu melhor depois de um dia todo em atividades domésticas comuns: faxina, feira, mercado, etc. Mas, regras são feitas para que façamos exceções a elas. Assim, eventualmente, eu corro à noite.

Foi o que aconteceu ontem. Participei da “98 Beach Running”, evento promovido pela Rádio 98 FM e organizado pela Prefeitura de Santos (percurso aqui). É isso mesmo, desci a serra para correr. Convidada a participar por um antigo colega de trabalho que mora em Santos, achei que variar um pouco seria, no mínimo, interessante. E, no caso, a variação foi grande. Corrida fora de São Paulo, à noite, na praia. Não satisfeita, para sair totalmente do padrão, adicionei mais uma variação: resolvi estrear meu Five Fingers numa prova (um KSO, veja aqui).

O colega que fez o convite, Renato Sabino, tinha alertado (não exatamente com estas palavras): “É a primeira edição da prova, não sei como é a organização, portanto, venham munidos de paciência.” Sábio e valioso lembrete. Foi o que fiz. Estava resolvida a não deixar pequenas “turbulências na Força” me deixarem irritada. E olha que motivos não faltaram: choveu um pouco aqui na Zona Sul no início da tarde; o táxi para a rodoviária atrasou; apesar das dicas do Sabino, peguei o ônibus errado e, em consequência, desci no ponto errado da praia; tive de esperar pelo “resgate” em local desconhecido (o problema nem era o desconhecido, mas eu detesto esperar). Enfim, apesar de tudo estava orgulhosa de mim por conseguir me manter zen durante a sucessão de pequenos desastres. Porém devo admitir que tive um certo auxílio. Ter aproveitado o tempo da viagem para fazer algo que eu adoro - ler - fez toda a diferença. Passar uma hora direto mergulhada na leitura tem em mim um efeito calmante e, ao mesmo tempo, revigorante. Desci do ônibus disposta. Pronta para qualquer desafio, inclusive encarar eventos adversos.

Bom, agora sobre a prova. Os kits para “estrangeiros” seriam entregues das 19:00 às 19:30. Chegamos atrasados, por volta das 20:00. Mas devido à (falta de) organização, os kits ainda estavam sendo distribuídos. Kit em mãos, seguimos para a tenda da assessoria que o Sabino utiliza. Hora de colocar o número de peito, ajustar o mp3 player com a playlist escolhida, ligar o Garmin pra ver se o GPS estava “pegando”, passar vaselina nos pontos de atrito e, lógico, trocar minha sandália pelo Five Fingers. Apesar da sugestão do Joel Leitão (@joelleitao) - bastante tentadora até - de correr descalça, acabei optando pelo meu carinhosamente apelidado “pé de hobbit”. Explico. Correríamos boa tarde do tempo na faixa de areia dura e úmida da praia. E, em ocasiões anteriores, essa prática já tinha me presenteado com duas bolhas gigantes, uma embaixo de cada dedão do pé. Não quis arriscar e fui estrear meu KSO na areia. Muita vaselina sobre, sob e entre os dedos, pés de hobbit calçados e a deliciosa sensação de estar descalça, mesmo não estando.

Fiquei um pouco preocupada ao caminhar na areia fofa até a largada. Mas o temor foi totalmente infundado. Apesar da cobertura telada do KSO, nenhum grão de areia adentrou o calçado para me incomodar durante a corrida. Ponto positivo.

Já que a minha ideia era apenas curtir a corrida e ver como me saía numa prova com o Five Fingers, não estava muito encanada com o tempo. Mas seria hipocrisia afirmar que não importava o meu pace. Lógico que importava. Pouco, mas não o suficiente para me deixar frustrada caso não conseguisse me manter ao menos em ritmo de treino. Acostumando ainda com o terreno e ajustando aos poucos a passada, fiz os dois primeiros quilômetros a 5:40min/km (o registro do percurso está aqui). Depois disso, achei meu ritmo e fui até o final variando ligeiramente entre 5:25 e 5:30. Pace mantido, sem sacrifício, em ritmo de treino de rodagem. Mais um ponto positivo.

Quem já correu na areia sabe, é uma delícia. Quem não correu, tem de experimentar, pois a sensação é ótima. E com o KSO não foi diferente. Aliás, foi muito melhor, mais agradável do que calçando tênis. Descalça também é muito bom, mas o pé de hobbit dá aquela tranquilidade de correr sem ter de se preocupar onde pisa. Eu detesto ter de correr olhando para o chão, para evitar pedras, varetas, buracos e, infelizmente, até lixo. E, mesmo com a iluminação da praia, à noite é sempre maior a probabilidade de deixar passar despercebido algum “desnível” do solo. Corrida tranquila, foco no movimento e não no chão à frente. Mais um ponto a favor.

Terminei a corrida bem. Aliás, melhor do que o esperado, já que tinha disposição - e pernas - para correr tudo de de novo. Como já tinha comentado no post citado acima, correr com o Five Fingers faz a gente não ter vontade de parar. E confirmei isso mais uma vez.

Agora, o pós-prova. Meu pé sua demais. Muito mesmo. Então, apesar da vaselina, vez ou outra, termino uma prova com pequenas bolhas. Mas não desta vez. Apesar de não estar sentindo nada de diferente enquanto caminhava de volta à casa do Sabino, havia a possibilidade de elas terem se formado. Descalcei o pé de hobbit e não havia nada, nem areia dentro deles, nem bolhas nos pés. Mais um ponto positivo.

Day after. Cansaço natural, afinal fiz tudo diferente do que estou habituada. Mas nenhuma dor anormal. Aliás, dor alguma. Achei que talvez fosse sentir as panturrilhas, mas nem isso. Acho que minha adaptação ao Five Fingers está quase completa. Agora, só falta o asfalto. Mas isso fica para o próximo ano (acho).

Saldo da experiência: definitivamente, calçado minimalista - no caso, o Five Fingers - é uma ótima opção para corrida. Eu duvidava disso antes de comprar e fazer o test-drive. Agora tenho certeza. Mas nem tanto ao mar nem tanto à terra. Não sou do tipo que vai largar os tênis de uma vez por todas e adotar o bare footing. Assim como variamos os treinos - tiro, fartlek, intervalado, rodagem -, acredito que variar o calçado também faz parte da “brincadeira”. Posso afirmar sem sombra de dúvida que, para mim, fazer parte dos treinos de corrida com meu pé de hobbit é muito, muito bom. Recomendo ao menos experimentar um vez. É isso.

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