Ser feliz ou ter razão?

coded by ctellier | tags: | Posted On sexta-feira, 9 de abril de 2010 at 00:17


Não chega a ser um spam. O texto abaixo é mais um desses que rodam a web e que acabamos recebendo mais de uma vez, de vários amigos diferentes. Lugar-comum. Mas vale a leitura.


"Oito da noite, numa avenida movimentada. O casal já está atrasado para jantar na casa de uns amigos. O endereço é novo e ela consultou no mapa antes de sair. Ele conduz o carro. Ela orienta e pede para que vire, na próxima rua, à esquerda. Ele tem certeza de que é à direita.
Discutem. Percebendo que além de atrasados, poderiam ficar mal-humorados, ela deixa que ele decida. Ele vira à direita e percebe, então, que estava errado. Embora com dificuldade, admite que insistiu no caminho errado, enquanto faz o retorno. Ela sorri e diz que não há nenhum problema se chegarem alguns minutos atrasados.
Mas ele ainda quer saber:
- Se tinhas tanta certeza de que eu estava indo pelo caminho errado, devias ter insistido um pouco mais...
E ela diz:
- Entre ter razão e ser feliz, prefiro ser feliz. Estávamos à beira de uma discussão, se eu insistisse mais, teríamos estragado a noite!"

(Estória contada por uma empresária, durante uma palestra sobre simplicidade no mundo do trabalho. Usou a cena para ilustrar quanta energia gastamos apenas para demonstrar que temos
razão, independentemente de tê-la ou não)

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Funeral Blues

coded by ctellier | tags: | Posted On quinta-feira, 8 de abril de 2010 at 23:45

meteorologia: e a chuva não pára
pecado da gula: torradas com brie
teor alcoolico: 3 doses de black label, alguns chopps
audio: aimée mann

A melhor declaração de amor "ever". Sou grata a Mike Newell (Four weddings and a funeral) por ter incluído este poema no filme. Sensacional.


Funeral Blues

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He is Dead.
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the woods;
For nothing now can ever come to any good.

W.H.Auden

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coded by ctellier | tags: | Posted On segunda-feira, 5 de abril de 2010 at 06:49

"(...)
Saber desistir. Abandonar ou não abandonar — esta é muitas vezes a questão para um jogador. A arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está longe de ser rara a situação angustiosa em que devo decidir se há algum sentido em prosseguir jogando. Serei capaz de abandonar nobremente? ou sou daqueles que prosseguem teimosamente esperando que aconteça alguma coisa? como, digamos, o próprio fim do mundo? ou seja lá o que for, como a minha morte súbita, hipótese que tornaria supérflua a minha desistência?"

Clarice Lispector, in Um sopro de vida

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Neve

coded by ctellier | tags: | Posted On domingo, 4 de abril de 2010 at 16:12

meteorologia: chuvinha chata
pecado da gula: ovo de chocolate com marshmallow
teor alcoolico: 1 dose de absolut, várias stella artois
audio: papo lendário #18
video: flash forward

Neve, Orhan Pamuk

Desconhecia o autor antes de ver o livro na prateleira das livrarias. Aliás, certamente, apenas apareceu nessas mesmas prateleiras após o autor ganhar o Nobel de Literatura, em 2006. Depois disso, várias obras suas começaram a ser publicadas por aqui: "Meu nome é vermelho", "A maleta de meu pai", "Istambul". Apesar de ter gostado de "Neve", ainda não li nenhum desses. Minha lista de espera de livros - adquiridos e não lidos - já está gigante sem agregá-los.
Apesar de abordar um tema espanta-leitores, não é preciso interessar-se por política para desfrutar o livro. A análise do emaranhado de facções políticas que dividem a Turquia contemporânea é bastante irônica e o enfoque dado ao golpe que ocorre na cidade enfatiza o tom burlesco desse drama político.
O narrador não é o personagem principal. Revelado apenas no final do livro, é um amigo de Ka que narra sua estória 4 anos depois de sua visita a Kars, descrevendo os acontecimentos baseado em suas anotações e cartas.
O título do livro merece um comentário, ou vários. Neve é o título de um poema que Ka (o personagem principal) irá escrever na noite do principal acontecimento da estória (um golpe político na pequena cidade de Kars). Aliás, o nome da cidade significa neve em turco. Ka estuda os flocos de neve e descobre que "a forma de cada floco de neve é determinada pela temperatura, pela direção e força do vento, pela altitude da nuvem e um sem-número de outras forças misteriosas". Conclui que "as pessoas têm muito em comum com os flocos de neve". E, durante a narrativa, a formação dos flocos reflete o estado psicológico do personagem.
Interesssante também é a forma de nomear os capítulos. O título é a frase ou fala mais marcante do capítulo. E o subtítulo é o nome real do capítulo. Apesar dos capítulos curtos, a narrativa é lenta. Em alguns momentos, no primeiro terço do livro, tive a tentação de pular algumas páginas. Mas passado esse início, o livro fica bastante interessante. Apesar de lenta, a narrativa é fluida, guia e incita o leitor a continuar lendo. Ótima opção para quem gosta de livros com pano de fundo histórico.
Vale a leitura.


"Dentro de vinte anos - em outras palavras, quando você tiver trinta e sete anos - você finalmente terá entendido que o mal do mundo - isto é, a pobreza e a ignorância dos pobres e a esperteza e dissipação dos ricos - e toda a vulgaridade do mundo, toda a violência, toda a brutalidade - isto é, todas as coisas que nos enchem de culpa e nos fazem pensar em suicídio - decorrem do fato de todo mundo pensar igual."


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