Uma tragicomédia em família

coded by ctellier | tags: , , | Posted On quarta-feira, 14 de novembro de 2012 at 18:15

meteorologia: nublado ainda
pecado da gula: muito macarrão
teor alcoolico: nada ainda
audio: tom jobim
video: breakfast at tiffany's

Fun home
Alison Bechdel

Quando criança, sempre fui leitora assídua de quadrinhos. Tio Patinhas e Turma da Mônica, principalmente. Sou mais uma das milhares de crianças que adquiriram o hábito da leitura acompanhando as aventuras dos personagens de Maurício de Souza. Mas, depois de “virar gente grande”, parei de ler HQs. Não me desfiz das minhas, apenas parei de comprá-las - ou melhor, de pedir para que comprassem para mim. Com a nem tão recente assim onda de adaptações de HQs para o cinema, meu interesse retornou e comecei a consumir HQs adultas, as chamadas graphic novels. Por esse motivo, resolvi incluir uma categoria “Graphic Novel” no Desafio literário.

Não consegui lembrar onde havia lido sobre este livro. Mas me deixou suficientemente interessada para incluí-lo no desafio - que eu não finalizei, mea culpa. O desafio “embolou” antes mesmo de eu chegar à metade da lista. Empaquei no segundo volume de Os irmãos Karamazov. Vários outros livros foram cortando a fila e o desafio foi “pras cucuias”. Mas estou num período em que leituras mais breves, mas nem sempre muito leves, têm me interessado mais. E foi nesse contexto que Fun home se encaixou, apenas um mês depois do programado (apesar de eu ter “pulado” todos os outros livros desde maio). Antes de continuar, segue a sinopse.

Fun Home é um dos maiores fenômenos literários desta década. Eleito o "livro do ano" em 2006 pela revistaTime, figurou na lista de livros mais vendidos do The New York Times e faturou diversos prêmios (entre eles, o Eisner Awards de Melhor Não-Ficção). O álbum é um livro de memórias, onde a quadrinista Alison Bechdel revisita a sua infância e adolescência - especialmente a descoberta de sua homossexualidade e a difícil relação com seu pai Bruce Bechdel. Homossexual não-assumido, Bruce passava mais tempo cuidando e reformando o casarão vitoriano que moravam do que dando atenção à família.
(fonte: site Loja Conrad)

Ao iniciar a leitura, logo percebi que não era uma HQ como as outras, com quadros desenhados e balões de diálogos e pensamentos. Lógico, há isso também, mas não apenas isso. De uma maneira bastante criativa, a autora faz uso de inúmeros outros recursos visuais para contar sua estória. Desde caixas de texto com setas para apontar certos detalhes até reproduções de páginas de livros - dicionários, principalmente -, passando por recortes de jornais ou revistas e trechos manuscritos de cartas ou diários. E o resultado final é que o leitor fica imerso na estória enquanto tenta encontrar todos os detalhes de cada quadro. Na grande maioria das vezes, o que está escrito é complementar, mas não explicativo, do que está desenhando. E, por vezes, o texto até contradiz o desenho numa ironia ácida que permeia toda a trama.

Além do diferencial no estilo narrativo, para os leitores “hard-core” há um atrativo a mais. Há inúmeras referências, inferências, citações e correlações a várias obras literárias e autores. Em vários momentos, a autora relaciona eventos a trechos de livros, fazendo correspondência entre personagens reais e fictícias. Há Marcel Proust, James Joyce, Virginia Woolf, Albert Camus, Oscar Wilde, além do mito de Dédalo e Ícaro, que a autora compara a seu pai e ela. E é importante ressaltar que nenhuma das citações é gratuita. Todas se encaixam perfeitamente no contexto, principalmente por não serem apenas um recurso de suporte à narrativa, mas por terem efetivamente feito parte da formação intelectual da autora.

Num primeiro momento, pode parecer que uma biografia em quadrinhos é, justamente pelo formato, obrigatoriamente superficial. Mas Fun home está muito longe disso. A autora consegue conferir complexidade e um nível de detalhes que garantem uma experiência de leitura que pode ser tudo, menos superficial. Como já afirmei neste post sobre a biografia de Clarice Lispector, biografias não fazem parte da minha lista de categorias literárias prediletas, muito ao contrário. Mas o formato diferenciado ou, mais especificamente, inusitado desta autobiografia chamou minha atenção e despertou minha curiosidade. E devo afirmar que não me arrependi de lê-la. Aliás, recomendo-a fortemente.


 
 
Sobre a autora
Alison Bechdel nasceu em 1960 em Lock Haven, no estado da Pensilvânia. Desde 1983, desenha a tira Dykes to Watch Out For, publicada em diversos jornais alternativos, traduzida para várias línguas e compiladas em uma bem-sucedida série de livros.

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Drops » Intouchables

coded by ctellier | tags: , | Posted On terça-feira, 13 de novembro de 2012 at 09:15

meteorologia: chuva chata
pecado da gula: um cone de nutty bavarian
teor alcoolico: uma stella artois
audio: spinoff podcast s06e07
video: numb3rs

Intouchables (2012)
roteiro e direção: Olivier Nakache, Eric Toledano

Sinopse:
Philippe (François Cluzet) é um aristocrata rico que, após sofrer um grave acidente, fica tetraplégico. Precisando de um assistente, ele decide contratar Driss (Omar Sy), um jovem problemático. De início, eles enfrentam vários problemas, já que ambos têm temperamento forte, mas aos poucos passam a aprender um com o outro.
(fonte: site Playarte Cinema)

Pela temática, pode parecer que se trata de um drama, daqueles que arrancam lágrimas do espectador a cada dez minutos. Mas não é o caso. É lógico que há um pouco de drama, tanto pela condição física de Philippe quanto pela condição social de Driss. Contudo, o que mais se sobressai no filme é o humor leve que permeia toda a estória. A interação entre os personagens garante boas risadas, daquelas que nos deixam com a sensação de que não importa o tamanho do problema, sempre há uma brecha para o humor.

O elenco é responsável por boa parte da empatia. Cluzet - cada vez mais parecido com Dustin Hoffman - constrói um personagem bastante emblemático, mesmo tendo como "instrumentos" apenas sua face e sua voz. Com um pouco mais de recursos, fez-me lembrar bastante de Mathieu Amalric em O escafandro e a borboleta (post aqui). E Omar Sy faz o contraponto perfeito, sendo expansivo e debochado.

Enfim, vale assistir.

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