"Winter is coming"

coded by ctellier | tags: , | Posted On quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012 at 21:21

meteorologia: chuva de verão (que verão?)
pecado da gula: quindim
teor alcoolico: 2 smirnoff ice
audio: braincast
video: dexter

Desafio literário - Jan/2012 – Literatura Fantástica

A Game of Thrones, George R. R. Martin
A Song of Ice and Fire #1
(A guerra dos tronos
As crônicas de gelo e fogo - livro 1)


Desde que vi pela primeira vez o volume 1 desta coleção, eu me encontro num dilema. Vi-o na prateleira da livraria, interessei-me pela capa, peguei o livro, li a contracapa, a segunda orelha, folheei-o e resisti bravamente à tentação de adquiri-lo.

Ao procurar mais informações sobre a obra e o autor, descobri que a coleção já contava com 3 volumes publicados, num total de 7 previstos. Isso me desanimou na hora. Os livros têm, em média, 600 páginas e eu não estava muito disposta a encarar a leitura dos já publicados e ainda aguardar a publicação dos demais - por mais interessante que me parecesse a estória. Descobri ainda, que a HBO estava produzindo uma série de tv baseada nos livros. Foi a gota d’água para eu desistir de bom grado dessa leitura.

Mas, nem sempre acontece o que planejamos. Minha resolução foi arruinada no meu último aniversário, ao ser presenteada com o livro por um amigo muito estimado. Não que eu esteja reclamando, eu adorei o presente. Tinha-me convencido a não comprar e, portanto, abdicado da leitura. Mas já que era um presente, não havia mal algum em lê-lo. Aliás, ansiava pelo início da leitura.

O livro foi para a fila, já que na época já tinha outros iniciados. Porém, comecei a assistir a série. O que me deixou novamente num dilema. Estava muito a fim de ler o livro, afinal tinha despertado bastante meu interesse e, além disso, tinha sido um presente. Mas a série é tão boa e, segundo os que já haviam lido, tão fiel à obra que fez esmorecer minha vontade de lê-lo. O impasse foi resolvido ao ver um post da @anacarolinars, do site Leitura Escrita, sobre um desafio literário para 2012. Topei o desafio (post aqui) principalmente para fazer andar minha fila de livros não lidos, começando por este.

Bom, terminei de lê-lo ontem, graças a um chá de cadeira na sala de espera do ortopedista. Agora, vamos às minhas considerações. Sei que tendemos a sempre julgar como melhor o livro mais recente. Mas este é, sem sombra de dúvida, um dos melhores livros de fantasia que li nos últimos anos. São inevitáveis as comparações a Tolkien. Pela grandiosidade da obra (em tamanho mesmo). Pelo uso das iniciais no nome (impossível não lembrar disso). Pela diversidade de personagens. Pela ambientação num mundo que parece mas não é o nosso. Pela presença dos mapas dos reinos e da genealogia detalhada dos personagens. Porém, no meu entender, as similaridades terminam aí. Não corroboro da opinião dos que consideram J.R.R.Martin como o Tolkien americano.

O texto de Tolkien é quase contemplativo, com extensas descrições e uma imensidão de detalhes que consegue imergir o leitor no ambiente. No entanto, é um estilo que chega a ser cansativo em alguns momentos, apesar de a trama ser fascinante. Em contrapartida, o texto de Martin é voltado ao movimento, às ações. É bastante perceptível a experiência do autor como roteirista. Basta assistir à série e ver que algumas cenas e diálogos foram transpostas ipsis literis do livro para a tela. A narrativa do livro é estruturada basicamente como um roteiro de filme. Situa-se a ação - quando e onde -, informa-se quem participa e segue-se a ação/diálogo em si. Lógico que nada tão sintético assim. Mas é como se fosse um roteiro escrito em prosa. E a escrita de Martin é muito fluida, conduzindo o leitor de conflito em conflito, raramente deixando cair o ritmo da narrativa.

Outra característica da obra, que a torna bastante interessante - eu, particularmente, gosto muito deste recurso - é a utilização de vários pontos de vista. Mesmo sendo narrada em 3a.pessoa, vemos a trama se desenrolar através dos olhos de personagens diferentes a cada capítulo. Não é como em “Rashomon”, de Kurosawa, em que cada personagem conta sua versão dos mesmos fatos. A cada capítulo, seguimos a estória pelo ponto de vista de personagens diferentes. Essa técnica, além de tornar a narrativa bastante dinâmica - já que a alternância de personagens nos faz querer continuar até que aquele personagem apareça novamente - permite ao leitor conhecer alguns deles com mais profundidade. Note-se que nem todos têm a honra de ser “o personagem da vez”. Neste volume, seguimos os passos de oito deles:
- alguns membros da família Stark: Eddard (Ned), Catelyn, Arya, Sansa, Bran e Jon Snow (filho bastardo de Ned)
- Daenerys Targaryen
- Tyrion Lannister (na minha opinião, o personagem mais interessante)

Mais um detalhe em que Martin difere de Tolkien: ninguém é 100% bandido ou mocinho. Quem parece ser bom pode ter um defeito, um pecado, um segredo macabro, ser capaz de em algum momento agir apenas em proveito próprio. Quem é mau pode ter uma qualidade, um dom, ser capaz de agir pelo bem alheio. Em Westeros, vale o mote: “Nunca diga nunca”. Enfim, os personagens são menos idílicos que os de Tolkien. Há violência, sexo, palavrões, assassinato, incesto. Não há floreios ou meias-palavras.

Além disso, a trama de Martin tem muito mais teor político do que a de "The lord of the rings". Há um enfoque maior nas intrigas da corte, na politicagem, na troca de favores, nas alianças, nos jogos de interesse. Não deixa de ser literatura fantástica, afinal, mesmo a trama sendo bastante realista, há dragões, bruxarias, deuses, fantasmas e o povo além da Muralha - que ainda nem sabemos quem ou o que são.

A única ressalva ao livro é a tradução, adaptada ao português brasileiro a partir da edição portuguesa. Nada que interfira demais, mas em alguns momentos certas expressões soam meio estranhas aos olhos do leitor. Parece que a editora deu ouvidos aos comentários dos leitores e dispensou uma atenção maior a esse detalhe nos volumes seguintes da coleção.

Minha fila de leitura continua tão grande que tão cedo não devo me aventurar a ler os demais. Principalmente, porque a série retorna, com a segunda temporada, no início do mês de abril.

Enfim, recomendo.
Quem curtir e tiver disponibilidade, pegue um final de semana chuvoso e leia quase tudo de uma “sentada” só. É diversão garantida.

P.S.: Sem ser ufanista... A capa da edição nacional dá de dez a zero na edição original (antes da exibição da série). Depois, utilizaram uma foto de Ned Stark, mas ainda assim prefiro a capa da edição brasileira.

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Drops » Sophie's choice

coded by ctellier | tags: , | Posted On terça-feira, 31 de janeiro de 2012 at 14:17

meteorologia: que verão é esse?
pecado da gula: pão na chapa com manteiga
teor alcoolico: nada ainda
audio: beatles
video: criminal minds

Sophie's choice (A escolha de Sofia)
Roteiro e direção de Alan J.Pakula

É curioso como alguns filmes ficam marcados na memória. Mais curioso ainda é que nem sempre a cena mais marcante é que fica guardada. Para mim, este filme é um exemplo clássico disso.

Assisti-o pela primeira vez quando ainda estava no colégio. Acho que o revi duas ou três vezes (incluindo esta última, no sábado). E, mesmo lembrando qual era o cerne da trama, o que eu me recordava do filme não era nenhuma das cenas-chave do roteiro. Não era a cena em que finalmente o espectador descobre qual foi a escolha de Sophie. Eu, na verdade, não me recordava de nenhuma cena especificamente, mas era vívido na minha memória o cenário em que se passa boa parte do filme, a casa de Yetta, onde moram Sophie, Nathan e Stingo. Aquela casa em estilo vitoriano pintada de cor-de-rosa de cima a baixo é simplesmente inesquecível.

Mesmo já sabendo o "segredo" da trama, o filme não perde sua força. Como eu não me recordava nem das circuntâncias em que Sofia conta a Stingo sua estória, nem da cena em que essa revelação é feita, foi quase como assistir ao filme pela primeira vez. Como não pretendo dar spoilers, segue um resumo bem enxuto: Stingo (Peter MacNicol em seu 2o. filme) é um escritor principiante, que se muda para um quarto na casa de Yetta. Ali, também mora o casal Sophie (Meryl Streep) e Nathan (Kevin Kline). Os três tornam-se amigos e, aos poucos, Sophia vai contando a Stingo sua estória e o que se passou em Auschwitz.

Outro detalhe que recordava muito bem era a atuação de Meryl Streep que, merecidamente, ganhou o Oscar de melhor atriz por esse papel. É impressionante o modo como mergulhou na personagem, a ponto de aprender a falar alemão, polonês e inglês com sotaque polonês.

Enfim, é um filme que vale ser visto - ou revisto.

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Drops » Incendies

coded by ctellier | tags: , | Posted On segunda-feira, 30 de janeiro de 2012 at 21:56

meteorologia: finalmente sol, mas kd o calor?
pecado da gula: misto quente
teor alcoolico: 2 smirnoff ice
audio: alternativando #153
video: damages

Incendies
Direção e roteiro Denis Villeuneuve

Não sabia da existência desse filme até ouvir o MasmorraCast #35, sobre os melhores filmes de 2011, comentados pela equipe do @Masmorra_Cast. Admito que a curiosidade em assistir foi mais pelo fato de o filme ser falado em francês (ao menos boa parte dele) do que pelo que foi comentado sobre ele no podcast. De qualquer modo, a indicação foi extremamente válida.

Assisti-o semana passada e, ao término, quase sem fôlego e sem palavras, fiz no getGlue um comentário curtíssimo, mas que resumia bem a minha experiência com o filme: "Intenso. Inesperado. Muito acima da expectativa."

Depois, ao pesquisar sobre o filme, descobri que tinha sido premiado em vários festivais de cinema e também indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Prêmios e indicação mais do que merecidos.

Nawal Marwan é uma imigrante libanesa no Canadá que, ao falecer, deixa aos filhos - um casal de gêmeos, Jeanne e Simon - instruções bem específicas sobre como quer ser enterrada e o que deve ser feito com duas cartas anexas ao testamento. Uma delas deve ser entregue ao pai deles (que julgavam morto) e a outra ao irmão (que nem sabiam da existência).

Confesso que, no início da estória, fiquei com a impressão de que seria apenas um filme "de busca", uma jornada a fim de conhecer e reencontrar o passado da mãe falecida. Um passeio pela paisagem do Líbano. Lêdo engano. A narrativa é instigante de um modo difícil de descrever. Mas quem assistir (ou já assistiu) vai entender a que estou me referindo. A força das imagens é quase opressiva em alguns momentos. E mesmo a ocorrência de algumas coincidências um pouco forçadas não consegue deixar a trama menos interessante.

"L'enfance est un couteau planté dans la gorge, on ne le retire pas facilement."
(frase do testamento de Nawal Marwan)

Para quem se interessou, resenha aqui (link temporário - em breve, no site do CineMasmorra).

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