Último trimestre

coded by ctellier | tags: | Posted On sábado, 16 de outubro de 2010 at 22:07

meteorologia: abafado demais
pecado da gula: pastel de feira + garapa
teor alcoolico: 2 stella artois (por enquanto)
audio: papo lendário #30
video: il buono, il brutto, il cattivo (aka Três homens em conflito)

Final do ano que chega. Supermercados já tomados por panetones. Horário de verão que se inicia (finalmente). Nesta época, nossa tendência é colocar o pé no freio, já em preparação para o mês de dezembro que costuma ser uma festa só.

Para quem corre, também costuma ser assim. A São Silvestre acaba sendo a melhor maneira que nós, corredores amadores, temos para comemorar o ano novo. Mas este ano vai ser diferente. A inclusão de uma prova longa em novembro deve ter mudado o cronograma de treinos de muitos que, como eu, consideram a meia maratona como a melhor distância a ser percorrida.

Aliás, neste fim de ano, tenho duas metas que me propus atingir e já estou treinando para isso.
Resumem-se basicamente em diminuir meu tempo de conclusão das duas distâncias que eu mais curto correr: 10km e 21km. São elas:
- completar uma meia maratona em 2 horas, ou menos
- completar uma prova de 10km em 50min, ou menos

As provas escolhidas foram, respectivamente, a última etapa do Circuito Athenas e a Samsung Corpore. E as escolhas não foram por acaso. Completei as duas outras provas do Circuito Athenas e não poderia deixar de fazer a última etapa, aproveitando para atingir nela um dos meus objetivos. Já a Samsung é especial por ter sido a primeira prova que corri, em 2007. E, apesar do percurso casca grossa, foi nele que fiz 10km em menos de 1 hora pela primeira vez, e é nele que eu espero bater meu recorde pessoal e completar a distância em 50min.

Além dessas duas, participação garantida em mais algumas corridas. Segue abaixo toda a lista:

  • 24/10 » Meia Maratona Sesc de Revezamento
  • 14/11 » Circuito Athenas - Etapa III - 21km
  • 21/11 » Samsung 10K Corpore SP Classic Zumbi dos Palmares
  • 05/12 » Série Delta - 3a. Etapa - 10km
  • 31/12 » São Silveste - 15km


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"Quer me fuder me beija, porra!"

coded by ctellier | tags: | Posted On quinta-feira, 14 de outubro de 2010 at 14:22

meteorologia: frio ainda
pecado da gula: um alfajor
teor alcoolico: 1 original, 2 doses de absolut
audio: radiofobia #40

Tropa de Elite 2, direção José Padilha

Depois de duas tentativas frustradas, devido a extensas filas, consegui assistir. Fui no feriado, na primeira sessão do cinema, 12:15. Já fiz isso em outras ocasiões e, em geral, além de mim só havia mais 9-10 gatos pingados. Desta vez, mais de 50% da sala estava ocupada. Incomum, tratando-se de um filme nacional. Aliás, desta feita, a lotação devia-se justamente ao fato de ser um filme nacional. Sequência do filme nacional de melhor bilheteria dos últimos anos. Visto por esse lado, é gratificante presenciar o público valorizando um produto legitimamente brasileiro.

Aliás, a continuação provavelmente só foi possível devido ao sucesso estrondoso do primeiro filme, que foi um fenômeno de bilheteria apesar de ter “vazado” semanas antes da estréia. Muitas pessoas, eu inclusive, compraram o dvd pirata, assistiram em casa e depois foram ao cinema. Não só para rever o filme - divulgou-se que a versão vazada não era a final - mas também para prestigiar a produção. “O filme é muito bom e eu faço questão de pagar para assistir no cinema.” Foi basicamente o que ouvi da maioria das pessoas. E a propaganda boca a boca foi ferramenta essencial na divulgação. Feito uma onda, os comentários sobre o filme invadiram todas as rodas, do boteco às baladas de luxo, da periferia às mansões. Foi literamente um “boom”. um fenômeno de mídia.

Devido a esse sucesso, a expectativa com o lançamento da sequência era grande, muito grande. Talvez por isso.. não, certamente por isso muita gente saiu um pouco decepcionada do cinema. Boa parte das pessoas esperava mais um filme “porrada e sangue no zóio”, assim como o primeiro. E não é exatamente isso. Os palavrões, os jargões que caem imediatamente no gosto popular, a presença marcante e engraçada de Milhem Cortaz. Está tudo ali. Porrada? Tiro? tem também. Violência? Sangue? Tem também. Mas não nas mesmas proporções e tudo com um enfoque bastante diferente. Enquanto o primeiro questionava a postura da sociedade frente à criminalidade e o modo que deveria ser combatida, o segundo tem uma perspectiva bem mais ampla, questiona todo o sistema, toda a politicagem envolvida em manter essas engrenagens rodando. Mas nem por isso deixa de ser “pé na porta, tapa na cara, soco no estômago”, como tuitei quando a sessão terminou. Enquanto o primeiro dissecava as entranhas de uma corporação policial, o segundo vai além e aborda a promiscuidade do sistema, do “relacionamento” da máquina do Estado com o crime organizado. Um é filme policial, o outro é crítica social. O que foi visto no primeiro, é contextualizado no segundo.

Destaque para o elenco, numa escalação primorosa, desde os atores que repetem os papéis do primeiro filme até os “novatos”. Wagner Moura numa performance que pode ser descrita no mínimo como brilhante. Uma aula de interpretação. Aproveitando a deixa, devo admitir que a narração em off feita pelo seu personagem me incomodou um pouco. Não que eu ache que não deveria ter sido feita, sendo um recurso narrativo que se mostrou bastante eficiente no primeiro filme, mas creio que nesse segundo foi excessiva. Em certos momentos, didática demais, quase explicando ao público o que estava ocorrendo na tela. Over. Talvez tenha sido proposital, a fim de guiar o público. Mas me deixou incomodada como um vício de linguagem.

Talvez a melhor ironia do filme seja o letreiro inicial, informando que os fatos são fictícios, apesar da semelhança com a realidade. Indubitavelmente, é um espetáculo cinematográfico. Mas certamente seu maior mérito não é esse, é ser uma análise bastante ácida sobre o momento atual do nosso país.
Vale a pena. Eu recomendo.

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Construção

coded by ctellier | tags: | Posted On segunda-feira, 11 de outubro de 2010 at 21:19

meteorologia: que friooooooo
pecado da gula: spaghetti com molho branco
teor alcoolico: 1 smirnoff ice, 1 stella artois
audio: rapaduracast #204

É, na minha opinião, uma das melhores letras de Chico Buarque. Não só pelo seu conteúdo, sempre contrapondo o material e o humano, o real e o irreal. Mas também pela métrica dos versos, sempre terminados em proparoxítonas trissílabas, recurso que reforça o tema da música, a repetição metódica e cíclica dos movimentos de uma construção. Genial.



Construção (Chico Buarque)

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago

Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado

Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague

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