Carnage

coded by ctellier | tags: | Posted On quarta-feira, 5 de junho de 2013 at 08:56

meteorologia: frioooo...
pecado da gula: pão de queijo
teor alcoolico: nada ainda
audio: depeche mode
video: whitechapel

Carnage (2011) - Deus da carnificina
roteiro: Yasmina Reza
direção: Roman Polanski
★ ★ ★ ★

(resenha publicada originalmente no Vórtex Cultural, em 29/05/2013)

Dois casais, Penelope e Michael Longstreet (Jodie Foster e John C. Reilly) e Nancy e Alan Cowan (Kate Winslet e Christoph Waltz) encontram-se no apartamento dos Longstreet para conversar a respeito de uma briga em que os respectivos filhos se envolveram. E o encontro, comprovando o princípio entrópico, avança e degenera rumo ao caos, transformando-se na carnificina do título.

A exemplo de Who's Afraid of Virginia Woolf?, o filme é adaptado de uma peça de teatro em que dois casais estão confinados num único ambiente - casa ou apartamento. Contudo, diferente deste, em que os recém-casados Nick e Honey (George Segal e Sandy Dennis) presenciam a lavação de roupa suja do casal “mais veterano”, Martha e George (Elizabeth Taylor e Richard Burton); em Deus da carnificina, os casais parecem ter mais ou menos o mesmo tempo de vida em comum e as batalhas verbais ocorrem entre todos. Mas mesmo assim, é difícil não traçar um paralelo, já que em ambos os casais usam o conhecimento advindo da intimidade para que suas palavras causem o maior dano possível. A ironia, o sarcasmo, a acidez de algumas falas revelam que cada um conhece o ponto fraco do outro e mira ali propositalmente. Contudo, o diferencial do filme de Polanski é que as discussões vão além do relacionamento entre os casais - por exemplo, o capitalismo despudorado de Alan versus o idealismo esquerdista de Penelope.

O fato de ser uma adaptação de uma peça poderia se tornar um complicômetro. Porém, o diretor soube usar a técnica cinematográfica a seu favor, fazendo algo que no teatro não seria possível e assim direciona o olhar do espectador a seu bel-prazer. Os atores surgem em planos e contraplanos, aos pares, trio, quarteto, acompanhando, como num passo de dança, a intensidade dos diálogos. E, assim como Lumet em 12 angry men (também baseado numa peça), Polanski usa a câmera para controlar o ponto de vista do público e intensificar sua reação ao que acontece em cena. É interessante notar que o confinamento dos casais nesse ambiente deve-se totalmente ao acaso - o café oferecido na hora de ir embora, o sinal do celular que falha a caminho do elevador, entre outros pequenos eventos que fazem o casal Cowan sempre voltar ao interior do apartamento.

E já que o desfecho não é inesperado, sabe-se desde o trailer para onde se encaminha a trama, o interessante é acompanhar como isso acontece. Ver a evolução dos personagens. A civilidade e as convenções sociais sendo deixadas de lado. A polidez dando lugar à sinceridade extrema. As máscaras caindo à medida que os ataques verbais se sucedem. Situações triviais deflagrando reações desmedidades e aparentemente irracionais. A conversa, que se inicia de forma trivial, evolui de tal forma que deixa o ambiente tenso. Comentários normalmente inofensivos tornam-se o estopim para uma saraivada de reclamações e observações sarcásticas. E as protagonistas das discussões vão se alternando - casal versus casal ou um contra um em todas as combinações possíveis.

A tensão que se instaura desde o início gera até uma reação física em Nancy. É estranho lembrar-se de um filme e referenciar-se a ele por causa de uma cena de vômito. Mas a cena foi tão bem feita e encenada, tão verossímil - tem-se a impressão de sentir aquele odor acre característico - que fica difícil não citá-la. Principalmente por que é a partir daí que a situação degringola. Se o espectador fica ao mesmo tempo surpreso e chocado com a cena, o mesmo ocorre com os personagens. O vômito parece servir de gatilho para os bons modos serem abandonados enquanto todos se sentem no direito de, a partir desse momento, expressar livremente seus pensamentos.

Kate Winslet está perfeita nesta cena. Mas não apenas nesta, destaque também para o declínio do seu grau de sobriedade após alguns goles de um ótimo scotch. Aliás, todo o elenco está acima da média. Mesmo não tendo mais nada a provar, há tempos não se via Jodie Foster tão bem num papel. Numa obra em que a trama é calcada em personagens e diálogos, a excelência das atuações é algo essencial e que garante a fluidez da narrativa. O espectador consegue acompanhar, em closes e planos-detalhe, os gestos, maneirismos, micro-expressões de cada um dos atores, nuances dos personagens que seriam impossíveis de observar num teatro.

Não é o melhor filme de Polanski. Mas mesmo um filme menor do diretor consegue conceder ao espectador uma experiência cinematográfica gratificante, mesmo que incômoda. Afinal, enxergar-se nas atitudes dos personagens não é nada agradável.



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Drops » Whitechapel

coded by ctellier | tags: , , , | Posted On terça-feira, 4 de junho de 2013 at 13:42

meteorologia: ensolarado, mas frio :-(
pecado da gula: queijo quente, com muuuuito queijo
teor alcoolico: nada ainda
audio: queen
video: friends

Whitechapel (2010)
★ ★ ★ ★ ★

Série britânica com apenas três episódios por temporada. Seguindo a máxima "menos é mais", as séries britânicas costumam ser bem produzidas e ter bons roteiros. E esta não decepcionou. Assisti em dois dias às duas temporadas disponíveis no Netflix.

A premissa é bem interessante: um copy-cat de Jack, o Estripador começa a agir na cidade, ao mesmo tempo em que um “almofadinha” carreirista e portador de TOC assume a inspetoria responsável pela investigação do caso. Este é o mote da primeira temporada.

Na segunda, o alvo da imitação são gângsters, os irmãos Kray. Talvez por não serem conhecidos fora da Inglaterra - eu, ao menos, nunca tinha ouvido falar deles - a temporada não tenha sido tão interessante no quesito investigativo. Mas o desenvolvimento dos personagens compensou bastante.

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