Livros, livros e mais livros

coded by ctellier | tags: , | Posted On domingo, 13 de novembro de 2011 at 11:19

meteorologia: nublado, mas agradável
pecado da gula: chocotone
teor alcoolico: nada ainda
audio: na calçada #56
video: fringe

Conversando outro dia sobre literatura infanto-juvenil, veio-me a ideia de escrever sobre umas das coleções que marcou minha infância e adolescência: "O sítio do picapau amarelo". Qualquer pessoa com mais de 30 anos, deve se lembrar da primeira adaptação da obra feita para a TV. E eu ainda acho que foi a melhor de todas.

Os livros de Monteiro Lobato foram alguns dos primeiros que li depois de ser oficialmente alfabetizada. E, na minha opinião, essa ideia de vetar seus livros em escolas públicas é mostra de total ignorância de quem a defende. Além, obviamente de configurar-se como uma censura.

Qualquer obra deve ser analisada no contexto temporal e ambiental em que foi gerada. E não há sombra de dúvida que o vocabulário utilizado por Lobato reflete o linguajar da época. Da época em que o livro foi escrito e da época em que se passa a narrativa. E, certamente, no início do século passado era usual que se chamassem os negros de - pasmem - "negros". Nada mais natural que o autor transpusesse a fala das ruas para os textos. Sinceramente, acredito que não houvesse preconceito algum ali.

“Não é à toa que os macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens”.

E o trecho acima, parece mesmo preconceituoso? Se sim, afinal, o preconceito é contra quem? Homens ou macacos? O preconceito está na mente tacanha e medíocre de algumas pessoas, em algumas minorias, que se sentem ofendidas por um autor talentoso fazer seu trabalho da forma que esperamos que seja feita. Ou alguém duvida que a intenção é sempre deixar a estória o mais verossímil possível, apesar dos aspectos fantasiosos nela contidos? Acho um perigo esse conceito de “politicamente correto”, tão em moda atualmente. Infelizmente, parece que o intuito inicial de evitar o preconceito, acabou degringolando para uma censura velada.


Escrever realmente abre a mente. Ler também. Mas agora, neste momento em que redijo o post, refiro-me especificamente à escrita pois, enquanto escrevia o parágrafo anterior, fiz uma correlação em que ainda não tinha pensado.

Li, há algumas semanas, “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury. O livro enfoca um futuro distópico em que os livros são proibidos por conterem mensagens inúteis. O protagonista é Guy Montag, um bombeiro. E, nesse futuro, os bombeiros são os responsáveis por incendiar os livros confiscados. Em certo ponto da narrativa, o chefe de Montag conta-lhe como tudo começou. Por que os livros passaram a ser proibidos e queimados. E iniciou-se exatamente com uma ideia como a que discutia acima. As minorias começaram a querer suprimir textos que supostamente as ofendiam, que lhes eram desfavoráveis. Negros reclamando de textos racistas, judeus reclamando de textos anti-semitas, homossexuais reclamando de textos homofóbicos. Cada melindre resultando na supressão de várias obras.

Pensando nisso agora, a realidade ali descrita já não parece tão improvável ou fantasiosa. E isso é muito, muito assustador. Será que estamos nos encaminhando para um futuro nesses moldes?


(A intenção inicial do post era comentar sobre "O sítio do picapau amarelo" e listar meus dez prediletos. Mas fica para o próximo.)



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