Profeta

coded by ctellier | tags: , | Posted On sábado, 8 de janeiro de 2011 at 19:59

meteorologia: e a chuva não pára
pecado da gula: pão de queijo
teor alcoolico: 2 smirnoff ice, 1 murphy's irish red
audio: rapaduracast #216
video: doubt

(texto escrito em 23/05/2010)

"O que você faria se tivesse um vislumbre de algum momento de seu futuro?"
É o que pergunta um dos personagens de Flash Forward. É o que me perguntei enquanto assistia ao primeiro episódio da série. Como se já não bastasse a eterna discussão sobre livre-arbítrio em Lost (vide o episódio Ab Aeterno), Flash Forward coloca mais um caixote de lenha nessa eterna discussão. Não importando o futuro da série (acho que não volta), o questionamento é válido. É um mote de roteiro excelente, independente da mídia, seja literatura, teatro, cinema e, em tempos de web 2.0, blogs e afins.

O que faríamos se cada um de nós se transformasse num profeta? Se determinado momento do futuro deixasse de ser mistério? Se soubéssemos exatamente onde e o que estaríamos fazendo daqui 6 meses?

Acredito que as reações seriam basicamente três, com nuances entre elas:
  1. Aceitar a visão e passar a agir de modo evitá-la. 
  2. Aceitar a visão, tirar proveito dela e agir de modo a confirmá-la. 
  3. Ignorar, ou ao menos não levar a sério a visão e não fazer nada nem contra nem a favor.
Creio que os menos crédulos, ou os mais os céticos (incluo-me nessa categoria), seguiriam na linha da terceira opção. Possivelmente aventando a hipótese de que tudo não tenha passado de uma descarga elétrica no cérebro e que as imagens da visão seriam tão "reais" quanto as dos sonhos. Os mais crédulos, dividiriam-se entre as duas primeiras, dependendo do teor da visão. Possivelmente nos casos em que o que foi revelado não foi algo agradável, o mais provável seria adotar a primeira opção. Os demais, se encaixariam na segunda.

Mas faria realmente diferença? Eu gostaria de ter certeza que sim. Mas infelizmente tenho minhas dúvidas. Se o futuro já está escrito, como as leis da relatividade afirmam que está, então não importa como procedemos. Os que tentarem evitar que a visão se confirme, possivelmente acabarão tomando atitudes que levarão à sua ocorrência. (Assim como em Lost, a tentativa de evitar o "acidente" provavelmente foi a causa do mesmo).

E os céticos? Sua dúvida quanto à veracidade da visão é bastante válida. Não há garantia de que realmente seja o futuro - apesar de que na série, a visão de uns confirme a de outros. Mas sua reação, ou melhor, a ausência de uma reação apenas corrobora a tese da inexistência do livre-arbítrio (assumindo que a relatividade de Einstein esteja correta). Tomar qualquer atitude é totalmente desnecessário, já que tudo o que aconteceu e irá acontecer já estava definido desde o início do espaço/tempo.

Gosto de achar que "decidimos" ao menos nossos pequenos atos. Comer batata ou arroz? Vestir preto ou branco? Beber água ou suco? Pensando assim, o que ocorreria no dia-a-dia após a visão? Como seria afetado? Na série, várias visões causam questionamentos interessantes. Uma mulher casada, vê-se na sua casa com outro homem que ela desconhece. Qual sua reação ao conhecê-lo casualmente? Seu marido, "limpo" há meses, sem ingerir álcool, vê-se tentando resolver o mistério do desmaio coletivo enquanto toma uns goles de uísque. O que fará daqui em diante? Continuar evitando bebidas alcoólicas ou desistir disso, já que num futuro próximo ele estará bebendo novamente? Um médico, prestes a se suicidar, muda totalmente após a visão, apesar de não revelar o que viu parece voltar a encarar a medicina como uma missão, quase um sacerdócio. O que viu para torná-lo diferente de um momento a outro?

Acho que prefiro continuar sem saber o que me espera. Mesmo que possivelmente o caminho já esteja traçado. Receio que conhecer o porvir nos aprisione, restringindo nossas "pequenas escolhas". Se não tivermos isso, o que nos resta?

  • Um parênteses... No momento em que o personagem proferiu a questão, veio-me à mente o tema de abertura de uma novela dos anos 90, "O fim do mundo", Paulinho Moska cantando "O último dia". (Que fique claro que eu não assistia, mas minha mãe e minha avó, sim; ouvia a música todos os dias e achava a letra muito boa - ainda acho). A letra da música começa exatamente assim: "Meu amor, o que você faria... ". Provavelmente por isso, lembrei dela instantaneamente.
    Apesar da aparente ausência de conexão entre as duas questões, elas estão, sim, relacionadas. Na série, inclusive. Toda a população perde a consciência durante 2min17s e, nesse intervalo, tem um vislumbre do futuro seis meses adiante. No entanto, algumas pessoas não visualizaram nada. E em dado momento, uma delas se questiona, "Se não vi nada, quer dizer que não estarei vivo daqui 6 meses?". Isso se confirma e o questionamento passa a ser "Hoje será meu último dia?". E se fosse, o que você faria? Bom, isso fica para outro post.

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